JOAQUIM
DA
COSTA
CASCAES
CASCAIS
A
Inauguração
da
Estatua
Estátua
Equestre
Comedia
Comédia
Original
Portugueza
Portuguesa
em
5
actos
atos
LISBOA
A
LIBERAL
—
OFFICINA
OFICINA
TYPOGRAPHICA
TIPOGRÁFICA
216
Duzentos e dezesseis
—
Rua
de
S.
São
Paulo
—
216
duzentos e dezesseis
1899
Pessoas
MARQUEZ
MARQUÊS
DE
POMBAL
.
BARTHOLOMEU
DA
COSTA
.
JOAQUIM
MACHADO
DE
CASTRO
.
JUIZ
DO
POVO
.
JOÃO
BAPTISTA
PELLE
(
Genovez
genovês
genovez
)
.
O
NETO
.
BENEFICIADO
FONSECA
.
POETA
,
ANTONIO
LOBO
DE
CARVALHO
.
ALFERES
DOS
VOLUNTARIOS
VOLUNTÁRIOS
REAES
REAIS
.
ENSAIADOR
DAS
DANÇAS
.
O
BOTEQUINEIRO
CASACA
.
PACHORRA
.
CHICO
.
D.
DOM
BRAZ
VIEGAS
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
,
sua
sobrinha
.
HONORATA
,
criada
de
D.
Dom
Braz
.
MARANHÔA
MARANHOA
,
collareja
colareja
da
Praça
de
Figueira
.
CASIMIRA
,
sua
filha
.
BRITES
,
collareja
colareja
visinha
vizinha
de
Maranhôa
Maranhoa
.
UM
SARGENTO
.
DOIS
PRETOS
.
DOIS
SOLDADOS
.
TEJO
.
LYSIA
.
Varias
Várias
figuras
allegoricas
alegóricas
de
cidades
,
rios
,
etc
.
Fidalgos
,
Generaes
Generais
,
Junta
do
Commercio
Comércio
e
Casa
dos
Vinte
e
Quatro
.
Tropa
de
infanteria
e
cavallaria
cavalaria
.
Operarios
Operários
da
Fundição
.
Povo
.
Comparsas
em
caracter
caráter
.
Figuras
allegoricas
alegóricas
.
COROS
I
–
Hymno
Hino
marcial
,
cantado
pelo
povo
,
na
conducção
condução
da
Estatua
Estátua
.
II
–
Côro
Coro
de
comparsas
e
dançarinas
,
que
acompanham
o
carro
da
America
América
.
III
–
Côro
Coro
de
comparsas
das
que
acompanham
o
carro
da
Europa
.
IV
–
Canção
de
Lysia
.
Danças
das
Collarejas
Colarejas
,
das
Curraleiras
e
das
Hortelôas
Horteloas
.
Lisboa
—
1775
mil setecentos e setenta e cinco
.
Os
figurinos
de
que
se
falla
fala
na
comedia
comédia
,
tem-os
a
familia
família
do
auctor
autor
em
collecção
coleção
para
ser
apresentada
quando
assim
convenha
.
ACTO
ATO
PRIMEIRO
Sala
,
em
casa
de
D.
Dom
Braz
Viegas
.
Portas
ao
fundo
,
janella
janela
lateral
esquerda
e
porta
fronteira
.
A’
À
direita
,
num
cravo
,
e
sobre
este
papeis
papéis
de
solfa
e
um
machete
.
Banca
á
à
esquerda
,
com
jogo
de
gamão
sobre
ella
ela
.
Tamboretes
e
cadeiras
de
braços
,
todas
fabricadas
de
canna
cana
da
India
Índia
.
SCENA
CENA
I
HONORATA
e
logo
MARANHÔA
MARANHOA
e
CASIMIRA
(
Um
momento
sem
gente
.
Ouve-se
tocar
a
campainha
campainha
.
.
)
HONORATA
(
Sahindo
Saindo
da
porta
lateral
e
indo
á
à
do
fundo
.
)
Quem
é
?
MARANHÔA
MARANHOA
(
Dentro
)
Uma
sua
criada
.
HONORATA
(
Abre
)
Olha
quem
é
.
...
!
...
Então
como
está
,
como
está
?
E
a
sua
Casimira
?
MARANHÔA
MARANHOA
Quando
mal
nunca
maleitas
,
como
lá
dizem
.
A
sr.ª
senhora
Honorata
,
de
saude
saúde
,
ao
que
parece
.
E
a
comadre
?
E
o
sr.
senhor
D.
Dom
Braz
?
HONORATA
Todos
bons
,
louvado
Deus
.8
MARANHÔA
MARANHOA
Louvado
elle
ele
seja
.
Ora
estimo
,
estimo
.
HONORATA
Eu
,
como
velha
;
mas
ainda
assim
,
melhor
do
que
o
merecemos
ao
céu
.
Então
,
sentem-se
,
que
eu
vou
chamar
a
menina
.
(
Chama
para
dentro
)
O’
Ó
menina
,
cá
está
a
comadre
e
mais
a
afilhadinha
.
SCENA
CENA
II
AS
PRECEDENTES
e
MARIASINHA
MARIAZINHA
MARIASINHA
MARIAZINHA
Muito
bem
apparecidas
aparecidas
!
Então
como
teem
têm
passado
?
MARANHÔA
MARANHOA
Vamos
vivendo
.
A
comadre
,
cada
vez
mais
perfeita
,
benza-a
Deus
!
(
Mirando-a
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
para
Casimira
)
Como
está
crescida
!
MARANHÔA
MARANHOA
Vamos
,
peça
a
bençoa
á
à
madrinha
.
CASIMIRA
,
(
fazendo
mesura
tòsca
tosca
,
e
beijando
a
mão
a
Mariasinha
)
Sua
bençoa
.
MARANHÔA
MARANHOA
Não
repare
,
comadre
,
que
a
pequena
é
um
tanto
acanhada
,
diante
de
senhoras
.9
MARIASINHA
MARIAZINHA
E
como
vem
sécia
!
Josésinho
Josezinho
novo
...
MARANHÔA
MARANHOA
Vira-te
detraz
detrás
.
Fez-se
por
outro
d’uma
duma
d’
uma
fregueza
freguesa
minha
,
que
veste
muito
á
à
moda
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Bem
se
vê
.
(
Sorrindo
)
MARANHÔA
MARANHOA
Pelos
modos
,
assim
conchegadinho
aconchegadinho
,
é
agora
o
chéfre
chéfre
?
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
É
.
Por
isso
lhe
chamam
:
Chega-te
a
mim
mim
.
.
MARANHÔA
MARANHOA
Os
Josésinhos
josezinhos
josésinhos
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
Sim
.
MARANHÔA
MARANHOA
Invenções
!
(
A’
À
rapariga
,
que
se
tem
conservado
de
costas
voltadas
.
)
Volta-te
,
rapariga
.
Pareces
um
frade
de
pedra
.
CASIMIRA
Aqui
estou
.
(
Volta-se
)
MARANHÔA
MARANHOA
(
Baixo
a
Casimira
)
E
a
mesura
?
CASIMIRA
(
Faz
mesura
)
Desengonço-me
.10
MARIASINHA
MARIAZINHA
E’
É
interessante
a
minha
afilhada
.
(
Sorri
)
MARANHÔA
MARANHOA
Isto
não
é
nada
,
comadre
.
Se
a
visse
no
logar
lugar
...
Dá
sota
e
az
aos
freguezes
fregueses
.
E
o
geito
jeito
que
ella
ela
tem
para
o
negocio
negócio
!
...
!
...
Que
a
fructa
fruta
seja
sã
ou
pôdre
podre
,
na
mão
d’ella
dela
della
sempre
tem
sahida
saída
.
Comigo
,
escolhem
,
regateiam
,
engeitam
enjeitam
;
mas
com
ella
ela
?
vão
Vão
para
lá
,
que
está
quente
.
CASIMIRA
E
olhe
madrinha
,
aos
homens
dou-lhe
sempre
o
peor
pior
e
pagam
mais
caro
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Sim
?
?
!
!
CASIMIRA
N’outro
Noutro
N’
outro
dia
,
um
,
quando
eu
lhe
estava
a
contar
tres
três
centos
de
laranja
,
deu-me
um
beijo
na
mão
.
HONORATA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Crédo
Credo
!
CASIMIRA
E
vae
vai
que
fiz
?
Levou
um
quarteirão
de
menos
.
Olé
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
E
fazes
isso
a
todos
?
CASIMIRA
A
todos
!
Espera
que
já
foi
.
MARANHÔA
MARANHOA
E’
É
só
aos
freguezes
fregueses
ricos
,
ou
a
algum
d’esses
desses
faceiras
de
ruim
figura
,
que
se
faz
atrevido
.
Lá
aos
próves
proves
,
nem
uma
castanha
,
comadre
.11
HONORATA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Lá
o
lêem
leem
,
lá
o
entendem
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
E
então
nós
,
somos
dos
ricos
ou
dos
pobres
?
MARANHÔA
MARANHOA
A
comadre
é
outra
coisa
.
Póde-se
Pode-se
dizer
que
é
de
casa
.
Vende-se-lhe
tudo
só
pelo
custo
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Com
effeito
efeito
?
CASIMIRA
E’
É
a
madrinha
e
o
sr.
senhor
Juiz
do
Povo
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Nós
e
o
sr.
senhor
Juiz
do
Povo
...
Muito
bem
.
MARANHÔA
MARANHOA
Por
causa
d’elle
dele
delle
é
que
nós
viemos
ter
co’a
com a
co’ a
co’
a
comadre
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Deveras
?
MARANHÔA
MARANHOA
E’
É
verdade
.
Elle
Ele
é
que
metteu
meteu
em
cabeça
á
à
minha
Casimira
,
que
fosse
uma
das
do
rancho
das
collarejas
colarejas
,
que
vão
dançar
á
à
festa
da
Mimoira
Mimóira
.
De
sorte
que
nós
somos-lhe
muito
obrigadas
.
E
depois
,
só
para
fazer
rabiar
e
metter
meter
figas
ao
maldito
do
Neto
,
que
não
queria
que
a
Casimira
fosse
...
Emfim
Enfim
,
dei
licença
,
—
já
se
sabe
,
contando
com
as
mãos
de
prata
da
minha
comadre
,
e
com
o
amor
que
tem
á
à
afilhada
.
Lá
para
vêr
ver
a
rapariga
mal
amanhada
,
e
feita
figura
de
presepio
presépio
,
isso
não
.12
MARIASINHA
MARIAZINHA
Com
muito
gosto
.
Farei
o
que
souber
.
Mas
diga
,
comadre
,
que
ranchos
são
esses
?
E
que
danças
?
?
!
!
Cuidei
que
as
festas
eram
pouca
coisa
:
foguetes
,
luminarias
luminárias
,
alguma
preta
vendendo
milho
rico
...
MARANHÔA
MARANHOA
Pois
deveras
a
comadre
não
sabe
nada
?
?
!
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
Não
sei
.
MARANHÔA
MARANHOA
Zomba
!
...
!
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Quem
queria
que
m’o
mo
contasse
?
O
tio
só
me
falla
fala
nos
padres
da
Companhia
,
que
,
diz
elle
ele
,
todos
eram
uns
santinhos
,
o
que
duvido
...
HONORATA
Não
duvide
,
menina
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Duvido
,
sim
.
Muita
gente
junta
não
se
salva
,
quanto
mais
ser
santa
!
Os
amigos
do
tio
,
esses
jogam
o
gamão
,
conversam
...
conversas
de
homens
,
em
que
não
entro
.
Vem
aqui
um
mulato
ensinar-me
a
cantar
...
esse
Esse
aborrece
vêl-o
vê-lo
,
quanto
mais
fallar
falar
com
elle
ele
.
Só
,
converso
com
a
minha
Honorata
,
que
sabe
tanto
do
que
se
passa
como
eu
.
Assim
...
MARANHÔA
MARANHOA
Pois
saiba
,
comadre
,
que
vae
vai
o
mundo
por
essa
Lisboa
!
Tudo
são
preparos
...
as
As
fabricas
fábricas
não
descançam
descansam
,
as
lojas
vendem
como
nunca
...
Olhe
,
comadre
,
são
festas
festas
,
,13
como
diz
lá
um
freguez
freguês
,
que
entende
da
póda
poda
,
que
até
os
própios
mouros
,
se
as
vissem
,
se
fariam
christãos
cristãos
,
e
comeriam
toucinho
!
...
!
...
E’
É
coisa
em
que
o
sr.
senhor
Marquez
Marquês
está
mettido
metido
de
pés
e
cabeça
,
e
está
dito
tudo
.
Estão-se
calçando
as
ruas
por
onde
ha-de
há-de
passar
a
Mimóira
,
e
fizeram
uma
rua
nova
,
á
à
ilharga
da
Fundição
...
E
com
que
segurança
que
tudo
vae
vai
feito
!
Tamem
Tamém
não
admira
,
se
só
o
cavallo
cavalo
diz
que
não
cabe
n’esta
nesta
casa
!
E
então
de
metal
mocisso
mociço
...
faça-me
Faça-me
o
favor
!
Capaz
será
elle
ele
de
deitar
casas
abaixo
,
só
com
o
andar
!
...
!
...
Mas
não
tem
duvida
dúvida
,
o
sr.
senhor
marquez
marquês
acode
a
tudo
.
Olha
quem
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Ha-de
Há-de
ter
que
vêr
ver
.
HONORATA
Uma
coisa
assim
!
MARANHÔA
MARANHOA
O
que
digo
não
é
da
missa
amétade
a métade
a metade
a
métade
.
Queria
que
estivessem
uma
hora
no
logar
lugar
,
a
ouvir
os
freguezes
fregueses
.
Um
diz
que
a
Mimóira
vem
a
pezar
pesar
mais
que
as
torres
da
Sé
!
Outro
,
que
as
luminairas
andem
ser
mais
bastas
que
as
estrellas
estrelas
do
céu
...
Não
se
falla
fala
n’outra
noutra
n’
outra
coisa
.
Ha
Há
obras
por
toda
a
parte
.
Pedreiros
,
carapinteiros
,
doiradores
...
tudo
,
tudo
trabalha
!
Gastam-se
rios
de
dinheiro
,
e
para
tudo
chega
!
Até
o
Casaca
,
um
compadre
do
sr.
senhor
Marquez
Marquês
,
está
preparando
uma
loja
de
bobidas
,
toda
ella
ela
forrada
de
espelhos
e
oiro
!
para
Para
se
abrir
no
dia
da
festa
,
que
,
pelos
modos
,
será
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Quando
?
MARANHÔA
MARANHOA
No
dia
dos
annos
anos
d’El-Rei
...
Nunca
se
viu
,
comadre
,
uma
coisa
assim
,
nunca
se
viu
.
Pois
,
banquetes
!
...14
!
...
O
Senado
,
á
à
sua
parte
,
diz
que
dá
uma
cêa
ceia
,
que
só
de
fructas
frutas
,
já
encommendadas
encomendadas
,
não
o
faz
com
o
melhor
de
quatrocentos
mal
réis
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Inda
assim
!
...
!
...
HONORATA
E’
É
muito
!
MARANHÔA
MARANHOA
Para
tudo
ser
,
até
na
Casa
da
India
Índia
se
está
armando
um
tanque
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Que
diz
!?
! ?
!
?
MARANHÔA
MARANHOA
Um
tanque
,
sim
,
senhora
,
para
andarem
barcos
.
Se
lhe
digo
que
tudo
isto
não
é
nada
.
E
os
carros
trumfantes
trumfantes
?
trunfantes
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Sempre
com
interesse
)
Tambem
Também
?!
? !
?
!
MARANHÔA
MARANHOA
Estes
agora
são
por
conta
da
Casa
dos
Vintaquatro
.
Foi
lembrança
do
sr.
senhor
Juiz
do
Povo
,
disse-m’o
disse-mo
elle
ele
.
Como
o
sr.
senhor
Marquez
Marquês
leva
a
funcção
função
muito
em
gosto
,
todos
fazem
o
que
podem
por
lhe
agradar
.
Ora
então
,
os
carros
diz
que
sahem
saem
do
Passeio
Publico
Público
,
direitos
pela
rua
Agusta
ao
Terreiro
do
Paço
,
e
atraz
atrás
d’elles
deles
delles
é
que
vão
os
ranchos
.
Um
é
o
das
Curraleiras
,
do
Campo
de
Sant’Anna
Santana
;
ha
há
o
das
da
Ribeira
do
Peixe
,
o
das
Horteleôas
Horteleoas
,
e
o
nosso
.
Tudo
,
já
se
sabe
,
vestido
com
muita
riqueza
.
As
collarejas
colarejas
levam
...
O’
Ó
Casimira
,
o
que
levam
as
collarejas
colarejas
?
CASIMIRA
(
Rapidamente
)
Saia
azul
e
roupinhas
côr
cor
de
rosa
,
tudo
bordado
de
prata
;
coifa
azul
,
tambem
também
bordada
,
e
um
arco
de
flôres
flores
na
mão
.15
MARIASINHA
MARIAZINHA
Deve
ser
bonito
.
HONORATA
Branco
e
azul
...
MARANHÔA
MARANHOA
Isso
mesmo
.
Ora
agora
,
vim
ter
com
a
comadre
para
que
talhasse
a
saia
,
as
roupinhas
...
fizesse
as
flôres
flores
...
emfim
enfim
,
para
que
enfeitasse
a
afilhada
por
suas
mãos
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Pois
sim
,
sim
.
Traga
as
fazendas
,
e
o
mais
não
lhe
dê
cuidado
.
Descance
Descanse
,
que
a
hei-de
pôr
um
palmito
.
MARANHÔA
MARANHOA
Canté
,
isso
sei
eu
.
Mau
foi
dizel-o
dize-lo
dizê-lo
.
Agradecida
,
comadre
,
muito
agradecida
.
(
Beija-lhe
as
mãos
)
Abençoadas
mãosinhas
mãozinhas
!
Adeus
,
comadre
,
vou
para
o
logar
lugar
,
que
ficou
só
.
(
Para
Casimira
)
Dize-á
Dize à
Dize á
Dize
á
madrinha
que
bem
haja
,
e
despede-te
d’ella
dela
della
.
Anda
.
CASIMIRA
Sua
bençoa
.
Sua
mercê
muitos
annos
anos
,
por
tanto
incommado
incômado
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Incommodo
Incômodo
...
MARANHÔA
MARANHOA
Decerto
.
As
fazendas
não
é
preciso
que
venham
hoje
?...
? ...
?
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Basta
ámanhã
amanhã
.
MARANHÔA
MARANHOA
Bom
,
bom
.
Viva
,
senhora
.16
HONORATA
(
Indo-se
)
Adeus
.
Adeus
,
Casimira
.
MARANHÔA
MARANHOA
(
Voltando
)
O’
Ó
comadre
.
Uma
d’estas
destas
noites
ha
há
ensaio
das
danças
.
Se
quizer
quiser
ir
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Honorata
)
Se
o
tio
deixasse
...
HONORATA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Mariasinha
Mariazinha
)
Nem
fallar
falar
n’isso
nisso
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Então
,
vae
vai
quem
quer
?
MARANHÔA
MARANHOA
Nada
.
Entra-se
por
bilhetes
;
mas
isso
tanto
monta
.
Querendo
ir
,
a
minha
Casimira
pede
um
para
a
comadre
.
Ou
senão
,
venho
eu
por
cá
.
Indo
comigo
...
(
Com
importancia
importância
.
)
Sou
mãe
d’uma
duma
d’
uma
das
da
dança
...
Olhe
que
havia
de
ter
quem
vêr
ver
.
O
sr.
senhor
Marquez
Marquês
assiste
,
e
,
(
Mysteriosa
Misteriosa
)
até
dizem
que
El-Rei
em
pessoa
.
Mas
isto
,
peço
,
que
não
passe
d’aqui
daqui
,
porque
o
disse
o
sr.
senhor
Juiz
do
Povo
,
muito
em
segredo
,
á
à
minha
Casimira
.
HONORATA
Vá
descançada
descansada
.
MARANHÔA
MARANHOA
Se
se
resolverem
...
HONORATA
Pois
sim
,
sim
.17
MARIASINHA
MARIAZINHA
Nós
lh’o
lho
mandaremos
dizer
.
MARANHÔA
MARANHOA
E
É
como
ainda
hei-de
trazer
as
fazendas
...
(
Indo-se
)
HONORATA
Sim
,
sim
.
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Tomára-as
já
vêr
ver
pelas
costas
.
MARANHÔA
MARANHOA
(
Da
porta
)
O’
Ó
comadre
.
Olhe
que
se
quizer
quiser
ir
vêr
ver
passar
a
mimóira
tenho
a
casa
da
visinha
vizinha
Brites
,
que
móra
mora
á
à
Fundição
,
que
é
mulher
muito
capaz
.
(
Vae-se
Vai-se
.
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
Fallaremos
Falaremos
.
HONORATA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Séca
Seca
!
(
Fecha
a
porta
.
)
Cuidei
que
nos
não
deixava
.
SCENA
CENA
III
MARIASINHA
MARIAZINHA
e
HONORATA
MARIASINHA
MARIAZINHA
Coitada
.
Ella
Ela
não
me
escandalisou
escandalizou
.
Pelo
contrario
contrário
:
quer
que
a
gente
se
divirta
,
e
offerece
oferece
para
isso
o
seu
prestimo
préstimo
.
HONORATA
Mas
,
vir
cá
fallar
falar
a
uma
menina
donzella
donzela
,
nobre
,
e
senhora
de
casa
,
em
ir
aos
ensaios
das
collarejas
colarejas
e
das
curraleiras
!...18
! ...
!
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Que
achas
n’isso
nisso
de
mau
?
Não
diz
que
vae
vai
o
sr.
senhor
Marquez
Marquês
,
e
até
El-Rei
?
Seremos
nós
mais
do
que
elles
eles
?
HONORATA
Ora
,
menina
,
sabe
Deus
quem
lá
irá
!
E
então
,
se
fosse
de
dia
,
mas
de
noite
!...
! ...
!
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
E
na
quinta-feira
Santa
,
não
estivemos
este
anno
ano
fóra
fora
de
casa
,
até
depois
da
meia
noite
?
Até
pela
manhã
estarias
tu
,
se
te
deixassem
.
HONORATA
Boa
comparação
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
Tudo
é
estar
fóra
fora
de
casa
.
HONORATA
Será
.
Mas
a
igreja
é
que
não
é
o
mesmo
que
uma
casa
de
dança
.
N’uma
Numa
,
entregamos
a
nossa
alminha
a
Deus
,
e
na
outra
ao
cão
tinhoso
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Quantas
não
vão
para
a
igreja
cortejar
mancebos
,
em
vez
de
rezar
.
HONORATA
Ellas
Elas
terão
o
pago
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Tu
mesma
,
com
os
teus
escrupulos
escrúpulos
...
HONORATA
(
Assustada
)
Quê
,
menina
!
quê
Quê
!19
MARIASINHA
MARIAZINHA
Na
noite
d’Endoenças
de Endoenças
d’ Endoenças
d’
Endoenças
levaste
a
maior
parte
do
tempo
a
escabecear
.
HONORATA
Eu
!
(
Benzendo-se
.
)
Padre
,
Filho
e
Espirito
Espírito
Santo
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
Sim
,
sim
.
Rezáste
Rezaste
o
rosario
rosário
,
uma
ou
duas
vezes
,
e
depois
dormiste
.
HONORATA
(
Afflicta
Aflita
)
Ai
!
Eu
morro
!
Oh
!
maldita
Maldita
Maranhôa
Maranhoa
de
não
sei
que
diga
!
Longe
vão
as
tuas
festas
...
(
Chorando
.
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Afagando-a
)
Perdôa
Perdoa
.
Sou
uma
creança
criança
.
Tu
,
que
tens
mais
juizo
juízo
é
que
não
deves
magoar-te
com
as
minhas
loucuras
.
HONORATA
(
Beijando-a
)
Seja
sempre
minha
amiguinha
;
sim
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
Sempre
.
O
que
te
disse
não
foi
para
que
te
escandalisasses
escandalizasses
.
Mas
anda
cá
:
quando
fosses
rapariga
,
como
eu
,
se
ouvisses
fallar
falar
a
comadre
,
não
terias
desejo
de
ir
vêr
ver
aquillo
aquilo
tudo
?
E
mesmo
hoje
...
As
pessoas
idosas
não
deixam
por
isso
de
ter
desejos
:
e
ás
às
vezes
...
Olha
,
eu
vou
preparar
a
cabelleira
cabeleira
do
tio
,
que
não
tarda
em
sair
do
quarto
;
e
quando
lh’a
lha
puzer
puser
,
verêmos
veremos
se
o
resolvo
a
que
me
deixe
ir
.
Tu
has-de
hás-de
acompanhar-me
.
Sem
ti
é
que
eu
não
ia
.
Por
decencia
decência
,
por
amizade
...
HONORATA
Bem
sabe
...20
MARIASINHA
MARIAZINHA
Bem
sei
que
não
deixas
.
Se
o
ensaio
fôr
for
de
noite
,
deixal-o
deixá-lo
ser
.
Faço
de
conta
que
fui
fazer
uma
visita
.
E
...
queres
que
te
diga
?
mesmo
Mesmo
por
lá
haver
muita
gente
é
que
todos
hão-de
estar
com
mais
proposito
propósito
.
Vê
tu
se
os
namorados
não
escolhem
sempre
os
sitios
sítios
mais
desertos
...
HONORATA
Será
o
que
a
menina
quizer
quiser
.
Mas
o
que
lhe
peço
é
que
não
me
torne
a
injuriar
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Nunca
mais
.
(
Dá-lhe
um
beijo
)
(
Retirando-se
.
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Hei-de
vêr
ver
tudo
.
HONORATA
(
Contemplando-a
)
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Vejam
aquillo
aquilo
!
Olhem
aquella
aquela
boneca
!
Ah
!...
! ...
!
...
Quem
me
dera
no
tempo
em
que
a
trazia
ao
collo
colo
!
Hoje
,
nem
ella
ela
quer
,
nem
eu
tambem
também
já
tinha
forças
.
E
eu
aqui
posta
com
tanto
que
tenho
a
fazer
.
SCENA
CENA
IV
D.
DOM
BRAZ
e
depois
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
D.
Dom
Braz
de
chambre
e
barrete
branco
,
e
habito
hábito
de
Christo
Cristo
ao
peito
.
)
D.
DOM
BRAZ
(
Entra
de vagar
devagar
,
pensativo
.
Vae
Vai
a
janella
janela
.
Puxa
o
relogio
relógio
,
com
grande
cadeia
.
Vê
as
horas
.
)
A
estas
horas
,
o
que
não
irá
pela
Fundição
!
Mal
sabem
elles
eles
o
que
os
espera
!
Cança-te
Cansa-te
,
Bartholomeu
da
Costa
,
que
has-de
hás-de
fazer
limpa
!
Estás-te
matando
em
fundir
essa
tal
memoria
memória
,
que
antes
devera
chamar-se
—
Esquecimento
esquecimento
,
—
e
,
em
vez
de
cavallo
cavalo
e
cavalleiro
cavaleiro
,
has-de
hás-de
ter
um
monstro
!
(
Rindo
)
Talvez
acertes
,
sem
querer
.
O
acaso
é
,
ás
às
vezes
,
o
melhor
inventor
.
Uma
estatua
estátua
descommunal
descomunal
é
a
verdadeira
memoria
memória
,
que
se
deve
inaugurar21
a
este
reinado
,
destruidor
da
nobreza
e
do
altar
!
Expulsaram
os
Jesuitas
Jesuítas
,
que
eram
os
mais
doutos
e
santos
,
o
resto
ha-de
há-de
ir
indo
a
pouco
e
pouco
!
Só
escapará
do
naufragio
naufrágio
algum
capucho
ou
algum
bernardo
...
Isso
mesmo
é
se
escapar
...
Duvido
.
(
Começa
a
jogar
consigo
mesmo
o
gamão
.
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Traz
a
cabelleira
cabeleira
e
a
caixa
com
pós
e
borla
)
Bom
dia
,
meu
tio
.
D.
DOM
BRAZ
Então
como
passou
a
minha
azougada
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
Boa
...
D.
DOM
BRAZ
(
Reparando
na
cabelleira
cabeleira
)
Caspité
Cáspite
!
Hoje
é
dos
dias
escolhidos
.
Cabelleira
Cabeleira
penteada
e
posta
pela
senhora
minha
sobrinha
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
Estava
já
tão
desgrenhada
,
tão
falta
de
polvilhos
...
Bem
sabe
que
os
cabelleireiros
cabeleireiros
só
lhe
vendem
cabelleiras
cabeleiras
novas
,
tudo
mais
...
E’
É
verdade
que
nunca
fica
obra
tão
bem
acabada
como
por
mão
de
mestre
;
porém
,
a
bondade
do
tio
...
D.
DOM
BRAZ
Bondade
!
Um
olho
dariam
elles
eles
ao
démo
demo
,
para
terem
umas
mãos
de
cabelleireira
cabeleireira
como
as
tuas
!
(
Pegando-lhe
nas
mãos
)
Só
os
dedos
que
tu
tens
!
finos
Finos
,
que
parecem
agulhas
!
(
Analysando
Analisando
a
cabelleira
cabeleira
)
Bem
penteada
,
sim
senhor
!
Bolsa
nova
...
laço
...
Esperem
,
que
tambem
também
lhe
mecheu
mexeu
no
bor
bord
de
front
front
!
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
Entrancei-o
de
novo
.
Estava
tão
desigual
...22
D.
DOM
BRAZ
E
é
que
está
melhor
,
muito
melhor
!
Ó
Mariasinha
Mariazinha
,
tu
ainda
me
has-de
hás-de
fazer
uma
cabelleira
cabeleira
nova
,
sim
?
(
Dá-lhe
a
cabelleira
cabeleira
,
e
senta-se
.
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
Por
lhe
fazer
a
vontade
...
(
Tira-lhe
o
barrete
,
e
começa
a
pôr-lhe
a
cabelleira
cabeleira
.
)
D.
DOM
BRAZ
Quero
que
me
desbanques
esses
mofinos
de
casaca
cinzenta
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Apolvilhando
com
a
borla
)
O
que
eu
souber
...
D.
DOM
BRAZ
E
depois
,
o
que
havia
de
gastar
com
elles
eles
...
Por
cada
cabelleira
cabeleira
nova
terás
um
vestido
novo
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
De
seda
?
D.
DOM
BRAZ
De
seda
,
e
de
toda
a
conta
.
A
escolher
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Que
tio
!
(
Acaba
de
pôr
a
cabelleira
cabeleira
.
)
D.
DOM
BRAZ
Está
posta
,
não
é
assim
,
meu
"
senhor
“
senhor
cabelleireiro
cabeleireiro
cabelleireiro
”
"
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
E
para
o
ser
em
tudo
,
tambem
também
lhe
quero
dar
uma
novidade
.
D.
DOM
BRAZ
Ouviremos
.23
MARIASINHA
MARIAZINHA
Sabe
...
Já
ouviu
fallar
falar
das
grandes
festas
,
que
se
preparam
?
D.
DOM
BRAZ
Festas
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
Sim
,
senhor
,
para
o
dia
em
que
se
inaugurar
a
estatua
estátua
de
El-Rei
.
D.
DOM
BRAZ
(
Rindo
)
Tontinha
!
Quem
te
metteu
meteu
isso
em
cabeça
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
É
certo
.
Se
até
a
comadre
Maranhôa
Maranhoa
me
veio
ainda
agora
pedir
para
lhe
vestir
a
minha
afilhada
.
Tambem
Também
entra
nas
danças
...
D.
DOM
BRAZ
Danças
!
Que
danças
?!...
? ! ...
?
!
...
Tudo
isso
são
ballelas
balelas
,
que
se
espalham
para
entreter
os
animos
ânimos
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Se
já
se
estão
calçando
as
ruas
.
O
Senado
...
D.
DOM
BRAZ
Sei
tudo
isso
.
Fazem-se
alguns
apercebimentos
,
fazem
.
Mas
diz-me
cá
,
minha
indiscreta
,
de
que
serve
musica
música
e
prégador
pregador
,
onde
não
ha
há
santo
a
quem
fazer
a
festa
?
Trabalhos
em
vão
,
e
mais
nada
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Não
percebo
.
D.
DOM
BRAZ
É
que
a
memoria
memória
não
se
fez
,
não
se
faz
,
nem
se
ha-de
há-de
fazer
.
Percebes
agora
?24
MARIASINHA
MARIAZINHA
Ainda
não
,
meu
tio
.
D.
DOM
BRAZ
Pois
,
sem
memoria
memória
,
póde
pode
haver
festas
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
Mas
porque
por que
por
que
se
não
ha-de
há-de
fazer
?
Se
dizem
que
El-Rei
e
o
Marquez
Marquês
estão
empenhados
n’isso
nisso
!
E
são
elles
eles
que
nos
governam
...
D.
DOM
BRAZ
Governam
!
O
Marquez
Marquês
?...
? ...
?
...
A
mim
?
...
A
D.
Dom
Braz
Viegas
!...
! ...
!
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
É
a
primeira
pessoa
a
quem
oiço
dizer
que
o
Marquez
Marquês
não
governa
!
Se
até
dizem
que
manda
superior
a
El-Rei
...
D.
DOM
BRAZ
Essa
é
que
é
a
desgraça
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
Então
sempre
elle
ele
manda
.
D.
DOM
BRAZ
(
Zangado
)
Manda
n’esses
nesses
tolos
,
que
lhe
obedecem
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Mas
como
os
tolos
são
tantos
,
a
memoria
memória
...
D.
DOM
BRAZ
E
tu
sempre
com
o
tal
Belzebuth
Belzebu
de
memoria
memória
!
Já
te
disse
,
que
se
não
faz
.25
MARIASINHA
MARIAZINHA
Dil-o
Di-lo
o
tio
.
D.
DOM
BRAZ
Sei
o
que
digo
.
E
vamos
:
supponha
suponha
,
minha
sobrinha
,
que
dava
Deus
a
Satanaz
Satanás
fazer
milagres
,
e
que
se
fazia
a
estatua
estátua
.
Que
acontecia
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
Haver
festejos
;
e
eu
pedir
ao
meu
bom
tio
para
os
ir
vêr
ver
.
D.
DOM
BRAZ
Tu
!
A
sobrinha
,
a
herdeira
de
D.
Dom
Braz
Viegas
!
Que
horror
!
Se
um
tal
dia
—
para
cumulo
cúmulo
de
desdita
—
amanhecesse
,
não
só
ninguem
ninguém
d’esta
desta
casa
sahiria
sairia
á
à
rua
,
como
as
portas
e
janellas
janelas
estariam
fechadas
,
por
dentro
e
por
fóra
fora
,
em
signal
sinal
de
lucto
luto
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Para
o
irem
dizer
ao
Marquez
Marquês
,
e
elle
ele
pegar
em
meu
tio
e
emparedal-o
empareda-lo
emparedá-lo
.
D.
DOM
BRAZ
Adeus
,
adeus
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
Eu
repito
o
que
o
tio
me
tem
dito
muitas
vezes
:
que
o
Marquez
Marquês
é
um
tyranno
tirano
,
um
cruel
,
que
,
basta
saber
que
alguem
alguém
lhe
é
desaffecto
desafeto
,
para
ficar
perdido
...
D.
DOM
BRAZ
Continue
!...
! ...
!
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Um
barbaro
bárbaro
,
que
arranca
os
paes
pais
do
seio
de
suas
familias
famílias
...
D.
DOM
BRAZ
Retire-se
,
senhora
.26
MARIASINHA
MARIAZINHA
Creio
que
não
posso
tributar
maior
respeito
a
meu
tio
do
que
ser
da
sua
opinião
,
e
servir-me
de
suas
proprias
próprias
palavras
para
a
sustentar
.
D.
DOM
BRAZ
Se
lhe
disse
tudo
isso
,
não
lhe
disse
que
tinha
medo
do
Marquez
Marquês
...
nem
d’um
dum
d’
um
diluvio
dilúvio
de
marquezes
marqueses
.
Morre-se
uma
vez
só
.
E
por
ora
,
ainda
havia
muito
quem
me
rezasse
por
alma
.
Os
padres
da
Companhia
não
morreram
todos
,
nem
de
todo
.
(
Pausa
)
A
respeito
de
festas
imaginarias
imaginárias
,
tire
d’ahi
daí
dahi
o
sentido
.
(
Volta-lhe
as
costas
.
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Das
imaginarias
imaginárias
.
As
outras
hei-de
vêl-as
vê-las
,
e
agora
mais
que
nunca
.
(
Retira-se
,
fazendo
mesura
e
desesperada
desesperada
.
.
)
(
Tocam
á
à
campainha
)
SCENA
CENA
V
D.
DOM
BRAZ
,
HONORATA
e
logo
PELE
PELLE
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Ah
!
Marquez
Marquês
,
Marquez
Marquês
!
Ou
nós
ou
tu
!
(
Passeia
agitado
agitado
.
.
)
HONORATA
(
Atravessa
a
scena
cena
.
Abre
a
porta
do
fundo
,
deita
a
cabeça
e
volta
.
)
Está
ali
um
sujeito
,
que
lhe
quer
fallar
falar
.
D.
DOM
BRAZ
Que
sujeito
?
Quem
?
Se
é
algum
amigo
do
tyranno
tirano
,
não
estou
em
casa
.
HONORATA
Elle
Ele
,
pela
falla
fala
,
parece
estrangeiro
.27
D.
DOM
BRAZ
(
Pensa
)
Estrangeiro
!...
! ...
!
...
Ha-de
Há-de
ser
...
Que
entre
.
(
Honorata
faz
entrar
Pelle
,
e
retira-se
retira-se
.
.
)
D.
DOM
BRAZ
Sr.
Senhor
João
Baptista
.
(
Fecha
as
portas
e
vê
se
espreitam
espreitam
.
.
)
PELE
PELLE
Per
dio
santo
santo
!
!
Finalmente
,
a
cósa
si
fá
fá
!
!
D.
DOM
BRAZ
(
Sempre
com
cautella
cautela
)
Mais
baixo
.
PELE
PELLE
(
Olhando
em
redor
)
Persona
Persona
!
!
D.
DOM
BRAZ
Tudo
é
gente
de
casa
.
Mas
são
mulheres
,
que
,
em
se
tratando
de
curiosidade
,
tem
todas
ouvidos
de
phtysico
tísico
.
E
depois
a
lingua
língua
é
badalo
de
garrida
,
que
ainda
bem
não
é
manhã
,
eil-o
ei-lo
a
tocar
para
a
missa
das
almas
:
sabe-o
a
visinhança
vizinhança
,
e
adeus
segredo
.
Peitou
o
operario
operário
da
Fundição
?
PELE
PELLE
Si
Si
.
.
D.
DOM
BRAZ
O
forno
está
rachado
?
PELE
PELLE
Si
Si
.
.
D.
DOM
BRAZ
Bom
.
PELE
PELLE
Lo
opérario
operário
opérario
...
...
D.
DOM
BRAZ
Á
À
vista
do
bilhete
,
não
duvidou
?28
PELE
PELLE
Nô
.
Má
será
de
tuta
confianza
confianza
?
?
D.
DOM
BRAZ
De
toda
.
Foi
confessado
do
padre
Balthazar
,
que
m’o
mo
recommenda
recomenda
na
carta
,
que
o
sr.
senhor
Pelle
me
trouxe
.
Agora
,
adeus
,
que
espero
gente
.
(
Tira
da
bolsa
algum
dinheiro
,
que
lhe
entrega
entrega
.
.
)
Adeus
!
PELE
PELLE
Adio
,
sinhô
sinhô
!
!
D.
DOM
BRAZ
Ainda
que
alguma
vez
nos
encontremos
,
não
me
falle
fale
,
nem
me
corteje
.
Não
julgue
que
é
medo
,
não
;
mas
devemos
seguir
á
à
risca
os
preceitos
do
padre
Balthazar
,
que
recommenda
recomenda
toda
a
prudencia
prudência
,
para
que
se
não
perca
a
nossa
santa
causa
.
(
Fecha
a
porta
.
Pelle
sae.
sai .
sae .
sae
.
)
(
Reparando
á
à
janella
janela
)
Oh
!...
! ...
!
...
Ahi
Aí
vem
o
mestre
de
minha
sobrinha
...
Encontrou-se
com
o
Genovez
genovês
genovez
...
Observa-o
...
Olha
agora
para
cá
...
Chico
é
guapo
moço
...
Será
...
Lá
pára
para
...
Ora
mede
com
a
vista
o
Genovez
genovês
genovez
,
ora
olha
para
cá
...
Não
seja
caso
que
desconfiasse
desconfiasse
...
...
(
Pensa
)
Mando
dizer
que
não
estou
em
casa
.
Virei
depois
,
se
quizer
quiser
.
Como
não
ha
há
só
uma
porta
...
(
Chama
)
Honorata
.
SCENA
CENA
VI
(
Ouve-se
bater
á
à
campainha
)
O
PRECEDENTE
,
HONORATA
e
logo
CHICO
HONORATA
Bateram
?
D.
DOM
BRAZ
É
Chico
.
Se
perguntar
por
mim
,
diga-lhe
que
sahi
saí
ha
há
muito
.
Minha
sobrinha
póde
pode
dar
licção
lição
.
(
Vae-se
Vai-se
)29
HONORATA
(
Abre
a
porta
.
)
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
É
o
catinga
.
CHICO
(
Arrastando
os
pés
:
peralta
pelintra
,
affectado
afetado
em
gestos
e
phrase
frase
.
Lenço
anilado
,
mettido
metido
nos
copos
do
espadim
;
calções
de
ligas
muito
largas
;
chapéu
em
posição
de
bacia
d’almas
de almas
d’ almas
d’
almas
.
Um
rolo
de
musica
música
na
mão
.
)
Como
istá
,
sinhôra
sinhôra
?
sinhora
?
(
Põe
chapéu
e
musica
música
sobre
o
cravo
cravo
.
.
)
HONORATA
Para
servir
a
sua
mercê
.
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Trata-me
sempre
por
senhora
...
Lá
politico
político
é
elle
ele
...
CHICO
O
sinhô
tio
?
A
sinhôra
sinhora
môça
moça
?
HONORATA
Todos
bons
.
O
sr.
senhor
D.
Dom
Braz
sahiu
saiu
.
CHICO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Mi
enganei
!
(
Alto
)
Sahiu
Saiu
?!
? !
?
!
HONORATA
Ha
Há
muito
.
A
menina
...
eu
a
vou
chamar
.
CHICO
Oh
!
não
Não
si
áprésse
apresse
.
(
Com
intenção
)
Pois
mi
pariceu
que
estava
em
casa
.
Sahiu
Saiu
di
cá
um
sujeitinho
...
di
fallar
falar
a
elle
ele
...
podi
ser
...
já
si
vê
...
HONORATA
Um
estrangeiro
...
CHICO
Isso
,
isso
.
HONORATA
(
Confusa
)
Ah
...
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Ia-me
apanhando
o
tal
pardinho
.30
CHICO
É
Ginovez
ginovez
Ginovez
?
ginovês
?
HONORATA
Será
.
Como
não
sei
de
linguas
línguas
...
Com
licença
...
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Quem
tudo
quer
saber
,
nada
se
lhe
diz
.
(
Sae
Sai
Sae
.
.
)
CHICO
Calando
,
mi
disse
muita
coisa
.
É
certo
qui
vem
cá
o
Ginovez
ginovez
ginovês
;
para
quê
,
sabirêmos
sabiremos
.
(
Pensando
)
O
sinhô
Marquez
Marquês
é
tão
miudinho
!...
! ...
!
...
Vá
qui
vá
.
(
Pausa
)
Tio
não
istá
cá
...
Minina
vem
mi
dar
sua
licção
lição
...
Oh
!
pae
Pai
Pae
da
minh’alma
minha alma
minh’ alma
minh’
alma
!
Hoje
mi
lanço
ao
mar
incapilado
,
em
náu
nau
di
amôres
amores
.
Hoje
mi
diclaro
diclaro
!
!
(
Pondo
a
mão
no
peito
)
Oh
!
Deus
meu
!
Qui
báter
bater
!
Qui
galôpar
galopar
galôpar
!
!
SCENA
CENA
VII
CHICO
e
MARIASINHA
MARIAZINHA
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Espreitando
á
à
porta
)
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Galopa
!
CHICO
(
Entusiasmado
,
passa
a
mão
pela
cabelleira
cabeleira
e
agarra
o
topete
)
Sinto
um
calor
,
qui
abraza
abrasa
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Péga
Pega
fogo
á
à
casa
!
CHICO
Si
podesse
mi
diclarar
em
verso
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Espera-me
uma
declaração
,
e
nada
menos
do
que
em
verso
.
(
Rindo
)
.
CHICO
(
Passeia
,
esfregando
as
mãos
.
Pára
Para
)
Ai
,
qui
não
tenho
cábeça
cabeça
!31
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Que
sinceridade
.
CHICO
Divagárinho
Divagarinho
,
serei
capaz
di
grandes
coisas
.
(
Pensa
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Vaidoso
...
CHICO
Oh
!
qui
Qui
lembrança
!
(
Pega
no
rolo
de
musica
música
,
que
trouxera
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Declara-se
por
musica
música
.
Ha-de
Há-de
ir
muito
melhor
.
CHICO
É
virdade
qui
a
modinha
é
di
outro
,
mas
isso
qui
vale
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Impõe
com
obra
alheia
.
Ha
Há
tantos
assim
.
CHICO
(
Lendo
)
Minhás
Minhas
gentes
da
Báhia
Bahia
,
Nos
engenhos
qui
eu
lá
vi
;
Assucar
Açúcar
não
é
mais
dôce
doce
,
Qui
o
meu
bem
,
qui
móra
mora
aqui
.
Tápe
,
tápe
,
tipe
,
ti
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Muito
bem
.
Caiu-me
a
sorte
em
preto
.
CHICO
(
lendo
)
Q’os
Que os
Q’ os
Q’
os
quindins
da
brazileira
brasileira
,
Quando
falla
fala
,
quando
ri
,
Ella
Ela
os
tem
mais
riquibrados
,
Como
nunca
os
eu
lá
vi
.
Tápe
,
tápe
,
tipe
,
ti
...32
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Sahindo
Saindo
)
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Ha-de
Há-de
ser
delicioso
.
CHICO
(
Respeitosamente
affectado
afetado
)
Ilustrissima
Ilustríssima
Sinhôra
Sinhora
Dona
Mariásinha
Mariazinha
,
minha
sinhôrásinha
sinhorazinha
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Mesura
)
Esperou
muito
,
não
é
assim
?...
? ...
?
...
Uma
discipula
discípula
fazer
esperar
seu
mestre
,
não
é
bonito
:
confesso
.
CHICO
Oh
!...
! ...
!
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Mas
quando
souber
o
motivo
,
estou
certissima
certíssima
de
que
me
ha-de
há-de
desculpar
.
CHICO
As
culpas
são
todas
minhas
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Bondade
do
sr.
senhor
Chico
.
CHICO
É
divêr
diver
,
só
divêr
diver
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Quando
me
disseram
que
estava
cá
,
ainda
não
tinha
signaes
sinais
...
Estive-os
pondo
,
para
lhe
apparecer
aparecer
.
O
respeito
aos
mestres
...
Bem
sabe
,
que
mestre
é
um
segundo
pae
pai
...
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Paisinho
Paizinho
...
(
Rindo
)
CHICO
São
titulos
títulos
,
qui
não
mirêço
mireço
.
Mi
dizer
mestre
de
Vossônhoria
Vossonhoria
,
isso
não
.
Servo
,
escravo
,
o
móléque
moleque
mais
piquininósinho
piquininozinho
,
qui
vive
e
qui
morre
por
Vossônhoria
Vossonhoria
...
qui33
por
difender
a
Vossônhoria
Vossonhoria
,
lá
mesmo
dibaixo
da
fria
lousa
do
sipulcro
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Atalhando
)
Por
quem
é
,
não
falle
fale
em
defuntos
,
que
me
faz
medo
.
CHICO
(
A’parte
À parte
A’ parte
A’
parte
)
Paciencia
Paciência
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Pegando
no
rolo
de
musica
música
)
É
a
modinha
nova
?
Que
desvélo
desvelo
.
Com
effeito
efeito
...
CHICO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Não
sei
si
zomba
,
si
diz
vérdade
verdade
.
(
alto
)
Vossônhoria
Vossonhoria
quer
que
a
vamos
ensaiar
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
Logo
.
CHICO
Quer
antes
qui
vamos
ripitir
algumas
das
qui
já
tem
estudado
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
Sim
...
CHICO
(
Pegando
na
musica
música
)
Esta
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
Qual
?
CHICO
Eu
tenho
um
coração
,
qui
antes
não
quizera
quisera
ter
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Nada
.
Prefiro
a
das
meinhas
rôtas
rotas
.
CHICO
(
Triste
)
Não
tem
tanta
doçura
...34
MARIASINHA
MARIAZINHA
Por
isso
mesmo
.
Não
é
tão
trivial
.
Affasta-se
Afasta-se
do
commum
comum
,
d’essas
dessas
modinhas
brazileiras
brasileiras
,
tão
cheias
de
infinitos
quindins
,
bemsinhos
benzinhos
e
,
que
chegam
a
aborrecer
.
(
Pegando
na
musica
música
)
Esta
,
não
.
Bem
vê
,
que
o
assumpto
assunto
é
—
creio
eu
—
censurar
um
d’estes
destes
peraltas
improvisados
,
que
se
apresentam
hoje
de
cabelleira
cabeleira
a
la
gréca
greca
—
meia
grudifé
...
CHICO
(
Nota
insensivelmente
em
si
mesmo
com
o
gesto
os
ditos
de
Mariasinha
Mariazinha
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Continuando
)
Basofiando
Bazofiando
,
e
que
ainda
ha
há
dois
dias
andavam
escondidos
pelas
escadas
,
dando
querêna
querena
aos
sapatos
despalmilhados
,
com
graixa
graxa
de
estudante
...
(
Rindo
)
E’
É
uma
modinha
conceituosa
,
não
lhe
parece
,
sr.
senhor
Chico
?
CHICO
Vossonhôria
Vossonhoria
o
diz
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Abre
o
cravo
e
canta
)
Quando
eu
o
conhecia
,
Com
suas
meinhas
rôtas
rotas
,
Então
se
chegava
a
mim
,
Que
lhe
désse
desse
para
outras
:
Agora
já
diz
,
E
com
presumpção
presunção
Que
as
usa
de
sêda
seda
,
E
não
d’algodão
de algodão
d’ algodão
d’
algodão
.
CHICO
(
Que
ajudou
a
abrir
o
cravo
,
e
esteve
batendo
o
compasso
em quanto
enquanto
emquanto
Mariasinha
Mariazinha
cantou
,
diz
,
depois
d’ella
dela
della
acabar
)
Muito
bem
.
D’aqui
Daqui
não
si
passa
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Lisonjeiro
...35
CHICO
A
mélódia
melodia
dos
séráfins
serafins
,
não
é
mais
afinada
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Não
queria
que
lhe
chame
adulador
.
Lembre-se
de
que
o
padre
Vieira
os
compára
compara
ás
às
aranhas
.
E
o
que
diz
o
bom
padre
,
é
evangelho
,
na
opinião
de
meu
tio
.
CHICO
Será
...
(
resignado
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
E
a
modinha
nova
?
CHICO
Só
espérava
esperava
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Que
eu
pedisse
?
Peço
.
CHICO
Qui
mandasse
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Mando
.
CHICO
(
Indo
para
o
cravo
)
Obideço
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Acompanhada
a
viola
,
não
lhe
parece
?
Sabe-a
de
cór
cor
...
CHICO
(
Pega
na
viola
e
senta-se
.
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Oh
!
pae
Pai
Pae
da
minh’alma
minha alma
minh’ alma
minh’
alma
,
mi
dá
bom
successo
sucesso
n’esta
nesta
empreza
empresa
.
(
Canta
com
o
maior
requebro
a
modinha
seguinte.
seguinte .
seguinte
.
)
Minhás
Minhas
gentes
da
Báhia
Bahia
,
Nos
engenhos
qui
eu
lá
vi
;
Assucar
Açúcar
não
é
mais
dôce
doce
,
Qui
o
meu
bem
,
qui
móra
mora
aqui
.
Tápe
,
tápe
,
tipe
,
ti
...36
Q’os
Que os
Q’ os
Q’
os
quindins
da
brazileira
brasileira
,
Quando
falla
fala
,
quando
ri
,
Ella
Ela
os
tem
mais
riquibrados
,
Como
nunca
os
eu
lá
vi
.
Tápe
,
tápe
,
tipe
,
ti
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
,
quando
Chico
acabou
de
cantar
)
Declarou-se
menos
mal
.
(
Alto
)
É
linda
.
E
então
cantada
por
voz
de
mestre
...
CHICO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Animo
Ânimo
!
(
Alto
)
Mestre
!
Coitado
d’elle
dele
delle
,
qui
sabe
onde
é
o
céo
céu
,
e
nem
siquer
si
atreve
a
olhar
para
elle
ele
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Com
effeito
efeito
...
CHICO
Oh
!
si
Si
V.
Vossa
S.ª
Senhoria
ouvisse
o
qui
meu
peito
si
morre
por
dizer
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Fingindo
que
escuta
)
Não
oiço
nada
.
CHICO
Mas
si
disser
...
Digo
?
Digo
?...
? ...
?
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Pega
na
musica
música
que
finge
analysar
analisar
)
Diga
.
CHICO
Digo
qui
o
meu
benzinho
tem
dois
olhos
...
qui
não
são
olhos
...
são
figas
d’amor
de amor
d’ amor
d’
amor
...
qui
não
tem
mãos
...
tem
jásmins
jasmins
di
carne
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Ia
melhor
por
musica
música
.37
CHICO
(
Continuando
)
As
faces
são
di
rosa
...
os
dentes
di
marfim
...
os
cabelos
di
pau
santo
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Muito
duros
...
CHICO
(
Continuando
)
Oh
!...
! ...
!
...
sim
Sim
...
meu
Meu
bem
...
minha
Minha
dóçura
doçura
!
O
seu
moléque
moleque
sou
eu
...
(
Ajoelha
)
Minha
Fájá
Fájá
!
Fajá
!
...
Meu
santinho
do
altar
...
(
Batendo
no
peito
peito
.
.
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
,
rindo
)
O
carioca
é
delicioso
.
CHICO
O’
Ó
minha
Nhanhásinha
Nhanhazinha
!
Nhanhásinha
Nhanhazinha
...
Nhanhásinha
Nhanhazinha
...
Ah
!
(
beija-lhe
a
mão
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Pondo-se
em
pé
,
e
com
a
mão
direita
em
acção
ação
de
abençoar
)
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
,
rindo-se
)
Grupo
de
S.
São
Benedicto
Benedito
recebendo
a
benção
bênção
da
virgem
!
Deus
te
faça
branco
.
(
Ri
ás
às
gargalhadas
)
SCENA
CENA
VIII
D.
DOM
BRAZ
,
MARIASINHA
MARIAZINHA
e
CHICO
D.
DOM
BRAZ
(
Que
tem
visto
o
final
)
Que
é
isto
?!
? !
?
!
CHICO
(
Levantando-se
atrapalhado
)
E’
É
uma
nova
figura
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Rindo
)
Uma
nova
figura
...
do
lundum
da
Nhanhásinha
Nhanhazinha
!...38
! ...
!
...
D.
DOM
BRAZ
Lundum
Lundum
!
!
...
Se
fosse
o
amavel
amável
,
o
pássapié
passa-pé
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Mas
que
lundum
!...
! ...
!
...
O
tio
não
faz
idêa
ideia
...
(
Rindo
)
CHICO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Cachôrra
Cachorra
.
D.
DOM
BRAZ
Seja
como
fôr
for
,
é
chulo
chulo
.
.
CHICO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
D.
Dom
Braz
)
E’
É
para
fazer
uma
pirraça
ao
Marquez
Marquês
.
Detesta
o
lundum
da
Nhánhásinha
Nhanhazinha
.
Proibiu-o
nas
danças
da
mémoria
memória
.
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Chico
)
Pois
tambem
também
o
sr.
senhor
Marquez
Marquês
se
lhe
metteu
meteu
em
cabeça
governar
nas
pernas
e
pés
de
cada
um
?!
? !
?
!
Risum
teneatis
teneatis
!
!
Fez
muito
bem
meu
amigo
.
(
Para
Mariasinha
Mariazinha
)
Pode
dançar
o
lundum
,
minha
sobrinha
.
Quero
mesmo
que
o
dance
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Está
louco
.
(
Rindo
Rindo
.
.
)
D.
DOM
BRAZ
Mas
olha
,
que
é
só
o
lundum
da
Nhánhásinha
Nhanhazinha
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Só
!
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Já
me
esquecia
o
ensaio
.
Vou
mandar
chamar
a
comadre
.
(
Alto
)
Com
licença
.
(
Faz
mesura
e
retira-se
)
CHICO
(
Vae
Vai
á
à
janella
janela
e
volta
)
Adiósinho
Adiozinho
.
Vou
assistir
á
à
funcção
função
da
estatua
estátua
.
—
Já
lá
vae
vai
o
Marquez
Marquês
,
e
o
Conde
d’Oeiras
,
o
filho
.39
D.
DOM
BRAZ
(
Ironico
Irônico
)
Vá
depressa
.
Não
perca
o
ensejo
.
CHICO
Não
vem
o
sr.
senhor
D.
Dom
Braz
?
D.
DOM
BRAZ
(
Ironico
Irônico
)
Nada
.
O
dia
está
muito
quente
,
e
receio
de
me
afrontar
com
o
calor
do
fôrno
forno
.
CHICO
Eu
virei
dizer
do
acontecido
.
(
Retira-se
)
D.
DOM
BRAZ
Cá
o
espero
.
Sem
mais
.
(
Acompanha
Chico
e
volta
rindo
e
esfregando
as
mãos
)
Ah
!
ah
Ah
!
ah
Ah
!...
! ...
!
...
Fóra
Fora
patetas
!
Fóra
Fora
babócas
babocas
!
(
Batem
com
força
á
à
campainha
e
repetidas
vezes
.
D.
Dom
Braz
vae
vai
enfurecido
abrir
a
porta
)
Parece
que
estão
batendo
ao
portão
de
quinta
!...
! ...
!
...
(
Dando
com
os
amigos
)
Oh
!...
! ...
!
...
Entrem
.
Logo
,
vi
que
o
bater
era
de
doido
.
(
Para
o
Beneficiado
.
)
SCENA
CENA
IX
O
PRECEDENTE
,
BENEFICIADO
,
JOAQUIM
MACHADO
,
LOBO
,
ALFERES
,
PACHORRA
BENEFICIADO
Doido
é
quem
fica
em
casa
n’este
neste
dia
.
Anda
.
D.
DOM
BRAZ
Eu
não
sáio
saio
.
LOBO
Venha
,
que
ha-de
há-de
ter
presente
de
todos
.
Eu
,
faço-lhe
um
soneto
laudatorio
laudatório
á
à
sua
cortejada
.
O
sr.
senhor
Joaquim
Machado
o
busto
em
cêra
cera
...40
JOAQUIM
MACHADO
Prometto
Prometo
.
LOBO
(
Para
o
Beneficiado
)
Tu
...
BENEFICIADO
Digo-lhe
a
missa
.
LOBO
O
sr.
senhor
Alferes
...
ALFERES
Apresento-lhe
as
armas
.
LOBO
E
tu
,
Pachorra
?
PACHORRA
(
Aparvalhado
)
Eu
...
tanto
se
me
dá
como
se
deu
.
BENEFICIADO
Vamos
,
que
se
faz
tarde
.
D.
DOM
BRAZ
Não
posso
ir
.
Espero
um
dos
meus
rendeiros
.
Venham
por
cá
em
se
concluindo
a
fundição
.
BENEFICIADO
Dás
dôce
doce
,
se
viermos
?
D.
DOM
BRAZ
Talvez
...
Adeus
.
(
Despedem-se
)
ALFERES
(
A
D.
Dom
Braz
)
Amigo
e
parente
...41
D.
DOM
BRAZ
Viva
.
(
A
Machado
)
Parece-me
que
lhe
deitam
a
sua
obra
a
perder
sr.
senhor
Joaquim
Machado
.
JOAQUIM
MACHADO
Está
em
boas
mãos
.
Todavia
...
D.
DOM
BRAZ
Verá
.
(
Fecha
a
porta
porta
.
.
)
(
Só
)
Ora
não
me
iria
agora
incommodar
incomodar
,
para
ver
El-Rei
Pombal
I
cercado
da
sua
côrte
corte
!...
! ...
!
...
(
Pausa
Pausa
.
.
)
O
Beneficiado
,
Lobo
...
vão
como
doidos
,
Joaquim
Machado
é
o
estatuario
estatuário
...
Mas
o
tal
sr.
senhor
Alferes
de
Voluntarios
Voluntários
Reaes
Reais
...
que
irá
aquelle
aquele
boneco
lá
fazer
?!...
? ! ...
?
!
...
Como
vae
vai
o
Marquez
Marquês
...
Não
fosse
ele
meu
parente
,
que
já
me
não
cruzava
a
porta
.
Parente
meu
,
e
ser
pelo
Marquez
Marquês
!...
! ...
!
...
Um
nobre
curvando-se
ao
tirannête
tiranete
,
a
ponto
de
ter
o
seu
retrato
na
sala
de
visitas
,
em
signal
sinal
de
affeição
afeição
!...
! ...
!
...
(
Pausa
)
E
é
pena
,
que
no
demais
é
um
moço
honrado
,
e
de
prestimo
préstimo
.
O
Marquez
Marquês
fel-o
fê-lo
fe-lo
Alferes
,
admitte-o
admite-o
em
casa
;
mostra-lhe
amisade
amizade
,
fingida
ou
verdadeira
,
o
rapaz
é
grato
...
e
eis
ahi
aí
.
(
Pausa
Pausa
.
.
)
Chico
,
é
que
me
parece
um
moço
completo
.
Está
sempre
em
opposição
oposição
ao
Marquez
Marquês
...
(
Ouve-se
fechar
uma
porta
.
Escutando
)
Ouvi
bulha
!
(
Alegre
e
depois
de
ir
á
à
janella
janela
)
Foi
talvez
o
fôrno
forno
que
rebentou
!...
! ...
!
...
Ouviu-se
aqui
.
De
Santo
André
á
à
Fundição
...
Não
ha
há
duvida
dúvida
!
Rebentou
o
fôrno
forno
!...
! ...
!
...
(
Como
doido
de
contente
,
toca
a
campainha
)
Honorata
,
venha
cá
Honorata
.42
SCENA
CENA
X
D.
DOM
BRAZ
e
HONORATA
HONORATA
Chamou
?
D.
DOM
BRAZ
Sim
.
Prepare-me
duas
salvas
:
uma
com
dôce
doce
,
vinhos
na
outra
.
HONORATA
Dá
hoje
o
copo
d’agua
d’água
?
D.
DOM
BRAZ
Voltam
logo
os
meus
amigos
:
e
se
as
coisas
correrem
como
estou
certo
que
hão
de
correr
.
HONORATA
Ah
!
sim
Sim
;
as
coisas
.
D.
DOM
BRAZ
Sabes
?
HONORATA
São
as
coisas
.
D.
DOM
BRAZ
Se
a
fundição
da
estatua
estátua
não
fôr
for
adiante
.
HONORATA
Queira
Deus
.
D.
DOM
BRAZ
Quer
,
quer
.
Tu
tambem
também
és
cá
dos
meus
?
HONORATA
Ora
essa
!
Ha
Há
tantos
annos
anos
de
casa
e
...
(
Retirando-se
)43
)
D.
DOM
BRAZ
Não
é
...
Espera
.
(
Pausa
)
O’
Ó
Honorata
,
tu
conheces
bem
o
mestre
de
minha
sobrinha
?
HONORATA
O
carioca
?
D.
DOM
BRAZ
Que
te
parece
?
HONORATA
Eu
...
Elle
Ele
é
bem
fallante
falante
...
muito
cortez
cortês
cortez
...
...
só
ás
às
vezes
...
E’
É
alguma
coisa
perguntador
.
D.
DOM
BRAZ
Quer
saber
,
isso
lá
...
HONORATA
Quanto
ao
mais
parece
pessoa
de
proposito
propósito
.
Muito
temente
a
Deus
...
Quando
quero
saber
onde
está
o
sagrado
lausperenne
lausperene
,
sempre
elle
ele
m’o
mo
diz
e
não
gagueija
gagueja
.
D.
DOM
BRAZ
Sim
!...
! ...
!
...
HONORATA
Visita-o
todos
os
dias
.
D.
DOM
BRAZ
Está
bom
.
HONORATA
E
traz
sempre
consigo
a
folhinha
dos
lausperennes
lausperenes
.
Se
eu
lh’a
lha
vi
.
(
Tocam
á
à
campainha
)44
SCENA
CENA
XI
OS
PRECEDENTES
e
CHICO
e
logo
MARIASINHA
MARIAZINHA
D.
DOM
BRAZ
Bateram
.
HONORATA
(
Vae
Vai
abrir
a
porta
.
)
(
a
D.
Dom
Braz
)
E’
É
elle
ele
.
(
Sae
Sai
)
D.
DOM
BRAZ
Já
!...
! ...
!
...
CHICO
(
Fatigado
)
Ah
...
Não
sabe
o
qui
lá
vae
vai
!
D.
DOM
BRAZ
(
Impaciente
)
O
que
foi
?
Diga
.
Rebentou
?
Aposto
que
rebentou
?
CHICO
E’
É
certo
.
Lh’o
Lho
disséram
disseram
?!
? !
?
!
D.
DOM
BRAZ
Não
,
advinhei
adivinhei
.
Eu
tambem
também
advinho
adivinho
.
Com
que
rebentou
o
forno
.
O
bronze
caiu
em
jorros
...
alastrou
tudo
!
Adeus
metal
,
adeus
fôrma
forma
,
adeus
memoria
memória
!
Cavallo
Cavalo
,
cavalleiro
cavaleiro
...
tudo
quanto
Martha
fiou
!...
! ...
!
...
(
Rindo
á
à
gargalhada
gargalhada
.
.
)
(
Toca
a
campainha
)
Honorata
,
Honorata
!
Traga
dôce
doce
,
vinho
...
(
Para
Chico
)
Vem
cançado
cansado
,
sente-se
.
Ha-de
Há-de
tomar
uma
colher
de
dôce
doce
.
CHICO
(
Senta-se
e
limpa
o
suor
.
)
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
E
eu
qui
estava
bem
precisadinho
.
D.
DOM
BRAZ
Patetas
!
Metteram-se
Meteram-se
em
camisas
de
onze
varas
,
ahi
aí
tem
.
(
Honorata
traz
doce
e
vinho
)45
D.
DOM
BRAZ
(
Para
Chico
)
Sem
cerimonia
cerimônia
.
(
Chamando
)
Honorata
,
D.
Dona
Mariasinha
Mariazinha
,
ouçam
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Meu
tio
.
D.
DOM
BRAZ
Rebentou
o
forno
!
Não
ha
há
estatua
estátua
,
nem
festas
,
nem
nada
!
(
rindo
)
HONORATA
Ainda
bem
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Ainda
mal
.
(
Sae
Sai
Sae
.
.
)
D.
DOM
BRAZ
O
clero
e
a
nobreza
estão
vingados
.
Sr.
Senhor
Marquez
Marquês
!
O
seu
orgulho
abatido
,
pelas
rachas
insignificantes
d’um
dum
d’
um
pedaço
de
barro
!
Assim
castiga
Deus
a
soberba
dos
homens
,
tornando
a
fraqueza
de
David
,
superior
ás
às
forças
de
Golias
!...
! ...
!
...
CHICO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Préga
Prega
tu
,
qui
eu
mi
vou
rigalando
.
D.
DOM
BRAZ
(
Rindo
comsigo
consigo
)
Já
tenho
pena
de
não
ter
ido
.
Só
a
cara
do
Marquez
Marquês
...
E
a
luneta
...
CHICO
(
Para
Honorata
)
Pode
livar
.
HONORATA
(
Leva
a
bendeja
)
(
Ouvem-se
foguetes
)46
SCENA
CENA
XII
OS
PRECEDENTES
e
MARIASINHA
MARIAZINHA
MARIASINHA
MARIAZINHA
Foguete
!
CHICO
E’
É
verdade
.
D.
DOM
BRAZ
(
Pensando
)
Mau
!
Não
diga
alguem
alguém
que
fui
eu
que
os
deitei
...
E
então
agora
que
o
homem
ha-de
há-de
estar
como
um
tigre
.
(
Outra
girandola
de
foguetes
foguetes
.
.
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Á
À
janella
janela
,
alegre
)
São
na
Fundição
!
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
.
.
)
Vejo
as
festas
.
D.
DOM
BRAZ
Talvez
seja
para
conter
os
animos
ânimos
.
Ordens
do
Marquez
Marquês
.
Lá
menino
é
elle
ele
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Eu
nunca
vi
foguetes
senão
d’alegria
de alegria
d’ alegria
d’
alegria
...
e
E
então
é
porque
foi
bem
succedida
sucedida
a
fundição
da
estatua
estátua
.
D.
DOM
BRAZ
(
Colerico
Colérico
)
Foguetes
são
alegria
!
Dil-o
Di-lo
a
Srª
Senhora
Bacharella
Bacharela
de
Coimbra
.
Pois
não
ha
há
foguetes
na
guerra
,
onde
morre
gente
?
Não
ha
há
foguetes
nos
baptisados
batizados
,
em
que
chóram
choram
as
creanças
crianças
?
Não
ha
há
foguetes
nos
toiros
onde
se
partem
costellas
costelas
e
cabeças
?...
? ...
?
...
Ha
Há
foguetes
para
tudo
.
Até
ha
há
foguetes
tristes
,
os
foguetes
de
lagrimas
lágrimas
.
A
palavra
o
está
dizendo
.
HONORATA
E
bonitos
que
elles
eles
são
.47
CHICO
(
Olhando
para
Mariasinha
Mariazinha
.
)
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Bonita
só
ella
ela
,
a
cachorra
!
Vou
avisar
o
Marquez
Marquês
.
(
Alto
)
Com
licença
...
SCENA
CENA
XIII
OS
PRECEDENTES
,
BENEFICIADO
,
LOBO
,
PACHORA
e
ALFERES
(
Abrem
a
porta
e
entram
rapidamente
depois
de
baterem
com
força
á
à
campainha
)
BENEFICIADO
Aleluia
!
Aleluia
!
D.
DOM
BRAZ
Ora
venham
.
ALFERES
(
Diz
alguma
coisa
baixo
a
Mariasinha
Mariazinha
,
entrega-lhe
uma
carta
,
tudo
com
alguma
rapidez
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Retira-se
depois
de
ter
recebido
a
carta
do
Alferes
)
D.
DOM
BRAZ
Falem
!
Contem
!
Tudo
ás
às
mil
maravilhas
,
não
é
assim
meu
Alferes
?
(
Ironico
Irônico
Ironico
.
.
)
ALFERES
Pelo
que
dizem
os
mestres
...
D.
DOM
BRAZ
Optimo
Ótimo
não
?
(
Sorrindo
)
BENEFICIADO
Correu
o
metal
e
encheu-se
a
fôrma
forma
n’um
num
abrir
e
fechar
d’olhos
de olhos
d’ olhos
d’
olhos
.
ALFERES
E’
É
verdade
.48
D.
DOM
BRAZ
Que
calculo
cálculo
!
Nem
de
mais
,
nem
de
menos
.
BENEFICIADO
Bartholomeu
da
Costa
saiu
logo
a
cumprir
uma
promessa
a
Nossa
Senhora
.
D.
DOM
BRAZ
Pelo
que
vejo
ajustaram-se
para
me
fazer
afinar
?
Como
não
acompanhei
...
BENEFICIADO
Tambem
Também
não
sei
porque
por quê
por que
por
que
?
Alguem
Alguém
disse
,
que
tiveste
medo
do
Marquez
Marquês
.
D.
DOM
BRAZ
Eu
?!...
? ! ...
?
!
...
Pois
d’aqui
daqui
em
deante
diante
hei-de
apparecer
aparecer
em
toda
a
parte
.
Quero-lhe
mostrar
quem
sou
.
Mas
fallemos
falemos
sério
.
Já
sei
que
o
fôrno
forno
rebentou
,
e
se
perdeu
tudo
.
ALFERES
Apenas
uma
pequena
racha
.
Houve
alguma
confusão
;
porém
,
o
genio
gênio
audaz
e
intelligente
inteligente
de
Bartholomeu
da
Costa
,
n’um
num
momento
remediou
o
mal
.
Os
genios
gênios
comprazem-se
em
ter
difficuldades
dificuldades
que
vencer
.
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
E’
É
impossivel
impossível
.
ALFERES
Deitaram-se
ao
fôrno
forno
656
seiscentos e cinquenta e seis
e
meio
quintaes
quintais
de
bronze
.
Levou
28
vinte e oito
horas
a
derreter
;
e
em
8
oito
minutos
,
tinha
enchido
as
fôrmas
formas
.
Na
Europa
não
ha
há
estatua
estátua
de
maior
altura
.
31
Trinta e um
palmos
.49
D.
DOM
BRAZ
O
Alferes
sabe
isso
que
nem
o
Padre
Nosso
.
ALFERES
Ouvi-o
ao
nosso
Joaquim
Machado
,
que
ficou
examinando
a
obra
.
D.
DOM
BRAZ
Esse
sim
,
esse
é
que
ha-de
há-de
fallar
falar
com
conhecimento
de
causa
.
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Ainda
não
posso
crer
!
ALFERES
Decerto
.
LOBO
O
que
dizem
,
mais
para
admirar
,
é
ser
fundida
d’um
dum
d’
um
jacto
jato
.
D.
DOM
BRAZ
Um
jacto
jato
que
levou
8
oito
minutos
!
(
Rindo.
Rindo .
Rindo
.
)
PACHORRA
Um
jacto
jato
,
que
me
ia
matando
o
bixo
bicho
do
ouvido
.
O
bronze
parecia
ferro
em
braza
brasa
,
e
então
gritava
(
Imita
)
zum
,
zum
,
zum
.
Apre
!
Tanto
se
de
dá
como
se
me
deu
.
D.
DOM
BRAZ
Gastaram-se
quintaes
quintais
e
quintaes
quintais
de
bronze
,
a
cêra
cera
subiu
a
quarta
parte
no
preço
,
e
afinal
,
Deus
sabe
como
a
obra
ficaria
.
Por
ora
,
é
thesouro
tesouro
escondido
.
Veremos
quando
sahir
sair
da
toca
,
se
sahir
sair
.
Nem
as
ruas
pódem
podem
com
semelhante
peso
!
O
que
o
Marquez
Marquês
quer
,
é
que
haja
outro
terremoto
,
para
elle
ele
então
apparecer
aparecer
com
algum
novo
calhamaço
de
Providencias
Providências
,
que
juntas
não
valem
,
um50
párrafo
sequer
,
do
jesuita
jesuíta
Fragoso
,
na
sua
obra
De
Regimine
Reipublicae
.
Aquillo
Aquilo
sim
.
3
Três
volumes
macissos
maciços
de
deitar
abaixo
.
PACHORRA
Tanto
se
me
dá
,
como
se
me
deu
.
LOBO
E
havemos
de
perder
as
festas
?
ALFERES
Não
perde
.
D.
DOM
BRAZ
Perde
.
ALFERES
Não
perde
.
D.
DOM
BRAZ
Perde
e
perde
.
Aposto
cem
contra
um
.
ALFERES
(
Com
intenção
puxando
da
bolsa
)
Um
objecto
objeto
de
sua
casa
,
á
à
minha
escolha
,
contra
esta
bolsa
.
D.
DOM
BRAZ
O
que
quizer
quiser
.
A
casa
toda
.
ALFERES
(
Dá
a
bolsa
ao
Beneficiado
)
Faz
favor
.
Guarde
.
BENEFICIADO
Visto
isso
,
passo
de
Beneficiado
a
burra
!
Mas
,
sub
conditione
...51
ALFERES
Qual
?
BENEFICIADO
Quem
perder
,
paga
o
jantar
no
Talaveiras
.
ALFERES
Prompto
Pronto
.
D.
DOM
BRAZ
Idem
.
LOBO
Jantar
,
que
faça
inveja
ao
do
senado
.
PACHORRA
E
dôce
doce
tambem
também
,
sim
?
(
rindo
)
D.
DOM
BRAZ
(
Aos
ouvidos
de
Pachorra
)
Dôce
Doce
,
dôce
doce
!
goloso
Guloso
Goloso
!
SCENA
CENA
XIV
OS
PRECEDENTES
e
HONORATA
HONORATA
(
Com
dôce
doce
e
vinho
)
Aqui
está
!
TODOS
Bravo
!
Viva
!
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Valha-te
uma
figa
.52
LOBO
Chama-se
a
isto
pagar
adiantado
.
ALFERES
Ha-de
Há-de
ser
mal
servido
.
D.
DOM
BRAZ
Como
ganho
a
aposta
...
ALFERES
Como
perde
...
BENEFICIADO
(
Comendo
)
Nós
ganhamos
sempre
.
(
Bebe
Bebe
.
.
)
LOBO
E
PACHORRA
Sempre
.
(
Bebem
.
)
(
CAE
CAI
O
PANNO
PANO
)
ACTO
ATO
SEGUNDO
Grande
pateo
pátio
,
com
alpendre
em
roda
.
Portão
ao
fundo
.
Ao
lado
,
e
encostadas
á
à
parede
espingardas
e
um
tambor
.
Por
baixo
do
alpendre
bancos
em
amphiteatro
anfiteatro
.
A
um
dos
lados
cadeiras
.
Portas
lateraes
laterais
,
ao
meio
;
e
duas
pequenas
á
à
bocca
boca
,
occultas
ocultas
com
reposteiros
.
A’
À
direita
logares
lugares
para
mulher
,
á
à
esquerda
para
homem
.
Serpentinas
guarnecendo
os
pilares
do
alpendre
:
lustres
de
vela
por
baixo
,
etc
etc
.
.
SCENA
CENA
I
ALFERES
,
SARGENTO
e
SOLDADOS
(
Sentinella
Sentinela
a
cada
uma
das
tres
três
portas
principaes
principais
.
)
1.º
Primeiro
SOLDADO
(
Para
o
2.º
segundo
que
está
abrindo
a
bocca
boca
)
Tens
somno
sono
?
2.º
Segundo
SOLDADO
E’
É
somno
sono
maroto
.
Queria
ver
se
petiscava
;
que
o
toque
de
recolher
ha-de
há-de
ser
hoje
a
boas
horas
.
Deus
sabe
quando
acabarão
as
danças
;
e
d’ahi
daí
dahi
,
a
alvorada
não
muda
...
1.º
Primeiro
SOLDADO
Não
acabará
tarde
.
Pelos
modos
não
é
a
valer
:
é
ensaio
.54
2.º
Segundo
SOLDADO
Ah
...
são
São
escaramuças
.
A
batalha
fica
para
o
dia
da
festa
.
1.º
Primeiro
SOLDADO
Já
sabes
,
que
sae
sai
tudo
fardado
de
novo
?
2.º
Segundo
SOLDADO
Bem
sei
.
Já
tomei
medida
.
Mas
tenho-lhe
um
medo
...
1.º
Primeiro
SOLDADO
De
quê
?
2.º
Segundo
SOLDADO
Ora
de
quê
?
De
que
nos
saia
da
pelle
pele
.
Não
digo
tudo
,
mas
algum
galão
,
alguma
borla
,
a
fita
do
cabello
cabelo
...
quando
Quando
mais
não
seja
as
ligas
dos
calções
!
O
capitão
sempre
lá
ha-de
há-de
escabichar
algum
pendurocalho
penduricalho
,
com
que
nos
favoreça
.
1.º
Primeiro
SOLDADO
Verdade
seja
,
que
nos
dias
de
festa
sempre
ha
há
melhor
rancho
.
Fica
ella
ela
por
ella
ela
.
2.º
Segundo
SOLDADO
Ella
Ela
por
ella
ela
!
Faça
alto
,
que
é
ronda
,
se
melhor
fôr
for
o
rancho
,
melhor
o
havemos
de
pagar
.
1.º
Primeiro
SOLDADO
Por
paga
...
a
A
guarda
hoje
é
para
a
cidade
?
Ou
temos
alguma
china
china
!
!
(
Fazendo
signal
sinal
de
dinheiro
dinheiro
.
.
)
Deverão
dar
pelo
menos
um
quarto
de
oiro
ao
sargento
,
carinhas
ao
cabo
de
esquadra
;
e
meias
carinhas
a
cada
soldado
.55
2.º
Segundo
SOLDADO
Oh
!
já
Já
te
não
contenta
menos
de
um
cruzado
?!
? !
?
!
Pois
espera
,
que
já
foi
.
Não
vês
,
que
são
coisas
da
casa
dos
24
vinte e quatro
,
e
que
o
Juiz
do
Povo
é
compadre
do
Marquez
Marquês
.
1.º
Primeiro
SOLDADO
Elle
Ele
assiste
?
2.º
Segundo
SOLDADO
E’
É
de
crer
.
O
homem
é
como
Deus
;
está
em
toda
a
parte
:
faz
tudo
,
e
de
tudo
sabe
;
se
até
dizem
,
que
sabe
o
Regulamento
!
1.º
Primeiro
SOLDADO
O
nosso
Regulamento
?!
? !
?
!
2.º
Segundo
SOLDADO
Não
ha
há
outro
.
1.º
Primeiro
SOLDADO
Lá
é
muito
.
Um
paizana
paisana
!
paisana
!
2.º
Segundo
SOLDADO
Não
que
elle
ele
foi
soldado
nos
seus
tempos
.
1.º
Primeiro
SOLDADO
Ta
,
tá
,
ta
,
tá
!
Por
isso
elle
ele
é
tão
amigo
da
tropa
.
2.º
Segundo
SOLDADO
O
conde
Lippes
,
abaixa-lhe
a
cabeça
!
e
E
até
El-Rei
!
Isto
ouvi-o
eu
mesmo
dizer
ao
nosso
Alferes
.
1.º
Primeiro
SOLDADO
Basta
que
foi
soldado
!
Pois
d’aqui
daqui
por
diante
,
hei-de-lhe56
chamar
ás
às
armas
,
e
fazer
a
continencia
continência
,
com
melhor
vontade
.
E’
É
um
home
,
está
dito
.
(
Dão
Ave-Marias
em
diversas
torres
.
A
sentinella
sentinela
do
fundo
chama
A’s
às
armas
.
Forma
a
guarda
,
com
o
tambor
á
à
direita
direita
.
.
)
ALFERES
(
Manda
)
Pegar
nas
armas
.
Armas
ao
hombro
ombro
.
Tirar
chapeos
chapéus
.
(
Põe-se
na
frente
da
guarda
e
diz
ao
Tambor
Tambor
.
.
)
Toca
a
retreta
.
(
O
Tambor
dá
tres
três
rufos
,
e
depois
o
remate
do
toque
.
O
Alferes
manda
manda
.
.
)
Pôr
chapeos
chapéus
.
Descansar
sobre
as
armas
.
Primeira
fórma
forma
!
Cuidado
que
são
6
seis
tempos
,
e
eu
quero
vel-os
vê-los
ve-los
fazer
todos
com
egualdade
igualdade
,
e
ligeireza
.
(
Manda
Manda
.
.
)
Descansar
sobre
as
armas
.
(
Depois
de
feito
o
movimento
movimento
.
.
)
Armas
em
terra
.
Em
frente
,
dobrado
marche
.
Alto
!
Firmeza
!
O
soldado
na
fórma
forma
é
uma
estatua
estátua
ainda
que
lhe
caia
a
cabeça
,
não
a
deve
apanhar
.
(
Passa
revista
a
um
soldado
mal
arranjado
puxando-lhe
pela
vestia
véstia
vestia
.
.
)
Tens
a
vestia
véstia
fóra
fora
do
seu
logar
lugar
.
Este
chapeo
chapéu
mais
á
à
frente
.
O
soldado
,
que
não
faz
gosto
em
andar
aceiado
asseado
,
"
diz
o
Regulamento
capitulo
capítulo
16
dezesseis
,
n.º
número
10
dez
"
é
provavel
provável
,
que
no
seu
interior
seja
mais
paisano
do
que
militar
.
(
Pausa
)
Cuidado
!
(
Manda
Manda
.
.
)
O
centro
é
firme
,
e
os
flancos
avançam
a
formar
o
circulo
círculo
,
dobrado
marche
!
(
Depois
de
formado
o
circulo
círculo
)
Direita
volver
.
Tirar
chapeos
chapéus
.
Concertem
os
rabichos
.
(
Os
soldados
põem
os
chapeos
chapéus
no
chão
,
abrem
as
patronas
,
tiram
pente
e
borla
com
pós
,
e
cada
um
pentêa
penteia
o
que
lhe
fica
em
frente
.
Entram
moços
a
accender
acender
os
lustres
etc
.
Vão
entrando
espectadores
:
homens
para
a
galeria
esquerda
,
e
mulheres
para
a
direita
.
Vem
Vêm
tambem
também
entrando
as
dançarinas
dos
dois
ranchos
;
o
das
Hortelôas
Horteloas
,
e
o
das
Ribeira
do
Peixe
,
vestidas
a
caracter
caráter
:
as
primeiras
trajam
de
verde
,
com
galão
de
ouro
;
coifas
verdes
bordadas
do
mesmo
:
bandas
de
flores
a
tira-colo
tiracolo
,
e
ramalhetes
de
flores
na
mão
.
As
segundas
etc
.
Tudo
conforme
os
figurinos
figurinos
.
.
)
ALFERES
(
Depois
de
compostos
os
rabichos
)
)
Pôr
chapeos
chapéus
.
Destroçar
.
(
Os
soldados
espalham-se
alguns
saem
pelo
fundo
,
incluso
o
2.º
segundo
soldado
soldado
.
.
)57
2.º
Segundo
SOLDADO
(
Volta
do
fundo
pára
para
a
pequena
distancia
distância
do
alferes
e
faz
continencia
continência
dando
a
competente
patada
com
o
pé
direito
)
ALFERES
Guarde
a
distancia
distância
.
2.º
Segundo
SOLDADO
(
Depois
de
dar
um
passo
á
à
rectaguarda
retaguarda
)
Estão
lá
fóra
fora
uns
sugeitos
sujeitos
,
que
procuram
o
meu
Alferes
.
(
Faz
continencia
continência
e
dá
meia
volta
á
à
direita
direita
.
.
)
ALFERES
Está
feito
.
(
Vae
Vai
ao
fundo
e
volta
com
os
amigos
amigos
.
.
)
SCENA
CENA
II
OS
PRECEDENTES
,
D.
DOM
BRAZ
,
BENEFICIADO
,
LOBO
e
CHICO
ALFERES
(
Explicando
)
Aqui
é
para
o
sexo
feminino
;
ali
para
o
masculino
,
Granadeiros
,
a
um
lado
,
fusileiros
fuzileiros
a
outro
.
A
1.ª
primeira
divisa
militar
é
a
ordem
.
D.
DOM
BRAZ
Quando
não
é
a
ultima
última
.
ALFERES
Não
se
trata
do
abuso
.
D.
DOM
BRAZ
D’elles
Deles
Delles
é
que
eu
me
queixo
.
CHICO
Olé
.58
ALFERES
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Embirro
com
o
tal
chamiço
.
(
Designando
Chico
.
)
BENEFICIADO
Pois
eu
queixo-me
dos
usos
:
d’este
deste
por
exemplo
,
de
andar
amortalhado
em
uma
sáca
saca
de
carvão
,
sempre
de
saia
preta
.
LOBO
Preta
!
Não
lhe
chames
nomes
.
BENEFICIADO
Será
castanha
,
mas
n’esse
nesse
caso
és
tu
o
ouriço
.
LOBO
Castanha
!
De
furta côres
furta-cores
furta-côres
furtacôres
.
BENEFICIADO
Mas
tudo
é
meu
;
até
as
chócas
chocas
:
tenho-as
de
dois
annos
anos
!
D.
DOM
BRAZ
O
que
admira
,
graças
(
ironico
irônico
)
á
à
limpeza
da
cidade
.
Já
temos
,
na
cidade
baixa
,
meia
duzia
dúzia
de
canos
geraes
gerais
...
Sei
,
que
em
vez
de
ruas
ha
há
atoleiros
!
BENEFICIADO
Antes
assim
.
Ao
menos
,
dá-se
essa
desculpa
,
e
anda
a
gente
á
à
vontade
.
D.
DOM
BRAZ
Acabaram
com
o
uso
das
pretas
...
Deram-lhe
liberdade
,
agora
ahi
aí
as
tem
,
fazendo-se
fidalgas
,
sem
quererem
ir
á
à
praia
!59
ALFERES
Antes
foi
essa
uma
providencia
providência
,
que
faz
honra
ao
Marquez
Marquês
.
As
pretas
são
creaturas
criaturas
como
nós
os
brancos
.
D.
DOM
BRAZ
Macacos
com
alma
branca
!...
! ...
!
...
(
sorrindo
sorrindo
.
.
)
ALFERES
Olhe
que
aqui
o
senhor
(
a
Chico
)
póde
pode
desconfiar
.
D.
DOM
BRAZ
O
senhor
não
é
preto
.
ALFERES
E’
É
côr
cor
de
pinhão
.
CHICO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Atrévido
Atrevido
Atrévido
!
!
LOBO
Calem-se
.
Se
as
ruas
estivessem
todas
como
as
da
baixa
não
havia
a
pasmosa
sciencia
ciência
de
patinhar
na
lama
sem
se
salpicar
:
sciencia
ciência
,
que
a
Universidade
ainda
não
reconheceu
,
mas
que
já
conta
grandes
doutores
,
nos
frades
Gracianos
.
BENEFICIADO
E’
É
verdade
:
o
chamado
picadeiro
dos
frades
da
Graça
.
Atravessam
Alfama
,
sem
um
salpico
nas
meias
!
ALFERES
(
A
Chico
)
O
senhor
pelo
que
vejo
,
andou
no
picadeiro
.60
SCENA
CENA
III
OS
PRECEDENTES
e
o
JUIZ
DO
POVO
ALFERES
(
Vendo
o
juiz
)
Ate
Até
já
.
(
Vae
Vai
ter
com
elle
ele
cumprimenta-se
e
conversam
baixo
baixo
.
.
)
(
Lobo
e
Beneficiado
passeiam
e
analysam
analisam
.
Chico
e
D.
Dom
Braz
vem
vêm
para
a
scena
cena
scena
.
.
)
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Chico
)
Juiz
do
Povo
!
Um
compadre
do
Marquez
Marquês
!
Que
povo
e
que
juiz
!
CHICO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
D.
Dom
Braz
)
O
tal
militarsinho
militarzinho
é
bem
confiado
.
Estive
para
lhe
ir
ás
às
tábaqueiras
tabaqueiras
:
se
não
fosse
parente
do
sr.
senhor
D.
Dom
Braz
.
D.
DOM
BRAZ
Não
faça
caso
.
Estes
partidarios
partidários
do
Marquez
Marquês
em
lhe
bolindo
bulindo
no
idolo
ídolo
,
perdem
o
juizo
juízo
.
CHICO
Hei-de
pidir-lhe
uma
sátisfação
satisfação
sátisfação
.
.
D.
DOM
BRAZ
Dá-lhe
alguma
cutilada
.
CHICO
E’
É
o
mata
gente
!
D.
DOM
BRAZ
Mata
,
e
esfola
.
Tem
pulso
,
e
é
desembaraçado
.
Lá
n’isso
nisso
mostra
ser
meu
parente
;
não
degenerou
.61
CHICO
Santa
Barbara
Bárbara
!
Amigo
do
Marquez
Marquês
e
valentão
!
Apri
lá
!
SCENA
CENA
IV
OS
PRECEDENTES
e
o
ENSAIADOR
,
MARIASINHA
MARIAZINHA
,
HONORATA
,
MARANHÔA
MARANHOA
e
CASIMIRA
ENSAIADOR
(
Ao
Juiz
do
Povo
)
Está
tudo
prompto
pronto
.
ALFERES
(
Ao
Juiz
do
Povo
)
Vae
Vai
começar
?
JUIZ
Logo
que
chegue
S.
Sua
Ex.ª
Excelência
(
Mariasinha
Mariazinha
e
Honorata
sentam-se
á
à
direita
direita
.
.
)
MARANHÔA
MARANHOA
Aqui
,
ficam
ao
pintar
.
HONORATA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Ai
Honorata
da
Purificação
,
em
que
te
metteste
meteste
!
MARANHÔA
MARANHOA
Se
precisar
alguma
coisa
chame
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Pois
sim
.
MARANHÔA
MARANHOA
(
Em
scena
cena
analisando
as
dançarinas
.
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Casimira
)
Em
tu
apparecendo
aparecendo
vestida
,
nenhuma
te
deita
agua
água
ás
às
mãos
.62
CASIMIRA
Estou
por
isso
.
D.
DOM
BRAZ
(
Dá
com
os
olhos
em
Maranhôa
Maranhoa
.
Senta-se
.
)
O’
Ó
diabo
!
A
Maranhôa
Maranhoa
.
Se
me
vê
vae-o
vai-o
contar
a
minha
sobrinha
!
(
Esconde-se
Esconde-se
.
.
)
HONORATA
(
Repara
em
Chico
.
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Mariasinha
Mariazinha
)
Ai
!
menina
Menina
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Honorata
)
Que
foi
?
HONORATA
(
Sem
olhar
.
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Mariasinha
Mariazinha
)
Olhe
quem
ali
está
.
Credo
!
credo
Credo
!
Patre
nóstre
nóstre
.
nostre
.
(
Voltando
o
rosto
e
escondendo-se
escondendo-se
.
.
)
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Chico
)
Veja
se
ella
ela
olha
para
cá
.
CHICO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
D.
Dom
Braz
)
Não
olha
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Honorata
)
A
peste
do
carióca
carioca
,
que
havia
de
cá
vir
.
HONORATA
(
Para
Mariasinha
Mariazinha
)
Vae-o
Vai-o
dizer
a
seu
tio
.
D.
DOM
BRAZ
(
Para
Chico
)
Vae-o
Vai-o
dizer
a
minha
sobrinha
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Para
Honorata
)
Vê
,
se
elle
ele
olha
para
cá
.63
HONORATA
(
Sem
olhar
para
elle
ele
)
Eu
não
vejo
nada
.
(
Lobo
e
Beneficiado
chegam
ao
pé
de
D.
Dom
Braz
Braz
.
.
)
D.
DOM
BRAZ
Cheguem-se
.
Escondam-me
de
Maranhôa
Maranhoa
.
CHICO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
D.
Dom
Braz
)
Ella
Ela
ahi
aí
vem
.
(
Maranhôa
Maranhoa
,
conversando
com
Casimira
approxima-se
aproxima-se
;
e
logo
depois
affasta-se
afasta-se
e
vae
vai
ao
pé
de
Mariasinha
Mariazinha
Mariasinha
.
.
)
D.
DOM
BRAZ
Cheguem-se
.
CHICO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
D.
Dom
Braz
)
Ritira
(
Falla
Fala
de
Maranhôa
Maranhôa
.
Maranhoa
.
)
BENEFICIADO
Temos
fósquinhas
fosquinhas
!
CHICO
Já
se
foi
.
D.
DOM
BRAZ
Bom
.
(
Levanta-se
.
Ao
Beneficiado
Beneficiado
.
.
)
Não
quero
,
que
minha
sobrinha
saiba
,
que
eu
vim
cá
.
HONORATA
(
Dá
com
os
olhos
em
D.
Dom
Braz
.
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Mariasinha
Mariazinha
)
Jesus
!
Jesus
!
Jesus
!
Santos
Deus
,
santos
fortes
!...
! ...
!
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Que
é
?!64
? !
?
!
MARANHÔA
MARANHOA
Que
é
?!
? !
?
!
HONORATA
Elle
Ele
em
pessoa
!
Seu
tio
!
Vamo-nos
d’aqui
daqui
.
(
Levantando-se
)
)
MARANHÔA
MARANHOA
Deixe-o
ser
.
Aqui
não
se
faz
moeda
falsa
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
E
se
é
máo
mau
,
para
que
veio
?
HONORATA
Homens
são
homens
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Mas
,
para
que
me
enganou
?
Para
que
disse
,
que
não
vinha
?!
? !
?
!
Ó
Comadre
,
vá-lhe
passar
por
diante
,
que
talvez
,
com
medo
que
o
veja
,
se
vá
.
MARANHÔA
MARANHOA
Já
.
(
Indo-se
)
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Mas
finja
que
o
não
vê
.
MARANHÔA
MARANHOA
Percebo
.
(
Passeia
proximo
próximo
de
D.
Dom
Braz
)
.
CHICO
Lá
vem
.
D.
DOM
BRAZ
(
Senta-se
de
repente
repente
.
.
)
Maldita
!65
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Rindo
a
Honorata
)
Está
com
elle
ele
.
HONORATA
(
A
Mariasinha
Mariazinha
)
.
Valha-a
Deus
.
BENEFICIADO
Eu
a
entretenho
—
Como
está
sr.ª
senhora
Maranhôa
Maranhoa
?
MARANHÔA
MARANHOA
Para
o
servir
:
e
o
sr.
senhor
Beneficiado
?
BENEFICIADO
Menos
mal
.
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Lobo
)
Olha
?
LOBO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
D.
Dom
Braz
)
E
com
cada
olho
!
MARANHÔA
MARANHOA
(
Tira
a
caixa
do
tabaco
e
offerece
oferece
)
E’
É
servido
?
(
Chegando-se
)
BENEFICIADO
Pois
não
.
E’
É
sempre
tão
fresquinho
...
MARANHÔA
MARANHOA
Com
sua
licença
...
BENEFICIADO
Adeos
Adeus
.
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
D.
Dom
Braz
)
Foi-se
.66
D.
DOM
BRAZ
(
Levantando-se
)
E
eu
tambem
também
.
Fóra
Fora
com
a
tal
pipa
!
(
Querendo
ir-se
ir-se
.
.
)
LOBO
Vae
Vai
principiar
.
D.
DOM
BRAZ
Estou
farto
de
andar
abaixo
e
acima
.
Safa
!
(
Quer
ir-se
)
BENEFICIADO
Espera
.
JUIZ
Vamos
a
isto
.
BENEFICIADO
Deo
gratias
.
ENSAIADOR
DAS
DANÇAS
S.
Sua
Ex.ª
Excelência
não
vem
?
JUIZ
Manda
que
começe
comece
o
ensaio
,
e
nada
mais
.
ALFERES
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Nunca
diz
o
que
faz
.
ENSAIADOR
(
Bate
as
palmas
)
Rancho
das
Hortelôas
Horteloas
.
Mascaras
Máscaras
.
(
Os
espectadores
sentam-se
.
Reunem-se
Reúnem-se
as
do
Rancho
Rancho
.
.
)
)
ENSAIADOR
Rancho
da
Ribeira
do
Peixe
.
—
Comparsas
.67
JUIZ
Aos
outros
Ranchos
,
estão-se-lhes
apromptando
aprontando
os
fatos
.
Se
lhe
parece
ensaiam-se
estes
,
e
os
outros
quando
S.
Sua
Ex.ª
Excelência
determinar
.
ENSAIADOR
De
certo
.
(
Com
importancia
importância
para
as
da
Ribeira
do
Peixe
)
Sentem-se
.
Primeiro
ensaiam-se
as
Hortelôas
Horteloas
.
(
Pucha
Puxa
d’um
dum
d’
um
papel
)
Silencio
Silêncio
!
Attenção
Atenção
!
(
Lê
)
As
Collarejas
Colarejas
acompanham
o
carro
da
Europa
.
Curraleiras
o
da
America
América
.
Hortelôas
Horteloas
o
da
Asia
Ásia
,
e
Ribeira
do
Peixe
o
da
Africa
África
.
(
Vae
Vai
ao
fundo
pega
na
Alabarda
do
Sargento
e
crava-a
no
chão
)
Esta
é
a
memoria
memória
.
O
rancho
e
mascaras
máscaras
,
chegam
diante
,
fazem
alas
e
saúdam
a
real
estatua
estátua
com
as
tres
três
cortezias
cortesias
da
etiqueta
.
Já
se
sabe
:
corpo
direito
,
cabeça
levantada
,
com
boa
compostura
,
braços
naturalmente
cahidos
caídos
,
pontas
dos
pés
para
fóra
fora
e
os
passos
moderados
,
nem
curtos
nem
compridos
.
(
Executa
o
que
disse
)
Depois
,
entôa-se
entoa-se
o
côro
coro
laudatorio
laudatório
,
etc.
,
etc.
;
e
segue-se
o
demi-coupé
.
E
cuidado
:
olhem
que
sem
o
demi-coupé
,
ninguem
ninguém
jamais
saberá
dançar
,
nem
passear
...
nem
mesmo
andar
,
ao
menos
como
gente
.
Emfim
Enfim
,
não
ha
há
passo
do
minuête
minuete
,
que
não
comece
pelo
demi-coupé
.
Vejam
a
sua
importancia
importância
!
BENEFICADO
(
Para
D.
Dom
Braz
)
Que
tal
está
o
pregador
do
oiteiro
?
D.
DOM
BRAZ
(
Para
o
Beneficiado
)
Ensaiador
de
curraleiras
!
ENSAIADOR
Estão
bem
certas
no
demi-coupé
?
UMA
Eu
estou
.68
OUTRA
Eu
tambem
também
.
OUTRA
São
3
três
figuras
,
não
são
?
ENSAIADOR
Mais
propriamente
4
quatro
.
Attenção
Atenção
(
Executa
tudo
quanto
diz
)
Põe-se
o
pé
direito
na
primeira
opposição
oposição
e
levanta-se
o
salto
,
prompto
pronto
a
marchar
.
Depois
vae
vai
o
pé
direito
á
à
primeira
opposição
oposição
,
juntam-se
os
dois
saltos
,
dobram-se
os
joelhos
,
com
egualdade
igualdade
,
segurando
o
corpo
sobre
o
pé
esquerdo
,
e
tendo
o
salto
direito
levantado
.
Dobrados
os
joelhos
,
o
pé
direito
vae
vai
adiante
,
em
4.ª
quarta
opposição
oposição
,
sem
levantar
o
corpo
;
e
ao
tempo
de
levantar
segura-se
sobre
a
ponta
do
pé
direito
,
ficando
as
pernas
firmes
e
juntas
sobre
as
pontas
dos
pés
,
e
os
dois
saltos
assentam
finalmente
no
chão
.
Concluindo
o
demi-coupé
,
os
comparsas
conservam-se
firmes
,
e
o
Rancho
começa
a
dança
.
Finda
ella
ela
,
todos
cortejam
de
novo
a
regia
régia
estatua
estátua
,
o
carro
avança
,
e
todos
retiram
.
Attenção
Atenção
á
à
musica
música
.
(
Volta-se
para
a
orchestra
orquestra
)
Toque
.
(
A
orchestra
orquestra
toca
e
o
rancho
executa
)
ENSAIADOR
(
Durante
a
dança
a
uma
e
outra
)
Graça
Nini
.
Mais
flexibilidade
!
Bravo
!
(
Batendo
as
palmas
no
fim
)
.
BENEFICADO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
D.
Dom
Braz
)
Vão
bem
.
D.
DOM
BRAZ
Hum
...
JUIZ
(
Ao
Ensaiador
)
Muito
bem
.
ALFERES
(
Ao
Ensaiador
)
E
melhor
irão
no
dia
proprio
próprio
.69
ENSAIADOR
Mas
que
trabalho
!
Isto
é
que
se
chama
fazer
das
pedras
pão
.
JUIZ
De certo
Decerto
.
SCENA
CENA
V
OS
PRECEDENTES
,
JOAQUIM
MACHADO
,
BARTHOLOMEU
ALFERES
(
Cumprimenta
Bartholomeu
e
Machado
,
ao
ensaiador
designando
)
O
ousado
fundidor
,
sr.
senhor
Bartholomeu
da
Costa
,
o
insigne
estatuario
estatuário
o
sr.
senhor
Joaquim
Machado
.
JUIZ
Dois
genios
gênios
que
honram
a
patria
pátria
.
(
Conversam
baixo
e
passeiam
.
Entram
creados
criados
com
bandejas
de
doce
e
refrescos
.
Grande
profusão
de
serviço
.
Movimento
.
)
)
MARANHÔA
MARANHOA
(
Vae
Vai
ter
com
Mariasinha
Mariazinha
,
levando-lhe
uma
bandeja
de
doce
e
copos
de
capillé
capilé
)
Tem
gostado
,
comadre
?
MARIA
(
Servindo-se
do
dôce
doce
)
Muito
.
MARANHÔA
MARANHOA
Sirva-se
,
faz
um
calor
...
(
Depois
de
a
servir
retira-se
para
a
scena
cena
e
entrega
a
bandeja
a
um
creado
criado
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
Abrasa
.
ALFERES
(
A
D.
Dom
Braz
depois
de
ter
conversado
com
Joaquim
Machado
)
Saibam
que
a
estatua
estátua
,
é
não
só
a
obra
mais
gigantesca
,
e
aprimorada
,
saída
de
fundição
portugueza
portuguesa
,
mas
talvez70
das
da
Europa
.
Quando
se
desenterrou
,
diz
Joaquim
Machado
,
que
parecia
uma
arvore
árvore
de
bronze
,
o
tronco
era
a
memoria
memória
,
e
os
ramos
os
immensos
imensos
gitos
jitos
,
esses
pedacinhos
de
metal
que
sempre
ficam
pegados
ao
objecto
objeto
fundido
,
e
que
se
cortam
depois
.
Joaquim
Machado
acaba
de
lhe
dar
o
ultimo
último
toque
,
de
sorte
que
a
nossa
aposta
...
(
Sorrindo
para
D.
Dom
Braz
)
.
D.
DOM
BRAZ
Devagar
.
Ainda
mesmo
,
estando
a
obra
como
diz
,
o
leval-a
leva-la
levá-la
da
cova
na
fundição
ao
pedestal
no
Terreiro
do
Paço
,
não
é
tão
pouco
.
(
Para
os
companheiros
)
Veremos
quem
tem
forças
para
resuscitar
ressuscitar
o
pobre
Lazaro
Lázaro
?
(
Rindo
)
CHICO
Dicerto
Dicerto
.
.
ALFERES
Bartholomeu
diz
que
é
facilimo
facílimo
.
Inventou
um
systema
sistema
d’alavancas
de alavancas
d’ alavancas
d’
alavancas
,
que
só
com
8
oito
homens
suspende
a
estatua
estátua
e
a
colloca
coloca
sobre
a
grande
zôrra
zorra
de
transporte
.
D.
DOM
BRAZ
(
Para
os
companheiros
)
Alferes
,
o
ridiculo
ridículo
é
o
abysmo
abismo
da
vaidade
.
O
seu
homem
não
escapa
d’esta
desta
.
ALFERES
Da
memoria
memória
?!
? !
?
!
(
Rindo
)
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
aos
companheiros
)
Sim
,
senhor
,
da
memoria
memória
,
que
não
é
tão
facil
fácil
como
ter
pintor
comprado
,
para
tirar
esses
retratos
favorecidos
com
que
se
manda
abarrotar
as
lojas
de
Portugal
e
de
todo
o
mundo
!
(
Levanta-se
um
pouco
o
reposteiro
da
porta
proxima
próxima
e
o
Marquez
Marquês
escuta
)
Tenho
como
mais
perigosa
a
memoria
memória
,
do71
que
expulsar
essa
santa
gente
da
Companhia
,
que
possuindo
forças
para
esmagar
cem
Marquezes
Marqueses
,
se
resignaram
a
soffrer
sofrer
tantos
males
,
cuidando
assim
affastar
afastar
,
com
o
seu
doloroso
sacrificio
sacrifício
,
algum
raio
da
ira
celeste
,
proximo
próximo
a
cair
sobre
esta
infeliz
terra
.
Oh
!
virtude
Virtude
!
virtude
Virtude
!
(
Tem-se
chegado
insensivelmente
para
a
porta
lateral
,
como
para
conversarem
mais
a
sós
)
SCENA
CENA
VI
OS
PRECEDENTES
e
o
MARQUEZ
MARQUÊS
A
pequena
porta
lateral
esquerda
tem-se
aberto
durante
a
falla
fala
de
D.
Dom
Braz
.
O
Marquez
Marquês
apparece
aparece
e
impõe
silencio
silêncio
com
o
gesto
a
Chico
,
que
o
vira
,
e
lhe
fizera
venia
vênia
.
Chico
aponta
para
D.
Dom
Braz
.
O
Marquez
Marquês
fita-o
fita-o
.
.
)
MARQUEZ
MARQUÊS
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
tendo
observado
D.
Dom
Braz
)
O
que
elles
eles
espalham
!
Coitados
.
É
semente
que
já
não
vinga
.
ALFERES
Com
que
os
jesuitas
jesuítas
,
podiam
resistir
e
não
quizeram
quiseram
.
É
ideia
nova
.
D.
DOM
BRAZ
Nova
para
quem
...
ALFERES
Para
quem
não
está
iniciado
nos
mysterios
mistérios
da
mónita
mônita
secreta
.
Agora
o
que
tambem
também
julgo
mysterio
mistério
,
é
como
n’essa
nessa
estatua
estátua
se
cifra
a
queda
do
Marquez
Marquês
.
D.
DOM
BRAZ
O
Alferes
vê
muito
pouco
.
(
Mais
baixo
aos
quatro
)
Pois
não
se
vê
,
que
a
memoria
memória
é
obra
do
Marquez
Marquês
e
que
figurando
n’ella
nela
nella
o
seu
busto
,
é
o
mesmo
que
abrir
a
si
proprio
próprio
a
sepultura
e
lavrar-lhe
o
epitaphio
epitáfio
?
E
que
será
isto
senão
amor
proprio
próprio
?72
MARQUEZ
MARQUÊS
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Livre-me
Deus
dos
que
o
não
tem
têm
.
D.
DOM
BRAZ
E
depois
,
as
injustiças
,
as
violencias
violências
...
Ha
Há
casa
pobre
,
em
que
tem
sido
lançada
duas
e
trez
três
fintas
,
em quanto
emquanto
enquanto
outras
,
não
tem
pago
uma
!
Não
escapou
tenda
,
taberna
,
moleiro
,
fazendeiro
de
Lisboa
e
termo
,
tudo
tem
sido
fintado
;
tudo
tem
pago
e
ai
do
que
no
dia
prefixo
o
não
faz
;
que
sem
mais
demora
,
ou
processo
o
levam
á
à
cadeia
!
(
Baixo
)
O
Juiz
do
Povo
recebe
e
não
passa
recibo
!
Pois
os
desperdicios
desperdícios
!
Para
tudo
ser
,
até
barris
de
prégos
pregos
se
tem
têm
roubado
?!
? !
?
!
MARQUEZ
MARQUÊS
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Talvez
.
Os
inimigos
são
os
que
ás
às
vezes
fallam
falam
mais
verdade
.
D.
DOM
BRAZ
E
então
tudo
isto
,
não
é
para
fazer
levantar
os
mortos
?!
? !
?
!
MARQUEZ
MARQUÊS
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Os
jesuitas
jesuítas
.
LOBO
(
Que
tem
dado
pelo
Marquez
Marquês
,
pucha
puxa
pela
casaca
de
D.
Dom
Braz
.
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
.
.
)
Silencio
Silêncio
.
D.
DOM
BRAZ
É
a
Maranhôa
Maranhoa
.
Bem
sei
.
Deixal-a
Deixá-la
.
E
tantos
gastos
,
tantos
extravios
,
não
hão-de
accordar
acordar
o
Leão
que
dorme
?!73
? !
?
!
MARQUEZ
MARQUÊS
(
Avançando
com
placidez
)
Não
?!
? !
?
!
O
festejo
é
nacional
,
e
o
povo
portuguez
português
tambem
também
o
é
.
(
Silencio
Silêncio
profundo
.
Venia
Vênia
geral
ao
Marquez
Marquês
)
D.
DOM
BRAZ
(
Embatocado
Embatucado
e
áparte
à parte
á parte
á
parte
)
.
Firmeza
!
MARQUEZ
MARQUÊS
(
Fitando
a
luneta
em
D.
Dom
Braz
.
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
.
Baste-lhe
o
susto
.
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
fitando
o
beneficiado
)
O
Beneficiado
das
chocas
.
Tem
bons
ditos
.
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
fitando
o
Alferes
)
E’
É
dos
meus
.
Boa
espada
.
(
Alto
)
Tratava-se
naturalmente
da
régia
inauguração
.
É
assumpto
assunto
tão
grandioso
,
tão
nacional
,
que
não
admira
traga
suspensa
todas
as
imaginações
de
portuguezes
portugueses
,
quando
já
sôa
soa
lá
por
fóra
fora
o
echo
eco
do
que
nós
presenciámos
presenciamos
.
BENEFICIADO
Fallavamos
Falávamos
da
inauguração
de
Vossa
...
(
Emendando-se
)
promovida
pelos
sabios
sábios
conselhos
de
V.
Vossa
Ex.ª
Excelência
...
MARQUEZ
MARQUÊS
E
o
Padre
approvava
aprovava
,
já
se
vê
...
BENEFICIADO
Quem
não
ha-de
há-de
approvar
aprovar
as
obras
de
V.
Vossa
Ex.ª
Excelência
,
do
architecto
arquiteto
intelligente
inteligente
,
que
desde
o
portão
d’entrada
de entrada
d’ entrada
d’
entrada
,
até
ás
às
aguas-furtadas
águas-furtadas
de
seus
palacios
palácios
,
tem
impresso
o
cunho
da
magnificencia
magnificência
!?!
! ? !
!
?
!
MARQUEZ
MARQUÊS
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
ao
Beneficiado
)
Ha-de
Há-de
saber
,
que
me
não
desagradam
os
bons
ditos
;
mas
cuidado
em
os
não
salgar
demasiado
.
Tome
conta
.74
.
Consta-me
que
o
Padre
é
muito
mexilhão
,
e
se
continuar
hei
de
fazel-o
fazê-lo
faze-lo
sahir
sair
de
Lisboa
.
BENEFICIADO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
ao
Marquez
Marquês
)
Já
:
se
são
esses
os
desejos
de
V.
Vossa
Ex.ª
Excelência
só
peço
uma
graça
.
MARQUEZ
MARQUÊS
Qual
?
BENEFICIADO
Como
V.
Vossa
Ex.ª
Excelência
me
honrou
com
o
barbudo
nome
de
mexilhão
,
peço
que
me
mande
para
Aveiro
,
visto
ser
terra
onde
os
ha
há
melhores
.
MARQUEZ
MARQUÊS
(
Sorrindo
)
Basta
.
(
Olhando
para
D.
Dom
Braz
)
Tambem
Também
,
creio
que
ouvi
dizer
...
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
A
tyrannos
tiranos
bisbantes
responde-se
com
o
despreso
desprezo
.
(
Volta
o
rosto
com
desdem
desdém
)
.
MARQUEZ
MARQUÊS
Alguem
Alguém
censura
uma
ou
outra
falta
nos
aprestos
da
regia
régia
inauguração
.
Em
obra
tão
vasta
,
e
difficil
difícil
,
pequenas
desigualdades
não
são
para
notar
.
Quando
contemplamos
maravilhados
a
magestosa
amplidão
do
Oceano
esquecemo-nos
das
ondas
que
lhe
encrespam
a
superficie
superfície
.
Isto
seja
dito
para
os
portuguezes
portugueses
,
que
o
são
deveras
:
para
esse
povo
generoso
,
que
applaude
aplaude
,
unanime
unânime
,
a
recta
reta
administração
de
El-Rei
,
meu
senhor
(
Faz
menção
de
tirar
o
chapeo
chapéu
)
e
amo
.
Para
algum
se
o
ha
há
,
que
olha
indifterente
indiferente
,
e
,
por ventura
porventura
com
inveja
,
o
nosso
Portugal
de75
hoje
,
subido
á
à
illustração
ilustração
e
independencia
independência
do
feliz
reinado
do
sr.
senhor
D.
Dom
Manoel
;
para
algum
jesuita
jesuíta
da
religião
bastarda
,
que
apenas
vê
salvação
na
roupeta
de
S.
Santo
Ignacio
Ignácio
...
(
Pequena
pausa
)
Não
curemos
em
dar
vista
a
cegos
e
cegos
de
entendimento
que
não
ha
há
cegueira
maior
,
nem
milagre
que
a
cure
.
(
Pausa
solemne
solene
)
Quando
Lisboa
gemia
afflicta
aflita
,
implorando
a
misericordia
misericórdia
divina
,
entre
os
horrores
do
incendio
incêndio
e
do
latrocinio
latrocínio
;
quando
os
ministros
abandonavam
o
throno
trono
,
os
religiosos
o
altar
,
e
todos
fugiam
espavoridos
;
quem
,
senão
a
corajosa
administração
de
El-rei
El-Rei
,
abrio
abriu
depositos
depósitos
com
que
abasteceu
a
cidade
,
protegeu
o
desvalido
,
castigou
crimes
,
e
das
ruinas
ruínas
informes
da
antiga
Lisboa
,
fez
levantar
outra
opulenta
e
formosa
mais
digna
do
que
a
primeira
,
de
cingir
essa
corôa
coroa
invejada
de
rainha
do
Tejo
?!...
? ! ...
?
!
...
Quem
enterrou
os
mortos
e
cuidou
dos
vivos
?
(
Pausa
)
Depois
quem
promulgou
leis
sumptuarias
suntuárias
taxando
o
luxo
,
esse
cancro
da
riqueza
e
moral
dos
povos
?...
? ...
?
...
Quem
alumiou
de
novo
o
templo
da
sciencia
ciência
e
das
lettras
letras
,
que
jazia
em
trevas
?
Quem
reformou
a
Universidade
,
com
Estatutos
,
que
já
admiram
e
seguem
?
Quem
primeiro
deo
deu
mortal
golpe
n’essa
nessa
arvore
árvore
jesuitica
jesuítica
de
fructos
frutos
venenosos
com
que
até
hoje
não
poderam
nações
que
se
dizem
mais
fortes
do
que
nós
?
Quem
regulou
as
rendas
publicas
públicas
chamando-as
a
um
centro
?
Quem
deu
vida
á
à
agricultura
moribunda
?
Quem
ás
às
artes
fabris
as
mãos
e
braços
do
estado
?
Quem
ao
commercio
comércio
,
tornando
Lisboa
o
emporio
empório
do
mundo
?
Quem
policiou
,
quem
edificou
os
caes
cais
,
alfandegas
alfândegas
,
arsenaes
arsenais
,
passeios
e
estradas
?
Quem
restituiu
ao
gremio
grêmio
da
humanidade
esses
infelizes
escravos
,
tornando-os
livres
?
Quem
apagou
essas
fogueiras
de
carne
humana
,
a
cujo
clarão
medonho
,
estremecia
a
innocencia
inocência
,
e
onde
tantas
vezes
expirára
expirara
o
genio
gênio
?
Quem
luctou
lutou
com
o
poder
de
Hespanha
Espanha
e
França
?
Quem
abateu
a
soberba
ingleza
inglesa
,
obrigando-a
a
vir
,
aqui
ás
às
aguas
águas
do
Tejo
,
dar
satisfação
da
sua
ousadia
?
!
Quem
,
finalmente
,
por76
primeira
vez
ordenou
,
que
os
logares
lugares
fossem
dados
ao
prestimo
préstimo
e
não
ao
sangue
,
lançando
em
terra
portugueza
portuguesa
a
mais
fecunda
semente
da
sua
liberdade
e
engrandecimento
?
Quem
foi
?!
? !
?
!
(
Alferes
falla
fala
em
voz
baixa
com
D.
Dom
Braz
,
e
este
faz
um
gesto
de
desprezo
.
Os
demais
ficam
em
religioso
silencio
silêncio
e
como
impressionados
pelas
palavras
do
Marquez
Marquês
Marquez
.
.
)
)
(
CAE
CAI
O
PANNO
PANO
)
ACTO
ATO
TERCEIRO
Largo
da
Fundição
.
O
ponto
de
vista
proximo
próximo
á
à
Ermida
,
e
proximamente
na
altura
do
1.º
primeiro
andar
.
Vê-se
praticavel
praticável
parte
da
calçada
nova
,
e
no
fundo
obliquamente
,
a
fachada
do
Arsenal
,
mar
,
etc
.
A’
À
direita
casa
,
(
sendo
o
1.º
primeiro
andar
,
com
janella
janela
de
adufa
e
porta
praticaveis
praticáveis
)
,
que
figura
fazer
esquina
para
o
largo
da
Fundição
e
rua
do
Jardim
do
Tabaco
.
Colchas
nas
janellas
janelas
janellas
.
.
SCENA
CENA
I
MARANHÔA
MARANHOA
,
CASIMIRA
,
BRITES
e
logo
NETO
e
os
PRETOS
Soldados
da
Guarda
da
Fundição
,
passeando
.
Povo
em
direcções
direções
diversas
,
seguindo
,
a
maior
parte
,
pela
calçada
nova
acima
.
Maranhôa
Maranhoa
e
Casimira
entrando
pela
direita
direita
.
.
MARANHÔA
MARANHOA
(
Bate
á
à
porta
)
BRITES
(
Á
À
janella
janela
)
Quem
é
?
MARANHÔA
MARANHOA
Sou
eu
,
tia
Brites
.
BRITES
Ah
...
(
Vem
abrir
a
porta
porta
.
.
)
(
O
Neto
bem
vestido
,
e
de
chapeu
chapéu
na
mão
,
atravessa
a
scena
cena
,
a
passo
grave
.
Os
dois
pretos
,
armados
d’alabarda
de alabarda
d’ alabarda
d’
alabarda
,
acompanham-no
.
)78
)
CASIMIRA
(
Reparando
no
Neto
)
Olha
o
paspalhão
do
Neto
como
vem
sécio
!
MARANHÔA
MARANHOA
Com
o
seu
chapéo
chapéu
d’implumias
de implumias
d’ implumias
d’
implumias
!
!
Toma
!!
! !
!
!
BRITES
E’
É
o
Herodes
da
casinha
casinha
casinha
!
!
NETO
(
Á
À
parte
ouvindo
as
regateiras
)
Não
fossem
vocês
protegidas
pelo
Juiz
do
Povo
que
...
MARANHÔA
MARANHOA
Ah
!
ladrão
Ladrão
,
quantos
tostões
nos
tens
comido
!
BRITES
Má
punhalada
fria
o
atravesse
.
MARANHÔA
MARANHOA
Açoitado
sejas
tu
,
como
nos
açoitas
!
Fóra
Fora
guloso
!
1.º
Primeiro
PRETO
O’
Ó
siôr
Furunando
.
Vózo
não
ouve
o
riabo
das
muiéres
,
fazendo
canzoada
canzoada
?
?
NETO
(
Ao
preto
)
Não
façam
caso
.
(
Subindo
pela
rampa
)
MARANHÔA
MARANHOA
Pum
!
mata
Mata
o
milhano
!
1.º
Primeiro
PRETO
E’
É
ri
mais
(
Para
as
regateiras
calando
a
alabarda
)
Reixa
tu
stà79
minha
giboia
jiboia
,
meu
ôio
di
saramonête
,
que
o
pai
Flancico
ti
fará
o
catatáo
catatáo
!
catatau
!
2.º
Segundo
PRETO
Ariante
Ariante
.
.
—
Não
ti
metta
meta
em
trabaios
trabaios
.
.
MARANHÔA
MARANHOA
Atxi
!
(
Espirra
)
1.º
Primeiro
PRETO
Canaia
Canaia
!
!
MARANHÔA
MARANHOA
(
Cantando
)
Quem
não
tem
carapinha
.
Não
come
gallinha
galinha
.
(
Rindo
Rindo
.
.
)
1.º
Primeiro
PRETO
(
Zangado
)
Isto
só
atura
plêto
em
terras
de
Portugá
Portugá
!
!
(
Sobe
a
rampa
rampa
.
.
)
BRITES
Entrem
.
(
As
tres
três
entram
para
casa
casa
.
.
)
SCENA
CENA
II
MARIASINHA
MARIAZINHA
,
HONORATA
e
logo
CHICO
(
na
rua
.
)
MARANHÔA
MARANHOA
(
na
janella
janela
.
)
(
(
Aquellas
Aquelas
descem
a
rampa
apressadamente
.
Vêm
de
manto
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Voltando-se
para
Honorata
)
Depressa
,
depressa
!
HONORATA
(
Custando-lhe
a
acompanhar
)
Credo
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Olhando
para
traz
trás
)
Perdeu-nos
de
vista
,
mas
era
elle
ele
o
mofino
do
mulato
.
(
Bate
á
à
porta
de
Brites
)
.80
HONORATA
Ai
!
Já
não
tenho
pernas
para
taes
tais
pressas
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Coitada
!
MARANHÔA
MARANHOA
(
Á
À
janella
janela
,
vendo
as
duas
)
Ah
!
(
Retira-se
e
vae
vai
abrir
a
porta
)
CHICO
(
Aparece
no
alto
da
rampa
,
procura
com
a
vista
.
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
)
Sumiram-se
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
Viva
comadre
.
(
Entra
e
apparece
aparece
pouco
depois
á
à
janella
janela
)
HONORATA
(
Entra
atraz
atrás
de
Mariasinha
Mariazinha
)
Ai
!
CHICO
(
Mais
apressado
e
vendo
as
duas
que
entram
,
áparte
à parte
á parte
á
parte
)
Não
mi
dava
de
apostar
o
rabicho
que
eram
ellas
elas
.
(
Vem
para
a
scena
cena
scena
.
.
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Á
À
janella
janela
,
por
baixo
d’adufa
d’ adufa
d’
adufa
de adufa
apontando
para
Chico
.
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Maranhôa
Maranhoa
)
Vê-o
?
MARANHÔA
MARANHOA
(
Á
À
janella
janela
áparte
à parte
á parte
á
parte
a
Mariasinha
Mariazinha
.
)
Parece-me
o
folião
d’Arruda
de Arruda
d’ Arruda
d’
Arruda
.
(
Rindo
Rindo
.
.
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Maranhôa
Maranhoa
)
Deu-lhe
agora
em
ser
a
minha
sombra
.
MARANHÔA
MARANHOA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Mariasinha
Mariazinha
)
Crédo
Credo
!
que
Que
sombra
tão
negra
!
CHICO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Maldita
adufa
!
A
não
ser
ella
ela
...
Ah
bom
Marquez
Marquês
qui
vae
vai
dando
cabo
di
taes
tais
gaiolas
.
(
Passeando
aos
pulinhos
)81
MARANHÔA
MARANHOA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Mariasinha
Mariazinha
)
Olha
que
andar
!
parece
Parece
de
cegonha
.
CHICO
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
.
)
Mi
parece
,
qui
cóchicham
cochicham
.
—
Vou
dar
uma
voltinha
e
virei
logo
narcisar
o
vulto
.
(
Retira-se
pela
D.
direita
A.
alta
)
SCENA
CENA
III
OS
PRECEDENTES
e
o
ALFERES
O
alferes
entra
pela
porta
E.
esquerda
A.
alta
,
finge
vir
debaixo
da
rampa.
MARANHÔA
MARANHOA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Mariasinha
Mariazinha
)
Este
é
o
sr.
senhor
Alferes
,
que
diz
que
ainda
é
parente
da
comadre
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
É
.
MARANHÔA
MARANHOA
Guápa
Guapa
figura
!
ALFERES
(
Olhando
para
a
janella
janela
.
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
)
Já
veio
.
MARANHÔA
MARANHOA
(
Áparte
À parte
Á parte
Á
parte
a
Mariasinha
Mariazinha
)
Olha
tanto
para
cá
.
—
Hum
,
hum
...
HONORATA
(
Á
À
janella
janela
,
a
Mariasinha
Mariazinha
)
Elle
Ele
sabe
que
a
menina
veio
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
Só
se
advinhou
...
MARANHÔA
MARANHOA
Ah
!
Elle
Ele
é
dos
que
adivinham
.82
MARIASINHA
MARIAZINHA
Não
...
Andará
talvez
em
serviço
...
MARANHÔA
MARANHOA
Vem
rondar
as
sentinellas
sentinelas
.
(
Rindo
)
ALFERES
(
Debaixo
da
janella
janela
—
cumprimenta
)
Minha
senhora
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Bom
dia
.
ALFERES
V.
Vossa
S.ª
Senhoria
escolheu
uma
excellente
excelente
posição
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Disfructa-se
Disfruta-se
perfeitamente
.
ALFERES
O
ponto
de
vista
é
magnífico
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Não
sabe
,
que
estive
quasi
quase
sendo
reconhecida
?...
? ...
?
...
ALFERES
Sim
?...
? ...
?
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
E
por
pessoa
muito
do
seu
grado
.
Advinhe
Adivinhe
.
ALFERES
Do
meu
agrado
,
só
...
(
Com
intenção
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Abanando-se
com
desgarro
)
Pelo
meu
professor
de
canto
!
Seguio-nos
Seguiu-nos
todo
o
caminho
.83
ALFERES
Atrevido
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Curioso
.
—
Mas
não
me
vio
viu
...
ALFERES
Todavia
...
(
Zangado
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
Máo
Mau
génio
gênio
!
—
Todos
os
militares
são
tão
arrebatados
!...
! ...
!
...
ALFERES
Bem
vê
V.
Vossa
S.ª
Senhoria
,
que
o
trato
rude
das
armas
...
o
O
ponto
d’honra
de honra
d’ honra
d’
honra
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Isso
que
tem
,
para
andarem
ás
às
brigas
por
frioleiras
?!
? !
?
!
—
Que
o
militar
defenda
a
honra
da
sua
dama
ultrajada
...
Mas
romper
lanças
sem
motivo
...
Confesso
,
que
me
agrada
mais
o
explendor
esplendor
da
farda
,
do
que
o
tinir
da
espada
...
ALFERES
E’
É
preciso
,
que
uma
sustente
o
prestigio
prestígio
da
outra
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Distrahida
Distraída
)
E’
É
...
SCENA
CENA
IV
OS
PRECEDENTES
e
CHICO
CHICO
(
Entra
pelo
fundo
D.
direito
d.
;
pára
para
;
observa
áparte
à parte
á parte
á
parte
)
Oh
!
Lá
istá
o
Alfer’zinho
Alferzinho
Alferzinho
!
!
(
Olhando
para
a
janella
janela
)
Aqueles
didinhos
,
a
mãosinha
mãozinha
di
leite
,
são
seus
!
—
Infeliz
belleza
beleza
!
—
Tão
mal
empregada
,
n’um
num
Alferes
!
—
n’um
num
Num
ramo
di
taverna
!
(
Avança
lentamente
)84
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Dá
por
Chico
)
Ai
!
—
O
mofino
do
carioca
!
(
Fecha
a
adufa
adufa
.
.
)
ALFERES
(
Vendo
Chico
.
—
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
a
Mariasinha
Mariazinha
)
E’
É
demais
.
Corto-lhe
uma
orelha
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Não
lhe
faça
mal
.
ALFERES
Obedeço
.
(
Passeia
)
CHICO
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
O’lé
Ólé
lé
!
Si
ritira
o
méco
meco
.
Parece
mi
tem
seu
medo
!
—
Pensando
bem
no
caso
:
quem
mi
não
diz
que
é
outra
moça
?
—
Isto
di
militares
,
tem
a
cada
canto
seu
espirito
espírito
santo
.
(
Pensa
)
Si
fôr
for
ella
ela
vou
pespegal-o
pespega-lo
pespegá-lo
ao
tio
;
si
não
fôr
for
pespégo-o
pespego-o
á
à
sobrinha
.
—
De
todo
o
modo
—
disfarçar
,
ritirar
e
voltar
.
(
Retira
pela
D.
direita
B.
baixa
)
SCENA
CENA
V
As
mesmas
na
janella
janela
,
ENSAIADOR
e
CASACA
,
POVO
e
logo
o
ALFERES
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Abre
a
adufa
)
Foi-se
.
(
Analyza
Analisa
quem
passa
;
fala
d’uma
duma
d’
uma
senhora
.
Uma
senhora
e
creada
criada
atravessam
a
scena
cena
scena
.
.
)
Não
vae
vai
feia
.
HONORATA
O
vestido
não
é
de
seda
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Não
.
Ha
Há
de
ser
gros
de
Tunis
.
(
Casaca
e
o
Ensaiador
sobem
a
rampa
e
desapparecem
desaparecem
desapparecem
.
.
)85
MARANHÔA
MARANHOA
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Ali
vae
vai
o
Casaca
.
E’
É
o
mais
gordo
.
A
loja
,
dizem
que
está
um
céo
céu
aberto
!
Abre-se
no
dia
da
inauguração
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Havemos
de
vel-a
vê-la
ve-la
.
MARANHÔA
MARANHOA
É
só
para
homens
,
comadre
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Seja
como
fôr
for
,
quero
vel-a
vê-la
ve-la
.
HONORATA
O’
Ó
menina
:
não
vê
que
é
impossivel
impossível
,
—
que
não
somos
homens
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Visto-me
d’homem
de homem
d’ homem
d’
homem
.
Jurei
ver
tudo
,
hei
de
o
cumprir
.
Está
dito
.
HONORATA
Jesus
Maria
José
!
(
Retira-se
Retira-se
.
.
)
MARANHÔA
MARANHOA
(
Vendo
o
Alferes
)
Olhe
,
comadre
.
(
Retira-se
Retira-se
.
.
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Vendo
o
Alferes
)
Ah
!...
! ...
!
...
ALFERES
(
Para
a
janella
janela
)
O
tal
faceira
transformou-se
,
de
cruz
—
diabo
das
pias
d’agua
d’água
benta
—
em
narcisador
,
meu
e
de
V.
Vossa
S.ª
Senhoria
MARIASINHA
MARIAZINHA
Coitado
!
—
Receio
que
nos
vejam
á
à
saida
saída
;
e
por
isso86
tenciono
levar
a
comadre
por
batedor
.
O
tio
em
a
vendo
occulta-se
oculta-se
.
—
Quanto
a
Chico
,
se
o
pudesse
afastar
...
ALFERES
Pois
não
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Mas
não
lhe
faça
mal
.
ALFERES
Um
susto
apenas
.
Em
custodia
custódia
meia
hora
,
na
casa
da
guarda
para
uma
averiguação
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Isso
.
ALFERES
Pois
bem
.
O
commandante
comandante
da
guarda
é
meu
amigo
.
SCENA
CENA
VI
Os
PRECEDENTES
e
D.
DOM
BRAZ
(
Que
vem
pela
D.
direita
A.
alta
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Fecha
a
adufa
)
Adeus
.
(
Vendo
o
tio
tio
.
.
)
ALFERES
É
muito
!
Agora
corto-lhe
um
braço
.
(
Reparando
em
D.
Dom
Braz
Braz
.
.
)
(
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
O’
Ó
diabo
!
Temos
fógos
fogos
cruzados
.
(
Retira-se
disfarçadamente
para
baixo
da
rampa
.
E.
Esquerda
B.
baixa
)
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
,
não
reparando
no
Alferes
)
O
homem
não
pode
tardar
.
(
Vê
o
relogio
relógio
;
analyza
analisa
quem
passa
passa
.
.
)
)
MARANHÔA
MARANHOA
(
Á
À
janella
janela
)
Veja
lá
se
elle
ele
faltou
!87
MARIASINHA
MARIAZINHA
Pois
...
MARANHÔA
MARANHOA
As
prisões
são
só
para
as
desgraçadas
mulheres
.
HONORATA
Se
elles
eles
é
que
fazem
as
leis
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Por
isso
mesmo
deviam
ser
mais
generosos
.
A
mulher
é
sua
companheira
,
não
é
escrava
.
MARANHÔA
MARANHOA
Diz
bem
comadre
.
Por
isso
eu
,
quando
oiço
que
alguma
mulher
dá
no
marido
,
—
Deus
me
perdôe
perdoe
—
regosijo-me
regozijo-me
...
Não
,
que
o
meu
Arnesto
—
em
gloria
glória
esteja
a
sua
alma
—
me
arreganhasse
nunca
o
dente
;
porque
se
o
fizesse
...
(
Dando
á
à
cabeça
cabeça
.
.
)
HONORATA
Lá
isso
...
sempre
Sempre
ouvi
dizer
que
o
marido
era
o
gallo
galo
da
casa
.
—
Os
homens
são
para
o
trabalho
,
e
a
mulher
para
o
agasalho
.
Vá
com
esta
.
D.
DOM
BRAZ
(
Fallando
Falando
d’uma
duma
d’
uma
senhora
que
passa
;
áparte
á
parte
à parte
á parte
)
Dá
ares
de
minha
sobrinha
,
quando
se
veste
de
capa
ingleza
inglesa
e
chapéo
chapéu
.
—
Coitada
!
Lá
está
em
casa
muito
bem
arrecadada
,
e
eu
por
aqui
,
á
à
tuna
,
cortejando
,
observando
,
etc.
,
etc
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Vem
pensando
que
me
deixou
segura
em
casa
,
e
eu
aqui
,
conversando
,
rindo
...88
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Nada
chega
ao
homem
.
Põe
e
dispõe
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Nenhum
nos
resiste
.
Têm
a
força
e
nós
a
arte
:
elles
eles
esmagam
,
mas
nós
conseguimos
.
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Coitadas
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Coitados
!
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Pobre
sobrinha
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Pobre
tio
!
(
Vendo
Chico
)
Ah
...
(
Fecha
a
adufa
)
SCENA
CENA
VII
Os
PRECEDENTES
,
PÉLE
PELLE
e
CHICO
CHICO
(
Á
À
esquina
,
áparte
á
parte
à parte
á parte
,
vendo
Péle
Pelle
)
Oh
!
Lá
vem
o
Génóvez
genovês
génóvez
.
Espreitemos
.
(
Esconde-se
)
PÉLE
PELLE
(
Desce
a
rampa
precipitadamente
,
e
diz
ao
passar
por
junto
de
D.
Dom
Braz
)
A
cósa
si
fá
fá
!
!
D.
DOM
BRAZ
(
Assustando-se
)
Ah
!...
! ...
!
...
(
vendo
Péle
Pelle
e
voltando
logo
a
cara
)
Bom
.
PÉLE
PELLE
(
Passa
outra
vez
por
D.
Dom
Braz
)
A
cósa
si
fá
fá
!
!
A
cósa
si
fá
fá
!
!
(
Retira-se
apressadamente
apressadamente
.
.
)89
D.
DOM
BRAZ
(
Sem
olhar
para
Péle
Pelle
)
O
dito
,
dito
.
(
Passeia
,
rindo
)
Bello
Belo
!
A
cosa
si
fá
fá
!
!
Bellissimo
Belíssimo
!
Ha
Há
de
ser
bonito
!
as
As
cordas
a
estallarem
estalarem
...
(
Imita
)
Tá
,
tá
,
tá
,
tá
tá
tá
!...
! ...
!
...
—
O
monstro
dando
com
o
costado
na
rua
—
(
imita
)
trum
,
trum
,
trum
,
trum
!...
! ...
!
...
Uns
a
fugir
,
outros
a
gritar
!
Que
desordem
!
Que
inferno
!
(
Suffocado
Sufocado
com
riso
riso
.
!
)
CHICO
(
Entrando
,
áparte
á
parte
à parte
á parte
)
Aqui
anda
alto
nigócio
nigócio
!
!
Bem
mi
diz
o
Marquez
Marquês
:
vigie
o
Italiano
!
(
Indo
a
D.
Dom
Braz
)
Sr.
Senhor
D.
Dom
Braz
.
D.
DOM
BRAZ
(
Jovial
e
ironico
irônico
)
Vae
Vai
vêr
ver
a
memoria
memória
?
Vá
,
vá
;
olhe
que
está
por
um
triz
a
cahir
cair
...
CHICO
A
cahir
cair
!...
! ...
!
...
D.
DOM
BRAZ
A
cahir
cair
a
hora
...
(
Rindo
)
Vá
,
depressa
,
vá
.
CHICO
Mi
faz
desconfiar
...
D.
DOM
BRAZ
Não
desconfie
:
confie
sempre
.
CHICO
Não
pircebo
pircebo
!
!
D.
DOM
BRAZ
Não
percebe
que
não
pode
haver
cordas
que
resistam
ao
pezo
peso
de
6.000
seis mil
quintaes
quintais
de
bronze
!
CHICO
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
As
cordas
...90
D.
DOM
BRAZ
Pois
não
vê
que
em
se
começando
a
puxar
por
essa
Cintra
cinta
cintra
de
metal
,
com
que
o
Marquez
Marquês
pretende
inaugurar-se
,
bustisar-se
,
memoriar-se
....
—
o
que
quizerem
quiserem
:
—
que
as
cordas
quebram
—
cavallo
cavalo
e
cavalleiro
cavaleiro
precipitam-se
,
espedaçam-se
...
Botas
para
um
lado
,
cabeças
para
o
outro
...
(
Rindo
)
E
depois
pergunta-se
:
viste
a
memoria
memória
?
vio
Vio
Viu
a
memoria
memória
?...
? ...
?
...
E
ahi
aí
temos
a
coisa
em
estribilho
!...
! ...
!
...
(
Rindo
muito
muito
.
.
)
CHICO
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Oh
!
si
Si
ha
há
nigocio
nigócio
(
Alto
)
Sempre
quero
vêr
ver
...
D.
DOM
BRAZ
Vá
.
Mas
...
um
conselho
d’amigo
de amigo
d’ amigo
d’
amigo
—
quanto
mais
de
longe
melhor
.
CHICO
Não
vem
?
D.
DOM
BRAZ
Nada
.
Já
estou
velho
para
commoções
comoções
fortes
.
CHICO
Então
,
peço
que
m’espere
m’ espere
m’
espere
mi espere
aqui
.
—
Tenho
coisas
a
lhi
dizer
.
D.
DOM
BRAZ
Do
Marquez
Marquês
?
Alguma
das
suas
.
CHICO
(
Apontando
para
a
casa
)
Recommendo
Recomendo
qui
vigie
quem
sáe
sai
d’ali
dali
.
—
Adeusinho
.
(
Retira-se
pela
rampa
rampa
.
.
)
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Alguma
conspiração
!
A
coisa
está
por
horas
...91
SCENA
CENA
VIII
Os
PRECEDENTES
,
LOBO
,
BENEFICIADO
e
PACHORRA
(
Entram
apressados
apressados
.
.
)
BENEFICIADO
Anda
ver
.
D.
DOM
BRAZ
Nada
.
A
pintura
e
a
pelêja
peleja
—
de
longe
se
veja
.
—
(
Em
segredo
)
Não
se
cheguem
ao
pé
.
BENEFICIADO
Pode
cahir
cair
.
Adeus
maniaco
maníaco
.
(
Retira-se
pela
rampa
rampa
.
.
)
D.
DOM
BRAZ
Deixa
ser
.
(
Acompanha-os
até
ao
meio
da
rampa
e
depois
desce
desce
.
.
)
LOBO
(
Puxando
por
Pachorra
)
Meche-te
Mexe-te
.
PACHORRA
(
Custando-lhe
a
andar
)
Ah
!
(
Bufando
)
SCENA
CENA
IX
D.
DOM
BRAZ
e
ALFERES
ALFERES
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Foram-se
.
(
Vem
para
baixo
da
janella
janela
.
—
Vendo
D.
Dom
Braz
)
E
esta
!
(
Retirando-se
Retirando-se
.
.
)
D.
DOM
BRAZ
(
Vendo
o
Alferes
)
Vae
Vai
de
retirada
?
Se
é
namoro
continue
.
—
Não
quero
que
a
sua
cortejada
me
rogue
alguma
praga
.92
ALFERES
Tem
medo
que
lhe
cáia
caia
em
casa
casa
?
?
D.
DOM
BRAZ
Não
...
Vamos
:
é
rica
?
bonita
Bonita
?
ALFERES
Adivinhou
.
Bonita
e
rica
.
D.
DOM
BRAZ
Optimo
Ótimo
.
ALFERES
Prendada
...
D.
DOM
BRAZ
Isso
é
mais
.
ALFERES
Discreta
...
D.
DOM
BRAZ
Ainda
mais
.
ALFERES
Virtuosa
...
D.
DOM
BRAZ
Muito
mais
.
—
Vejo
que
está
zombando
,
porque
não
ha
há
nenhuma
com
tantos
dotes
.
ALFERES
Não
zombo
.
D.
DOM
BRAZ
Então
...
—
já
Já
.
ALFERES
Quando
ganhar
a
aposta93
D.
DOM
BRAZ
A
aposta
não
,
—
a
noiva
...
ALFERES
Affirma
Afirma
que
a
posso
alcançar
?
D.
DOM
BRAZ
Podéra
Poderá
.
ALFERES
Ganho
sempre
.
(
Ouve-se
o
toque
d’uma
duma
d’
uma
busina
buzina
,
dizendo
—
Viva
El-Rei
—
confusamente
.
—
Silencio
Silêncio
por
um
instante
,
e
depois
ruido
ruído
de
vozes
ao
longe
longe
.
.
)
D.
DOM
BRAZ
(
Escutando
)
Oiça
.
ALFERES
E’
É
a
estatua
estátua
que
começa
a
marchar
.
D.
DOM
BRAZ
Da
zorra
para
o
chão
.
(
Olhando
para
a
rampa
e
vendo
Chico
)
)
Ahi
Aí
vem
quem
poderá
dizer
.
SCENA
CENA
X
Os
PRECEDENTES
e
CHICO
(
Chico
e
algum
povo
descem
a
rampa
a
correr
.
O
povo
desaparece
desaparece
.
.
)
)
CHICO
(
Fatigado
)
Foi
...
foi
Foi
!
D.
DOM
BRAZ
(
Ancioso
Ansioso
)
Foi
...
CHICO
A
mimória
...94
D.
DOM
BRAZ
A
memoria
memória
...
CHICO
Quebráram-se
Quebraram-se
as
cordas
...
D.
DOM
BRAZ
Quebráram
Quebraram
as
cordas
,
e
lá
vae
vai
tudo
!...
! ...
!
...
Apóste
Aposte
Alféres
Alferes
,
aposte
.
(
Rindo
)
O
seu
homem
quiz
quis
elevar-se
ao
Capitolio
Capitólio
,
e
precipitou-se
da
rocha
Tarpêa
Tarpeia
.
ALFERES
Verêmos
Veremos
.
D.
DOM
BRAZ
(
Para
Chico
)
Conte
aqui
ao
sr.
senhor
duvidoso
como
foi
o
caso
.
CHICO
Tóca
Toca
a
busina
buzina
...
Os
operarios
operários
puxaram
com
toda
a
força
,
mas
não
houve
di
quê
quê
.
.
—
Quebráram-se
Quebraram-se
as
cordas
...
os
Os
homens
,
uns
por
cima
dos
outros
...
a
A
trópa
tropa
ás
às
pranchadas
...
Oh
!
pae
Pai
Pae
da
minha
alma
!
Qui
báráfunda
barafunda
!
qui
Qui
inferno
!
D.
DOM
BRAZ
(
Ao
Alferes
)
Então
que
diz
ao
máo
mau
sucesso
da
memoria
memória
!?
! ?
!
?
Que
lhe
parece
o
grande
homem
?
ALFERES
O
que
tem
o
Marquez
Marquês
com
as
cordas
?
O
Marquez
Marquês
não
é
cordoeiro
.
D.
DOM
BRAZ
O
bom
ministro
deve
ser
tudo
.
ALFERES
Para
não
ser
nada
.95
CHICO
(
Puxa
D.
Dom
Braz
de
parte
e
falla
fala
com
elle
ele
em
particular
—
aponta
para
a
casa
.
)
D.
DOM
BRAZ
(
Ouve
Chico
—
conversa
em
particular
e
faz
gesto
de
duvida
dúvida
.
)
SCENA
CENA
XI
Os
PRECEDENTES
,
BENEFICIADO
,
LOBO
,
PACHORRA
e
POVO
ALFERES
(
Para
o
Beneficiado
)
Então
?
BENEFICIADO
Ahi
Aí
vem
.
D.
DOM
BRAZ
Ólá
Olá
!
—
Viste
a
memoria
memória
?
—
Vio
Viu
a
memoria
memória
?
—
Viram
a
memoria
memória
?
(
Rindo
Rindo
.
.
)
BENEFICIADO
Já
viste
os
Santos
em
Domingo
de
Ramos
?
LOBO
Vem
coberta
.
—
Só
apparece
aparece
Alleluia
Aleluia
no
dia
da
inauguração
.
D.
DOM
BRAZ
Inauguração
da
estatua
estátua
quebrada
.
BENEFICIADO
Quebraram-se
as
cordas
;
—
a
A
estatua
estátua
ficou
sã
como
um
pero
.
D.
DOM
BRAZ
Duvido
.
BENEFICIADO
És
incredulo
incrédulo
.
D.
DOM
BRAZ
Não
dizes
que
vem
coberta
?
Quem
sabe
o
que
virá
dentro
?
O
miolo
é
que
decide
do
fructo
fruto
.
(
Ouve-se
musica
música
que
se
approxima
aproxima
—
A
sentinella
sentinela
grita
:
Ás
Às
armas
!
—
A
guarda
que
é
da
artilheria96
artilharia
da
Côrte
Corte
,
fórma
forma
.
Beneficiado
,
Lobo
,
etc.
conversam
entre
si
durante
o
transito
trânsito
.
O
povo
desce
pela
rampa
e
afflue
aflui
d’outros
de outros
d’ outros
d’
outros
lados
a
collocar-se
colocar-se
em
posição
.
Ouve-se
primeiro
uma
introducção
introdução
de
instrumentos
,
e
segue
o
côro
coro
marcial
,
cantado
pelos
operarios
operários
,
etc.
,
com
acompanhamento
,
etc.
,
etc.
HYMNO
HINO
Excelso
throno
trono
fundaste
No
amor
da
patria
pátria
grei
Defensor
da
lusa
terra
,
Viva
,
viva
,
viva
o
rei
.
Já
se
ouvia
,
semi-morta
semimorta
,
Dizer
Lisia
:
—
morrerei
!
Voz
soberana
a
reanima
;
Viva
,
viva
,
viva
o
rei
.
Se
o
monarcha
monarca
,
pela
patria
pátria
,
Dar
a
vida
,
tem
por
lei
;
siga
o
povo
o
nobre
exemplo
Viva
,
viva
,
viva
o
rei
.
O
cortejo
desce
pela
rampa
,
atravessa
a
scena
cena
e
desapparece
desaparece
pela
direita
.
Vinte
e
quatro
cavallos
cavalos
da
casa
bem
ornados
,
com
ceirões
seirões
cheios
de
flores
,
cobertos
com
pannos
panos
de
veludo
carmezim
carmesim
;
guiados
por
seus
moços
com
libré
da
casa
,
bem
penteados
e
aceiados
asseados
,
que
irão
espalhando
flores
.
Segue
o
Neto
com
os
seus
dois
pretos
de
alabarda
perfilada
.
Depois
carros
enramados
uns
com
pipas
d’agua
d’água
,
outros
com
cordas
,
e
diversas
precauções
.
Em
seguida
os
Grandes
do
Reino
a
pé
,
Ministros
de
Estado
,
Generaes
Generais
,
etc.
,
e
atraz
atrás
muitos
operarios
operários
,
só
em
vestia
véstia
,
mas
aceiados
asseados
,
e
com
ramalhetes
nos
chapeos
chapéus
e
ao
peito
.
Finalmente
,
o
Juiz
do
Povo
e
Casa
dos
Vinte
e
Quatro
,
pegando
na
parte
das
cordas
,
que
saem
da
zorra
,
e
que
serão
junto
d’ella
dela
della
forradas
de
encarnado
.
Apparece
Aparece
finalmente
a
zorra
,
e
sobre
ella
ela
uma
caixa
de
madeira
coberta
de
brim
,
dentro
da
qual
se
figura
vir
a
Estatua
Estátua
.
.
Na
frente
da
caixa
o
letreiro
:
—
Non
velant
nubila
solem
)
.
(
CAE
CAI
O
PANNO
PANO
)
ACTO
ATO
QUARTO
Loja
de
bebidas
do
Casaca
,
na
rua
dos
Capellistas
Capelistas
,
proximo
próximo
a
S.
São
Julião
e
do
mesmo
lado
Balcão
ao
fundo
.
Portas
lateraes
laterais
.
Espelhos
com
molduras
douradas
em
toda
a
casa
.
Mesas
de
pedra
ovaes
ovais
,
sobre
pés
dourados
.
Grandes
talhas
da
India
Índia
,
nos
cantos
.
Ornato
de
talha
dourada
.
Lustres
de
velas
.
SCENA
CENA
I
CASACA
e
CREADOS
CRIADOS
CASACA
(
Para
os
creados
criados
)
Vamos
rapazes
.
Um
dia
bom
mette-se
mete-se
em
casa
.
Cuidado
.
(
Designando
)
Mesa
d’aqui
daqui
,
mesa
d’ali
dali
...
Tamborete
cá
,
tamborete
lá
...
Talha
n’um
num
canto
,
talha
no
outro
.
(
Passando
a
mão
pelo
espelho
)
Aceio
Asseio
,
aceio
asseio
.
—
Ordem
,
ordem
.
—
Deligencia
Diligência
,
deligencia
diligência
.
(
Aos
caixeiros
)
Aquelle
Aquele
que
me
encher
as
medidas
pode
contar
com
a
minha
protecção
proteção
.
Bem
sabem
se
posso
—
o
que
póde
pode
um
compadre
de
meu
...
de
meu
compadre
.
(
Para
dentro
do
balcão
)
Olhem
não
falte
alguma
coisa
.
Garrafas
,
copos
,
bules
,
salvas
,
chás
,
caffés
cafés
,
chocolates
,
limonadas
,
gellados
gelados
,
ratafias
,
calda
,
doces
...
tudo
a
postos
,
e
á
à
primeira
vez
a
cahir
cair
sobre
os
freguezes
fregueses
.
Olho
vivo
,
e
pé
leve
.
O
bom
caixeiro
,
ainda
freguez
freguês
não
abrio
abriu
a
bocca
boca
,
já
o
ha
há
de
estar
servindo
.
Movimento
,
movimento
!
(
Aos
caixeiros
)
Tomem
sentido
—
Regra
geral
:
peça
o
freguez
freguês
o98
que
pedir
,
nunca
lhe
diz
que
não
ha
há
.
Traz-se
outra
coisa
,
pedindo
desculpa
do
engano
,
volta-se
,
e
finge
tornar-se
a
enganar
,
se
preciso
fôr
for
,
com tanto
contanto
comtanto
que
—
não
ha
há
—
esse
espantalho
dos
freguezes
fregueses
jamais
se
oiça
.
O
caixeiro-mestre
,
só
depois
de
teimar
,
e
assim
mesmo
pela
bocca
boca
pequena
,
é
que
diz
...
não
diz
não
ha
há
...
Nada
—
acabou-se
Acabou-se
...
Se
depois
d’isto
disto
o
individuo
indivíduo
se
levanta
e
sae
sai
,
vá
na
paz
do
Senhor
,
que
fraco
freguez
freguês
perdeu
a
loja
.
O
bom
freguez
freguês
,
uma
vez
entrado
na
loja
,
se
pediu
,
tomou
por
força
.
Se
não
bebe
,
come
.
Faz
despeza
despesa
,
em
quê
?
pouco
Pouco
importa
.
—
Rapazes
!
A
loja
do
Casaca
vae
vai
hoje
ser
honrada
pelo
grande
homem
.
Antes
d’elle
dele
delle
hão
de
vir
alguns
,
depois
d’elle
dele
delle
virão
todos
.
Onde
entra
o
Marquez
Marquês
entra
a
fortuna
.
Cuidado
em
a
conservarmos
.
(
Espreita
ás
às
portas
pela
fechaduras
fechaduras
.
.
)
Espreitem
rapazes
.
Vejam
o
que
lá
vae
vai
!
O
povo
espera
impaciente
,
é
tempo
de
lhe
fazermos
a
vontade
.
Abram
.
(
Os
creados
criados
abrem
as
portas
ao
mesmo
tempo
Casaca
com
importancia
importância
)
A
loja
do
Casaca
já
pertence
á
à
historia
!
(
Entram
alguns
individuos
indivíduos
que
analysam
analisam
)
.
SCENA
CENA
II
OS
PRECEDENTES
,
BENEFICADO
,
D.
DOM
BRAZ
,
PACHORRA
,
LOBO
e
ALFERES
(
Começam
a
analyzar
analisar
,
o
povo
atulha
as
portas
)
.
CASACA
(
Ao
povo
)
Desempachar
,
desempachar
.
VOZES
Ah
!...
! ...
!
...
Tanto
espelho
!
Vê-se
a
gente
por
traz
trás
e
por
diante
!
—
Tudo
ouro
!
Que
riqueza
!
CASACA
(
Ao
povo
)
Desempachar
a
porta
.
Lá
para
traz
trás
.99
POVO
Se
não
quer
que
vejam
feche
a
porta
.
OUTRO
Como
está
sofrego
sôfrego
!
CASACA
Isto
aqui
não
é
taberna
.
Sem
vestir
uma
casaca
,
ninguem
ninguém
cá
entra
.
(
Empurrando
)
Rua
,
rua
!
UM
HOMEM
DO
POVO
Não
empurre
.
OUTRO
Alto
lá
.
(
Affasta-se
Afasta-se
)
CASACA
(
Ao
povo
)
Fóra
Fora
!
Cuidam
que
todo
o
matto
mato
é
orégãos
!
(
Entra
dentro
do
balcão
balcão
.
.
)
LOBO
Que
acham
?
BENEFICIADO
Dá
seus
ares
d’egreja
de igreja
d’ egreja
d’
egreja
.
D.
DOM
BRAZ
Muito
.
Tem
mais
oiro
do
que
a
náu
nau
dos
quintos
.
Mau
gosto
.
ALFERES
Não
.
A
obra
de
talha
está
bem
acabada
:
tudo
bem
doirado
;
e
esta
repetição
d’um
dum
d’
um
mesmo
objecto
objeto
,
por
diversos
espelhos
,
faz
uma
certa
confusão
que
agrada
.
LOBO
Para
botequim
,
acho-lhe
oiro
demais
.100
D.
DOM
BRAZ
Sim
senhor
,
tem
oiro
demais
.
Uma
loja
de
bebidas
,
qualquer
casa
de
venda
,
deve
ter
um
risco
simples
,
de
pouco
ornato
,
e
este
proprio
próprio
do
assumpto
assunto
.
Por
exemplo
:
(
designando
com
a
bengala
)
diziam
bem
aqui
,
grinaldas
de
laranjas
e
limões
,
com
suas
borlas
,
imitando
garrafas
de
licor
...
Aqui
,
por
modo
...
de
uns
tropheos
troféus
...
umas
pilhas
de
chicaras
xícaras
e
pires
...
alguns
bules
e
cafeteiras
ao
acaso
...
etc.
,
etc.
BENEFICIADO
Uma
especie
espécie
de
taboleta
tabuleta
de
loiceira
.
Se
lhe
pões
os
bules
e
cafeteiras
a
esguichar
,
tinhamos
tínhamos
cascata
em
vez
de
botequim
...
D.
DOM
BRAZ
Ficava
melhor
e
mais
barato
.
ALFERES
Barato
sim
.
BENEFICIADO
Melhor
não
.
LOBO
Grinaldas
de
limões
!
Em
começando
a
cahir
cair
o
summo
sumo
sujava-se
a
pintura
.
ALFERES
Tropheos
Troféus
de
chicaras
xícaras
e
pires
!...
! ...
!
...
(
Rindo
Rindo
.
.
)
D.
DOM
BRAZ
(
Zangado
)
Naturalmente
ha
há
só
tropheos
troféus
d’armas
de armas
d’ armas
d’
armas
,
não
?!...
? ! ...
?
!
...
O
Alferes
está
muito
atrazado
atrasado
.
ALFERES
Em
trophéos
troféus
de
cacos
,
decerto
.101
D.
DOM
BRAZ
(
Desesperado
)
O
Alferes
é
o
meu
irra
.
ALFERES
E
o
sr.
senhor
D.
Dom
Braz
o
meu
irrório
.
PACHORRA
O’
Ó
seus
caturras
,
calam-se
ou
sáio
saio
do
meu
“tanto
se
me
dá
como
se
me
deu
deu
”
"
?
LOBO
,
BENEFICADO
e
o
ALFERES
Viva
o
Pachorra
!
(
Entram
dois
sujeitos
sujeitos
.
.
)
PACHORRA
Tanto
se
me
dá
como
se
me
deu
.
(
Rindo
Rindo
.
.
)
Fallo
Falo
pouco
mas
a
tempo
.
CASACA
(
Depois
de
fallar
falar
com
os
dois
que
entraram
)
Dois
caldos
de
cevadinha
.
Vivissimo
Vivíssimo
!
(
Os
caixeiros
servem
servem
.
.
)
BENEFICIADO
(
A
D.
Dom
Braz
)
Não
trouxeste
o
teu
Josésinho
Josezinho
escuro
?
D.
DOM
BRAZ
Josésinho
Josezinho
!
BENEFICIADO
Sim
:
o
chega-te
a
mim
da
Bahia
.
LOBO
O
faceira
de
pau
santo
.
D.
DOM
BRAZ
Ah
...
Vem
logo
.
Foi
dar
uma
licção
lição
que
tem
ahi
aí
para
Belem
Belém
...
algures
.102
ALFERES
Na
calçada
d’Ajuda
da Ajuda
d’ Ajuda
d’
Ajuda
.
D.
DOM
BRAZ
Não
sei
.
ALFERES
A
casa
do
Marquez
Marquês
.
D.
DOM
BRAZ
Olha
quem
!
BENEFICIADO
O
Marquez
Marquês
aprende
agora
machete
e
a
cantar
modinhas
!?
! ?
!
?
ALFERES
Como
os
ministros
devem
saber
tudo
,
talvez
esteja
completando
a
sua
educação
.
(
Ironico
Irônico
Ironico
.
.
)
D.
DOM
BRAZ
Séca
Seca
.
ALFERES
Repito
;
Chico
vae
vai
a
casa
do
Marquez
Marquês
.
D.
DOM
BRAZ
Historia
História
.
ALFERES
Affirmo
Afirmo
que
alguem
alguém
o
viú
viu
sahir
sair
hontem
ontem
de
casa
do
Marquez
Marquês
.
D.
DOM
BRAZ
Esse
alguem
alguém
enganou-se
.
ALFERES
Fallou
Falou
verdade
.103
D.
DOM
BRAZ
Duvido
.
ALFERES
E
se
lhe
disser
que
o
vi
eu
mesmo
?
D.
DOM
BRAZ
Direi
...
ALFERES
(
Com
dignidade
)
Não
diga
.
Se
a
opinião
politica
política
nos
separa
,
ha
há
,
além
dos
laços
de
sangue
,
os
da
honra
,
essa
nobre
prisão
dos
cavalheiros
.
D.
DOM
BRAZ
Ninguem
Ninguém
o
nega
.
ALFERES
Pois
bem
.
Hontem
Ontem
o
Marquez
Marquês
,
de
quem
sou
amigo
,
como
sabem
,
mandou-me
chamar
.
Fui
.
Nunca
vou
d’outra
de outra
d’ outra
d’
outra
sorte
.
Reservo-me
para
o
visitar
,
quando
não
houver
quem
o
procure
como
pretendente
.
E’
É
provavel
provável
que
as
escadas
estejam
mais
desembaraçadas
.
Era
...
mandou-me
chamar
para
me
pedir
que
coadjuvasse
os
directores
diretores
do
baile
do
Senado
.
Foi
então
,
que
ao
entrar
,
vi
o
tal
faceira
sahindo
saindo
de
lá
.
Viu-me
,
voltou
as
costas
,
e
foi-se
retirando
,
com
aquelles
aqueles
seus
pulos
de
gafanhôto
gafanhoto
,
que
o
immortalisam
imortalizam
.
Eis
a
verdade
.
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Será
intriga
?
PACHORRA
Seja
como
fôr
for
,
o
tal
Chiquinho
anda
agarrado
a
D.
Dom
Braz
,
como
carraça
a
lombo
de
cão
.
Fóra
Fora
com
elle
ele
.
ALFERES
Cautella
Cautela
pelo
menos
.104
BENEFICIADO
Eu
não
engraço
com
o
tal
bugio
.
LOBO
E’
É
um
mau
verso
,
meio
portuguez
português
,
meio
prêto
preto
.
PACHORRA
Agora
,
quanto
á
à
loja
,
o
meu
voto
é
que
um
botequim
,
não
se
avalia
pelos
espelhos
,
nem
pelos
doirados
:
a
paparoca
é
que
decide
.
Puxem
pelas
bolsas
,
e
venha
d’almoçar
de almoçar
d’ almoçar
d’
almoçar
.
LOBO
Muito
bem
dito
.
BENEFICIADO
É
bemdito
bem dito
bem
dito
,
mas
falta-lhe
o
louvado
.
Eu
não
pago
.
Que
pague
o
auctor
autor
da
lembrança
.
LOBO
É
verdade
.
Paga
o
Pachorra
.
PACHORRA
Tanto
se
me
dá
,
como
se
me
deu
.
Mas
oiçam
;
sou
de
parecer
que
pague
quem
perder
a
aposta
.
D.
Dom
Braz
adianta
e
depois
...
D.
DOM
BRAZ
Acceito
Aceito
.
(
A’parte
À parte
A’ parte
A’
parte
)
Como
ganho
...
(
Alto
)
Digam
o
que
querem
...
(
Faz
um
signal
sinal
a
Casaca
Casaca
.
.
)
LOBO
Eu
almoço
.
BENEFICIADO
Tambem
Também
eu
.105
ALFERES
Eu
tambem
também
.
D.
DOM
BRAZ
(
A
Pachorra
)
E
tu
?
PACHORRA
Venha
doce
,
muito
doce
;
o
mais
...
o
que
quizerem
quiserem
.
CASACA
Que
mandam
,
meus
senhores
?
D.
DOM
BRAZ
(
A
Casaca
)
Quatro
almoços
.
LOBO
Chocolate
e
roscas
de
la
reina
,
não
?
BENEFICIADO
Para
mim
,
chá
e
tostas
.
CASACA
Percebo
.
(
Grita
)
Tres
Três
chocolates
e
um
chá
.
Roscas
de
la
reina
e
tostas
.
Vivo
!
Vivissimo
Vivíssimo
!
PACHORRA
E
eu
?!
? !
?
!
O’
Ó
sr.
senhor
Casaca
.
Não
sei
se
digo
bem
...
CASACA
Honra-me
muito
.
PACHORRA
Traga-me
sequilhos
e
rosa-sólis
rosa-solis
.
CASACA
(
Grita
)
Sequilhos
e
rosa-solis
.
Diligentissimo
Diligentíssimo
!
Diligentissimo
Diligentíssimo
.
Promptissimo
Prontíssimo
.106
BENEFICIADO
Safa
com
tanto
issimo
-íssimo
.
LOBO
Tomou
á
à
sua
conta
os
superlativos
de
movimento
.
(
Sentam-se
.
—
Os
creados
criados
servem
,
etc.
)
SCENA
CENA
III
Os
PRECEDENTES
e
PELE
PELLE
PÉLE
PELLE
(
Entra
,
senta-se
e
pede
)
Gélatina
Gelatina
Gélatina
Gélatina
!
!
CASACA
(
Pede
)
Gelêa
Geleia
!
Promptissimo
Prontíssimo
.
D.
DOM
BRAZ
(
Passeia
com
disfarce
junto
de
Péle
Pelle
áparte
á
parte
à parte
á parte
.
)
Ha
Há
novidade
?
PÉLE
PELLE
(
Levantando-se
rapidamente
diz
ao
passar
por
D.
Dom
Braz
)
.
Cósa
di
gravitá
.
(
Sae
Sai
)
.
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
,
esfregando
as
mãos
)
O
homem
está
por
um
fio
.
(
Vae
Vai
sentar-se
,
e
almoça
pouco
)
PACHORRA
O’
Ó
sr.
senhor
Casaca
.
CASACA
Que
manda
?
PACHORRA
Traga
cuscus
cuscuz
.
Tem
leite
crespo
?
(
Comendo
muito
)
.
CASACA
Cuscus
Cuscuz
e
leite
crespo
.
Prompto
Pronto
,
promptissimo
prontíssimo
.
(
Aos
quatro
)
Têm
sido
bem
servidos
meus
senhores
?107
BENEFICIADO
Optimé
.
CASACA
Permitam-me
suas
mercês
,
o
justo
desvanecimento
,
de
que
não
se
serve
melhor
nas
lojas
da
Allemanha
Alemanha
,
do
que
na
minha
.
Nem
mais
vivissimo
vivíssimo
...
BENEFICIADO
Nem
mais
promptissimo
prontíssimo
.
CASACA
Obrigadissimo
Obrigadíssimo
.
(
Vae
Vai
a
outra
meza
mesa
)
.
BENEFICIADO
(
A
Pachorra
)
Levas
o
doce
á
à
gloria
glória
!
PACHORRA
Tanto
se
me
dá
,
como
se
me
deu
.
LOBO
Não
te
bastam
as
condecinhas
condessinhas
das
freiras
,
o
que
lhe
comes
á
à
grade
.
BENEFICIADO
Em
comer
doce
,
o
Pachorra
,
póde-se
pode-se
dizer
pressa
.
PACHORRA
Tanto
se
me
dá
,
como
se
me
deu
.
SCENA
CENA
IV
Os
PRECEDENTES
e
CHICO
CHICO
Sr.
Senhor
D.
Dom
Braz
.
Meus
senhores
.
D.
DOM
BRAZ
Sente-se
.
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
a
Chico
Chico
.
.
)
Que
ha
há
de
novo
?
CHICO
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
a
D.
Dom
Braz
)
O
Marquez
Marquês
doente
.
(
Aparte
À parte
A parte
A
parte
)
Di
pirfeita
sáude
saúde
.108
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
a
Chico
)
Caso
grave
,
bem
entendido
.
CHICO
(
O
mesmo
)
Muito
.
D.
DOM
BRAZ
(
O
mesmo
)
O
Genovez
genovês
genovez
,
diz
que
ha
há
cósa
di
gravitá
gravitá
!
!
Segredo
.
CHICO
(
O
mesmo
)
Qui
coisa
coisa
coisa
?
:
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
É
elle
ele
.
D.
DOM
BRAZ
(
O
mesmo
)
Não
se
declarou
.
CHICO
(
O
mesmo
)
O
qui
fôr
for
soará
.
D.
DOM
BRAZ
Que
toma
?
CHICO
Muito
obrigado
.
Mi
faz
mal
qualquer
bibida
.
D.
DOM
BRAZ
Uma
chicara
xícara
de
chá
.
E’
É
remedio
remédio
da
botica
.
CHICO
Nada
.
Sinto
qui
mi
disgásta
disgasta
.
D.
DOM
BRAZ
Um
calix
cálix
de
rosa-solis
.
CHICO
Deus
mi
livre
!
Uma
bibida
espiritada
.
LOBO
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
ao
Beneficiado
)
Sinonymo
Sinônimo
de
espirituoso
,
em
lingua
língua
bunda
.109
BENEFICIADO
Com
que
as
bebidas
espiritadas
fazem-lhe
mal
...
CHICO
Dicerto
.
ALFERES
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Espevitado
precisavas
tu
com
um
fueiro
.
D.
DOM
BRAZ
Uma
rosca
de
la
reina
.
CHICO
Nada
:
dôce
doce
de
espécie
...
Nada
.
O
meu
labóratorio
laboratório
é
muito
dilicado
.
Hontem
Ontem
por
qui
cómi
comi
os
peitinhos
di
dois
pérdigotos
perdigotos
,
andei
com
um
flato
diábólico
diabólico
.
BENEFICIADO
Flato
victorino
ou
talvez
histerico
histérico
.
CHICO
Talvez
.
ALFERES
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Que
ridiculo
ridículo
!
BENEFICIADO
Pois
quando
fôr
for
atacado
,
queime
uma
pouca
de
lã
,
meia
arroba
é
bastante
,
e
defume-se
com
ella
ela
.
LOBO
Em
caso
de
aperto
serve
o
colchão
.
CHICO
Colchão
di
lã
!
Deus
mi
difenda
!
Pela
manhãsinha
manhãzinha
,
acordava
assado
.110
BENEFICIADO
Assado
não
,
chamuscado
.
LOBO
Dorme
então
sobre
coisa
fresca
?
ALFERES
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
N’alguma
Nalguma
enxerga
.
CHICO
Certamente
.
BENEFICIADO
Faz
bem
.
O
Menino
Jesus
,
tambem
também
dormia
em
palhas
.
D.
DOM
BRAZ
Mas
deixem-no
tomar
alguma
coisa
.
(
Bate
no
copo
)
.
CASACA
Promptissimo
Prontíssimo
.
CHICO
Ora
...
D.
DOM
BRAZ
Peça
qualquer
coisa
.
CHICO
Muito
simples
.
BENEFICIADO
Um
copo
d’agua
d’água
.
ALFERES
E
no
caso
de
defluxo
,
morna
.
D.
DOM
BRAZ
O
sr.
senhor
Casaca
é
que
ha
há
de
decidir
.
Quer-se
coisa
,
que
não
faça
mal
a
um
doente
.111
CASACA
Um
caldo
de
cevadinha
,
sobre
o
grosso
,
bem
adoçado
,
tépido
...
parece-me
Parece-me
capaz
de
resuscitar
ressuscitar
um
morto
.
D.
DOM
BRAZ
Pois
venha
.
CASACA
Caldo
de
cevadinha
!
Vivissimo
Vivíssimo
!
CHICO
(
A’parte
À parte
A’ parte
A’
parte
)
Vontade
não
mi
falta
.
Mas
antes
quero
ser
rogado
.
(
Entra
um
homem
,
com
um
masso
maço
de
papeis
papéis
impressos
que
entrega
a
Casaca
.
Este
distribue-os
pelas
mesas
mesas
.
.
)
)
CASACA
Já
viram
?
D.
DOM
BRAZ
(
A
Chico
)
Alguma
desculpa
do
Marquez
Marquês
.
Aposto
que
não
assiste
?
O
homem
receia-se
.
CHICO
(
A
D.
Dom
Braz
)
E’
É
isso
.
(
A’
À
parte
)
Qui
tólo
tolo
tólo
!
!
BENEFICIADO
(
Lê
para
si
)
O
que
aqui
vae
vai
!
ALFERES
Leia
alto
.
D.
DOM
BRAZ
Anda
.
BENEFICIADO
(
Dando
o
papel
a
Lobo
)
Lê
tu
.
LOBO
(
Depois
de
lêr
ler
para
si
)
Eu
!
Antes
ir
visitar
José
de
Seabra
,
ás
às
Pedras
Negras
,
do
que
ler
este
autem
genuit
!112
D.
DOM
BRAZ
(
Tira
o
papel
)
Se
tem
medo
,
eu
leio
.
LOBO
E
eu
fujo
.
BRAZ
(
Lê
alto
)
Sonetos
,
epigramma
epigrama
,
ódes
odes
...
em
applauso
aplauso
...
á
à
memoria
memória
...
(
Representa
)
Que
é
isto
?!...
? ! ...
?
!
...
(
Lê
)
D’El-Rei
De El-Rei
D’ El-Rei
D’
El-Rei
nosso
senhor
...
no
dia
6
seis
de
junho
de
1775
mil setescentos e setenta e cinco
,
em
que
a
nação
agradecida
...
lhe
levantou
uma
estatua
estátua
equestre
...
(
Atira
com
o
papel
)
.
Não
é
isto
.
Deixem
...
ver
(
Corre
a
vista
pelos
papeis
papéis
.
A’parte
À parte
A’ parte
A’
parte
)
Ora
esta
!
BENEFICIADO
Então
que
cuidavas
?
D.
DOM
BRAZ
Nada
.
(
A’parte
À parte
A’ parte
A’
parte
)
Odes
e
sonetos
!
LOBO
Tudo
versejou
!
Houve
indigestão
no
Parnaso
!
A
adulação
é
pessima
péssima
comida
!
(
Vendo
os
versos
)
Poetas
que
o
são
,
poetas
que
o
querem
ser
...
que
nunca
o
hão
de
ser
.
PACHORRA
Ha
Há
versos
d’alguma
de alguma
d’ alguma
d’
alguma
Freirinha
?
LOBO
E
até
de
frade
,
que
são
peores
piores
.
ALFERES
Não
creio
que
entre
milhares
de
versos
,
e
alguns
de
auctores
autores
de
boa
nota
,
não
haja
alguns
bons
.113
LOBO
Não
ha
há
livro
mau
que
não
tenha
alguma
boa
ideia
.
ALFERES
(
Que
tem
estado
a
ler
para
si
.
)
Oiçam
uma
ode
de
Diniz
.
LOBO
Ode
Pindarica
Pindárica
?
BENEFICIADO
(
Lendo
o
papel
)
Sim
.
LOBO
Com
as
taes
tais
estrophes
estrofes
e
antistrophes
antístrofes
de
eterno
zam-zam
.
Não
ha
há
nada
como
um
bom
soneto
.
ALFERES
Todavia
Diniz
—
o
nosso
Pindaro
Píndaro
—
é
um
poeta
que
nos
honra
,
dizem
.
LOBO
E
dizem
bem
.
Mas
nem
por
isso
as
suas
odes
deixam
de
ter
estreito
parentesco
umas
com
as
outras
:
—
primas
pelo
menos
.
Dou
mais
apreço
ao
seu
Hyssope
.
Dizem
que
Diniz
imitára
imitara
Boileau
.
Embora
.
A
copia
cópia
vale
mais
do
que
o
original
.
Ahi
Aí
sim
,
que
o
nosso
poeta
campeia
desafogado
e
lépido
,
zurzindo
esses
ridiculos
ridículos
Deão
e
Bispo
d’Elvas
.
Ha
Há
mais
inspiração
,
mais
originalidade
.
Tirem-lhe
algum
verso
prosaico
;
o
mais
é
optimo
ótimo
.
Não
tem
rival
no
genero
gênero
.
(
Ao
Alferes
)
Vamos
lá
,
recite-se
a
ode
.
ALFERES
Oh
!
LOBO
Não
leias
tudo
.
Deixemos
as
pyramides
pirâmides
do
Egypto
Egito
,
em
que
naturalmente
ha
há
de
fallar
falar
,
etc.
,
etc
.
O
propriamente
do
assumpto
assunto
.
(
Vendo
o
papel
lê
alto
)
.114
Oh
!
rainha
Rainha
dos
mares
Do
luso
imperio
império
gloria
glória
;
alta
Lisboa
.
Que
espantoso
rumor
,
rompendo
os
ares
,
Em
teu
regaço
vôa
voa
?
(
Folheando
)
Tal
,
tal
.
,
tal
...
Aqui
.
ALFERES
(
Lê
alto
)
Oh
!
como
Como
a
lusa
prole
,
Cheia
de
assombro
,
na
futura
edade
idade
,
Do
real
vulto
verá
,
na
egregia
igreja
móle
mole
,
Brilhar
a
magestade
!
Virão
,
ah
!
sim
Sim
,
virão
de
toda
a
parte
,
Oh
!
inclita
Inclita
Ínclita
cidade
,
Os
povos
,
pela
fama
arrebatados
.
O
grão
colosso
ver
,
—
prodigio
prodígio
d’arte
de arte
d’ arte
d’
arte
;
E
,
em
torno
,
á
à
forte
base
,
derramada
,
Dirão
,
a
augusta
effigie
efígie
contemplando
:
Foi
este
o
forte
,
o
justo
,
José
,
da
patria
pátria
pae
pai
,
que
a
patria
pátria
alçando
Deu
pasmo
a
naturaes
naturais
,
a
estranhos
susto
.
LOBO
Tem
bom
verso
,
linguagem
pura
...
Lá
n’isso
nisso
o
Diniz
é
mestre
.
Tem
desancado
esses
tarelos
,
esses
franchinotes
,
de
linguagem
mascavada
;
que
nem
é
franceza
francesa
,
nem
portugueza
portuguesa
,
nem
lingua
língua
nenhuma
,
a
não
ser
de
trapos
...
Dizem
elles
eles
que
fallam
falam
á
à
moda
.
A’
À
moda
dos
parvos
,
não
duvido
.
LOBO
Cá
está
obra
do
Tolentino
.
LOBO
Alguma
satyra
sátira
.
BENEFICIADO
Nada
.
E’
É
óde
ode
.115
LOBO
O’
Ó
diabo
!
Não
leias
,
que
adormeço
.
O
Tolentino
a
fazer
ódes
odes
!
Que
vá
á
à
missa
...
Satyras
Sátiras
,
sim
senhor
;
de
sala
,
já
se
sabe
;
as
de
escacha pecegueiro
escacha-pessegueiro
escacha-pecegueiro
escachapecegueiro
;
d’essas
dessas
que
assustam
a
Imprensa
Régia
...
ALFERES
Só
tu
.
LOBO
Pelo
menos
,
quando
dou
fecho
os
olhos
.
Alto
e
malo
,
vae
vai
tudo
.
ALFERES
Porque
Por que
Por
que
não
imprimes
os
teus
sonetos
?
LOBO
Que
é
d’elles
deles
delles
?!
? !
?
!
—
Bem
sei
que
ha
há
por
ahi
aí
,
quem
tenha
feito
collecção
coleção
,
e
se
lh’a
lha
pedisse
...
Mas
para
quê
?
Era-me
preciso
dinheiro
adiantado
para
a
impressão
...
algum
fidalgo
a
quem
dedicasse
a
obra
...
as
venias
vênias
da
costumeira
.
Não
quero
.
Se
eu
tivesse
dinheiro
,
(
milagre
que
nem
Santo
Antonio
fôra
fora
capaz
de
fazer
)
,
imprimia
por
minha
conta
,
e
dedicava
a
obra
ao
publico
público
;
—
ao
povo
.
—
Se
a
não
lêsse
lesse
,
boa
noute
.
O
mesmo
acontece
á
à
maior
porte
parte
das
poesias
offerecidas
oferecidas
a
fidalgos
e
principes
príncipes
.
ALFERES
E
a
posteridade
?
LOBO
O
melhor
modo
de
lhe
escapar
á
à
critica
crítica
,
é
não
deixar
sobre
que
a
faça
.
Livre-me
Deus
dos
presentes
,
que
dos
futuros
...
(
Depois
de
ter
os
versos
para
si
)
Ora
,
ora
...
o
desalmado
,
chama
a
isto
versos
!...
! ...
!
...
Oiçam
:
Tempo
de
horror
e
de
susto
,
Não
é
assim
o
de
José
Augusto
!
Conhecem
?116
BENEFICIADO
Quem
?
LOBO
O
José
Augusto
!
CHICO
O
sinhor
qui
é
póeta
poeta
,
não
mi
dirá
qual
d’estes
destes
sonetos
é
mis
pirfeito
pirfeito
?
?
(
Dá-lhe
um
papel
)
LOBO
São
seus
?
CHICO
São
d’um
dum
d’
um
ánonymo
anônimo
.
LOBO
(
Lê
para
si
e
entrega-os
)
Diga
ao
auctor
autor
,
que
conserve
o
anonymo
anônimo
.
Se
o
descobre
arrisca-se
alguma
surriada
.
BENEFICIADO
O’
Ó
Lobo
.
Que
dizes
a
esta
oitava
oitava
?
?
(
Lê
)
Vê
Minerva
d’um
dum
d’
um
jacto
jato
só
fundida
Com
tanta
perfeição
a
estatua
estátua
rara
,
Que
pesarosa
de
faltar-lhe
a
vida
,
Diligente
a
animal-a
animá-la
anima-la
se
prepara
,
O
ethereo
etéreo
fogo
,
já
co’a
com a
co’ a
co’
a
mão
erguida
,
Ia
infundir-lhe
;
mas
suspensa
,
pára
para
,
Por
não
querer
ficasse
d’essa
dessa
sorte
,
Uma
obra
immortal
imortal
sujeita
á
à
morte
.
LOBO
Bravo
!
E’
É
a
melhor
coisa
das
que
tenho
lido
.
Concisa
,
bem
metrificada
e
energica
enérgica
.
E’
É
a
joia
da
collecção
coleção
.
CHICO
Oh
!
sómente
Sómente
Somente
oito
versinhos
di
cácarácá
cacaracá
(
Áparte
Á
parte
À parte
Á parte
)
Não
sábi
sabi
nada
.117
LOBO
O
senhor
cuida
,
que
versos
é
o
mesmo
que
linguiça
?
Que
se
medem
ás
às
varas
?!
? !
?
!
SCENA
CENA
V
OS
PRECEDENTES
E
PÉLE
PELLE
PÉLE
PELLE
(
Entra
e
senta-se
pensativo
,
pede
)
Limonada
.
CASACA
Limonada
,
vivissimo
vivíssimo
!
CHICO
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
vendo
Péle
Pelle
)
E’
É
o
suciosinho
suciozinho
.
(
Entra
um
homem
com
impressos
que
dá
a
Casaca
.
Este
espalha-os
pelas
mesas
mesas
.
.
)
CASACA
(
Distribuindo
os
impressos
)
Meus
senhores
.
Papeis
Papéis
novos
!
Variedade
,
variedade
.
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
a
Chico
)
Agora
é
a
desculpa
do
homem
.
E’
É
grande
.
Ha
Há
de
vir
em
ar
de
proclamação
.
CHICO
(
O
mesmo
)
Pódi
Podi
ser
.
D.
DOM
BRAZ
(
Ao
Beneficiado
)
Lê
.
BENEFICIADO
Lê
tu
.
Eu
não
sou
moço
de
pastelleiro
pasteleiro
.
D.
DOM
BRAZ
A
que
vem
isso
?
ALFERES
Não
vê
,
que
é
a
lista
de
vinhos
,
doces
,
etc.
,
de
que
se
compõe
o
banquete
do
Senado
.118
D.
DOM
BRAZ
Séca
Seca
!...
! ...
!
...
ALFERES
E’
É
uma
cêa
ceia
explendida
esplêndida
.
Só
qualidades
de
vinho
portuguez
português
27
vinte e sete
.
Abençoado
torrão
.
D.
DOM
BRAZ
Para
bebedos
bêbedos
.
ALFERES
O
vinho
generoso
,
é
um
balsamo
bálsamo
.
LOBO
Se
é
...
Inspira
o
poeta
,
anima
o
soldado
,
etc
.
Estou
que
,
se
mettessem
metessem
os
doentes
em
banhos
de
vinhos
da
Companhia
,
de
primeira
sorte
,
nenhum
deixaria
de
se
levantar
são
.
BENEFICIADO
Oiçam
.
D.
DOM
BRAZ
Não
nos
apoquentes
,
com
essa
lista
immensa
imensa
de
vinhos
e
comidas
.
LOBO
Antes
isso
do
que
máos
maus
versos
.
PACHORRA
Antes
,
antes
.
Ao
menos
consola-se
a
imaginação
.
(
Péle
Pelle
retira-se
retira-se
.
.
)
CHICO
(
A’parte
A’ parte
A’
parte
À parte
)
Si
ritira
.
Vou-lhe
na
piugada
.
(
A
D.
Dom
Braz
)
Já
volto
.
(
Sae
Sai
)
BENEFICIADO
(
Lê
)
Pães de ló
Pães-de-ló
,
24.785
vinte e quatro mil e setencentos e oitenta e cinco
.
Canella
Canela
,
13
treze
arrobas
.
E’
É
canella
canela
capaz
de
apolvilhar
um
prato
de
arroz
doce
,
do
tamanho
da
Cova
da
Piedade
!119
D.
DOM
BRAZ
Que
desperdicio
desperdício
!
BENEFICIADO
(
Lê
)
Amendoa
Amêndoa
,
19
dezenove
arrobas
;
Assucar
açúcar
assucar
358
trezentas e cinquenta e oito
arrobas
.
D.
DOM
BRAZ
Estão
loucos
!
BENEFICIADO
(
Lê
)
Nêve
Neve
,
624
seiscentas e vinte e quatro
arrobas
!
(
Representando
)
Fica
tudo
gelado
(
Lê
)
Trufas
,
pistáche
pistache
...
e
grude
,
8
oito
arrobas
e
25
vinte e cinco
arrateis
arráteis
!
D.
DOM
BRAZ
Grude
em
banquete
!
Deliciosa
iguaria
!
(
Rindo
)
ALFERES
Foi
para
o
arranjo
da
armação
,
preparos
,
etc
.
BENEFICIADO
(
Lê
)
Polvilhos
,
3
três
arrobas
e
10
dez
arrateis
arráteis
(
Representa
)
Fica
tudo
enfarinhado
!
LOBO
E’
É
baile
de
entrudo
.
D.
DOM
BRAZ
(
Rindo
)
E’
É
verdade
.
BENEFICIADO
(
Lê
)
Orchestra
Orquestra
,
3
três
contos
e
...
D.
DOM
BRAZ
Tres
Três
contos
de
réis
de
musica
música
!...
! ...
!
...
BENEFICIADO
Ouve-se
na
India
Índia
!
(
Lê
)
Aço
para
espelhos
,
um
conto
e
tanto
!
Flores
,
um
conto
e
...
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
)
E
viva
a
sabia
sábia
administração
!120
BENEFICIADO
(
Lê
)
Sal
,
nove
moios
!
Espetos
,
14$680
catorze mil e seiscentos e oitenta
réis
!!
(
Todos
riem
)
Somma
Soma
quarenta
contos
setecentos
,
e
tantos
mil
réis
!!
D.
DOM
BRAZ
Nove
moios
de
sal
!
E’
É
capaz
de
salgar
o
peixe
de
todos
os
mares
.
LOBO
E
14$000
catorze mil
réis
de
espetos
!
D.
DOM
BRAZ
E
40
quarenta
contos
perdidos
!
Quantas
festas
de
egreja
igreja
se
não
faziam
!...
! ...
!
...
Quantas
missas
se
não
diziam
!
SCENA
CENA
VI
OS
PRECEDENTES
,
MARIASINHA
MARIAZINHA
,
MARANHÔA
MARANHOA
,
e
UM
SOLDADO
(
Disfarçadas
em
traje
de
homem
,
de
capa
e
embuçadas
.
Sentam-se
.
O
Soldado
entrega
um
papel
ao
Alferes
)
.
ALFERES
(
Lê
para
si
o
papel
que
lhe
trouxera
o
Soldado
.
Alto
)
Com
licença
.
(
Sae
Sai
)
D.
DOM
BRAZ
(
A’parte
A’ parte
A’
parte
À parte
)
O
homem
está
nos
paroxismos
!
LOBO
(
A
Pachorra
)
Não
acabas
de
comer
?
PACHORRA
Começo
agora
.
MARIA
(
A’parte
A’ parte
A’
parte
À parte
a
Honorata
,
o
que
sempre
executa
até
nova
advertencia
advertência
.
Rindo
)
Que
figurão
!121
HONORATA
(
A’parte
A’ parte
A’
parte
À parte
a
Mariasinha
Mariazinha
,
o
que
fará
até
nova
advertencia
advertência
)
Isso
!
Ainda
em
cima
escarneça
.
Nossa
Senhora
me
valha
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Pega
n’um
num
impresso
e
dá
outro
a
Honorata
)
Finja
que
lê
.
Os
mais
fazem
o
mesmo
.
HONORATA
Seja
em
desconto
dos
meus
peccados
pecados
.
(
Suspira
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
E’
É
preciso
imitar
os
homens
.
(
Observa
)
A
loja
em
verdade
,
está
riquissima
riquíssima
.
Veja
Honorata
.
HONORATA
Eu
...
(
Com
os
olhos
no
chão
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
Levante
os
olhos
.
Está
parecendo
um
noviço
franciscano
.
HONORATA
(
Suspirando
)
Serei
tudo
o
que
quizer
quiser
.
BENEFICIADO
O’
Ó
Lobo
.
Repara
n’aquelle
naquele
naquelle
par
de
galhetas
.
(
Apontando
para
Honorata
Honorata
.
.
)
LOBO
O
velho
traz
o
chapeo
chapéu
na
cova
do
ladrão
.
BENEFICIADO
Parece-me
um
S.
São
José
de
presépio
.
D.
DOM
BRAZ
Hoje
sae
sai
toda
a
bicharia
.122
CASACA
(
A
Honorata
e
a
Mariasinha
Mariazinha
)
Que
mandam
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
Veja
o
que
quer
o
sr.
senhor
D.
Dom
Honorio
Honório
.
HONORATA
Ver-me
d’aqui
daqui
cem
leguas
léguas
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Engrossando
a
voz
)
Traga
doce
.
CASACA
(
Grita
)
Doces
e
licores
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Isso
mesmo
.
HONORATA
Licores
!
Ai
!
eu
Eu
morro
de
vergonha
!
(
Servem
Servem
.
.
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Enche
um
copo
)
Coma
.
HONORATA
Menina
!...
! ...
!
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Beba
.
HONORATA
Menina
!...
! ...
!
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Comendo
e
depois
bebendo
)
Viva
!
HONORATA
Anjo
bento
!
A
menina
variou
!
Vamo-nos
.
(
Levanta-se
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
E’
É
preciso
beber
.123
HONORATA
Mate-me
antes
.
(
Senta-se
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
Podem
reparar
.
HONORATA
(
Leva
o
copo
á
à
bocca
boca
e
olhando
para
o
cháo
chão
,
bebe
)
Seja
este
calix
cálix
d’amargura
de amargura
d’ amargura
d’
amargura
,
para
bem
da
minha
alma
.
(
Levanta-se
)
SCENA
CENA
VII
OS
PRECEDENTES
e
CHICO
BENEFICIADO
O
velho
tem
bicho
carpinteiro
.
D.
DOM
BRAZ
Parece
.
(
A
Chico
)
Analyse
Analise
aquelle
aquele
ratão
.
Aquillo
Aquilo
é
por
força
creatura
criatura
do
Marquez
Marquês
.
CHICO
(
Observando
áparte
á
parte
à parte
á parte
)
Que
idéa
ideia
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Vendo
Chico
)
E’
É
elle
ele
!
o
O
meu
mestre
!
HONORATA
Fujamos
.
(
Quer
ir-se
)
MARIASINHA
MARIAZINHA
Não
nos
conhece
.
CHICO
(
A
D.
Dom
Braz
)
Mi
párecem
parecem
ellas
elas
.
D.
DOM
BRAZ
Quem
?
(
Levanta-se
)124
)
SCENA
CENA
VIII
OS
PRECEDENTES
e
MARANHOA
MARANHÔA
MARANHOA
(
A’
À
porta
)
Está
um
ceo
céu
aberto
!
D.
DOM
BRAZ
(
Senta-se
ao
ouvir
Maranhôa
Maranhoa
)
Ella
Ela
ahi
aí
.
CHICO
(
Escondendo-se
)
Não
si
mecha
mexa
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
O
Tio
!
HONORATA
Misericordia
Misericórdia
!
CASACA
Rua
,
rua
.
D.
DOM
BRAZ
Ah
bom
Casaca
.
MARANHÔA
MARANHOA
Devagar
.
O
sr.
senhor
Marquez
Marquês
não
quer
que
se
trate
mal
o
Povo
.
(
Entrando
)
Abana
,
Casaca
,
abana
.
(
Ouve-se
uma
carruagem
)
VOZES
(
Fóra
Fora
)
Viva
o
sr.
senhor
Marquez
Marquês
!
viva
Viva
!
SCENA
CENA
IX
OS
PRECEDENTES
,
MARQUEZ
MARQUÊS
,
JOAQUIM
MACHADO
,
BARTHOLOMEU
,
JUIZ
DO
POVO
,
OFFICIAES
OFICIAIS
,
ETC.
A
casa
enche-se
de
freguezes
fregueses
.
Tudo
se
levanta
ao
entrar
o
Marquez
Marquês
,
descobrem-se
e
saúdam
saúdam
.
.
MARQUEZ
MARQUÊS
(
Analysa
Analisa
a
loja
)
Muito
bem
.
Eguala
Iguala
as
melhores
d’Allemanha
da Alemanha
d’ Allemanha
d’
Allemanha
(
Ao
Casaca
)
Os
espelhos
são
já
dos
portuguezes
portugueses
?
CASACA
Tudo
.
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
ao
Marquez
Marquês
)
Segundo
as
ordens
de
V.
Vossa
Ex.125
Excelência
MARQUEZ
MARQUÊS
Bem
,
bem
.
(
A’parte
A’ parte
A’
parte
À parte
)
O
progresso
manifesta-se
em
tudo
.
(
Alto
)
Não
tem
inveja
aos
de
fóra
fora
.
Muito
claros
.
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
)
A
mim
,
fazem-me
a
cara
torta
.
MARQUEZ
MARQUÊS
Agora
é
preciso
continuar
a
aperfeiçoal-os
aperfeiçoá-los
aperfeiçoa-los
.
Os
estrangeiros
não
descançam
,
e
só
á
à
custa
de
trabalho
constante
e
assiduo
assíduo
,
é
que
chegaremos
a
vencel-os
vencê-los
vence-los
.
(
Para
Casaca
)
Vamos
meu
compadre
.
Tenho
pressa
.
(
Senta-se
.
Todos
se
sentam
)
.
CASACA
Promptissimo
Prontíssimo
(
Grita
)
O
serviço
de
S.
Sua
Ex.
Excelência
—
Caldos
,
doces
,
ratafias
...
Vivissimo
Vivíssimo
!
(
Os
creados
criados
servem
.
Serviço
mais
rico
)
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
)
E’
É
o
reinado
dos
compadres
.
Até
o
botequineiro
é
compadre
de
S.
Sua
Ex.
Excelência
—
E
oh
!
que
Que
excellencia
excelência
!
—
Quando
se
viu
um
secretario
secretário
de
Estado
n’uma
numa
casa
publica
pública
!
MARQUEZ
MARQUÊS
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
)
O
Jesuita
Jesuíta
espera
acontecimento
grave
!
(
Sorrindo
)
Pateta
.
(
Alto
)
Agora
,
já
temos
uma
casa
decente
onde
se
reuna
reúna
e
divirta
a
mocidade
nobre
.
Antes
aqui
,
do
que
por
casas
de
jogos
,
e
convento
de
freiras
.
E
depois
a
classe
medica
médica
,
tambem
também
ha
há
de
concorrer
e
assim
ir-se-ha
ir-se-á
policiando
,
com
o
trato
dos
outros
.
JUIZ
V.
Vossa
Ex.
Excelência
...
(
Offerece-lhe
Oferece-lhe
caldo
)
MARQUEZ
MARQUÊS
Sirvam-se
.
Para
mim
...126
CASACA
(
Com
uma
salva
de
prata
)
Se
sr.
senhor
Marquez
Marquês
me
quizesse
quisesse
fazer
a
honra
...
Esta
garrafinha
de
ratafia
de
pêcego
pêssego
,
foi
especialmente
preparada
por
minha
mão
.
MARQUEZ
MARQUÊS
Deite
.
(
Bebe
)
Excellente
Excelente
.
Provem
,
meus
senhores
,
ratafia
de
pêcego
pêssego
,
especialmente
preparada
pelo
meu
compadre
.
JUIZ
Deliciosa
!
OUTROS
Optima
Ótima
!
Magnifica
Magnífica
!
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
)
Villões
Vilões
!
Approvam
Aprovam
porque
elle
ele
approva
aprova
.
Vou-lhe
mostrar
quem
sou
.
(
Alto
)
Traga-me
um
bule
de
ponche
.
(
Bartholomeu
e
Machado
conversam
baixo
e
com
fogo
)
MARQUEZ
MARQUÊS
(
Repara
)
Pelejam
as
artes
?
MACHADO
Não
meu
senhor
.
Dizia
eu
,
que
,
sem
querer
diminuir
o
reconhecido
merito
mérito
do
sr.
senhor
Bartholomeu
da
Costa
,
me
parecia
,
que
o
forno
,
que
Drouet
,
o
engenheiro
francez
francês
,
construira
construíra
no
Arsenal
,
lhe
fôra
fora
de
grande
proveito
,
na
fundição
da
regia
régia
estatua
estátua
.
BARTHOLOMEU
E
eu
lhe
respondi
,
e
sustento
,
que
se
o
fôrno
forno
de
Drouet
servira
é
porque
houve
quem
d’elle
dele
delle
soube
fazer
uso
.
MARQUEZ
MARQUÊS
(
A’parte
A’ parte
A’
parte
À parte
)
E’
É
resposta
de
artista
.
O
genio
gênio
é
orgulhoso
.
Póde-o
Pode-o
ser
.
Tem
de
quê
.
(
Alto
)
E
o
sr.
senhor
Joaquim
Machado
?127
MACHADO
Eu
...
concordo
em
que
a
fundição
saíu
saiu
perfeita
.
Mas
,
isso
que
muitos
julgam
mais
difficil
difícil
,
não
me
parece
que
o
seja
.
Maior
apreço
dou
eu
ao
instrumento
dimensorio
dimensório
que
o
sr.
senhor
Brigadeiro
inventára
inventara
,
para
regular
as
medidas
do
esqueleto
de
ferro
;
os
ventiladores
que
estabelecera
,
para
seccar
secar
a
fôrma
forma
,
etc
.
O
povo
pasma
muitas
vezes
do
que
não
entende
.
MARQUEZ
MARQUÊS
Quando
elle
ele
saúda
,
de
um
grito
unanime
unânime
,
a
obra
do
artista
,
é
porque
a
entendeu
.
A
intelligencia
inteligência
do
povo
está
toda
no
coração
.
Não
é
calculada
,
mas
é
franca
.
(
Pausa
)
O
estatuario
estatuário
concebeu
e
modelou
a
obra
:
o
fundidor
soube-a
exprimir
com
fidelidade
.
Foi
Deus
que
juntou
dois
genios
gênios
,
para
gloria
glória
d’esta
desta
terra
!
Não
os
separemos
nós
.
(
Pausa
)
Dizer
que
o
forno
de
Drouet
servira
ao
fundidor
;
ou
que
—
(
tambem
também
se
disse
)
,
—
os
desenhos
do
estatuario
estatuário
eram
de
invenção
alheia
...
que
importa
?
Todos
sabem
quem
são
Bartholomeu
da
Costa
e
Machado
de
Castro
;
ambos
artistas
,
cujo
nobre
orgulho
jámais
jamais
consentiria
em
ornar-se
de
estranhas
galas
.
Aos
invejosos
diz-se-lhes
com
Jacintho
Freire
:
que
tem
por
escuzado
escusado
furtar
honra
,
quem
sabe
ganhal-a
ganhá-la
ganha-la
.
São
horas
(
Levanta-se
e
sae
sai
.
—
Tudo
se
levanta
e
acompanha
á
à
porta
.
—
Saem
Joaquim
Machado
,
Bartholomeu
,
Juiz
do
povo
,
etc
.
—
Ouve-se
rodar
a
carruagem
)
.
HONORATA
Vamo-nos
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Falta
pagar
.128
SCENA
CENA
X
OS
PRECEDENTES
,
menos
MARQUEZ
MARQUÊS
e
sequito
séquito
.
PÉLE
PELLE
e
logo
SARGENTO
e
SOLDADOS
(
Os
soldados
tomam
a
porta
)
.
PÉLE
PELLE
(
Entra
pela
porta
opposta
oposta
áquella
àquela
àquella
por
onde
saíra
o
Marquez
Marquês
)
SARGENTO
Ninguem
Ninguém
sáe
sai
até
segunda
ordem
.
D.
DOM
BRAZ
Mais
esta
!
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
a
Chico
)
Algum
Judas
nos
vendeu
.
CHICO
Pódi
Podi
ser
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Estamos
presas
!
HONORATA
Presas
!
Santa
Barbara
Virgem
!
Ai
!...
! ...
!
...
(
Os
soldados
cercam
os
freguezes
fregueses
)
.
CHICO
(
Ao
sargento
)
Mi
parece
não
serei
suspeito
.
SARGENTO
Lá
se
averiguará
.
Vamos
.
D.
DOM
BRAZ
Então
assim
se
prende
indistinctamente
indistintamente
o
peão
e
o
nobre
...
o
innocente
inocente
e
o
culpado
!
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
)
Isto
nem
o
Grão
Turco
!
BENEFICIADO
Hão
de
ter
o
trabalho
de
nos
soltar
.129
PACHORRA
Tanto
se
me
dá
,
como
se
me
deu
.
(
Vão
marchando
e
param
ao
entrar
o
Alferes
)
.
SCENA
CENA
XI
OS
PRECEDENTES
e
O
ALFERES
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
ao
Alferes
)
Sou
eu
.
ALFERES
(
Reconhecendo-a
,
diz-lhe
áparte
á
parte
à parte
á parte
)
Conspiradora
!...
! ...
!
...
HONORATA
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
ao
Alferes
)
Tambem
Também
eu
,
sr.
senhor
Alferes
.
ALFERES
(
Rindo
,
áparte
á
parte
à parte
á parte
a
Honorata
)
)
Bonita
figura
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
ao
Alferes
)
Não
solte
Chico
.
ALFERES
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
a
Mariasinha
Mariazinha
)
Com
effeito
efeito
?!
? !
?
!
(
Para
os
soldados
)
Deixem
saír
sair
.
(
As
duas
sáem
saem
)
.
BENEFICIADO
E
nós
?
ALFERES
Pois
ainda
cá
estão
?!
? !
?
!
D.
DOM
BRAZ
Este
maldito
Pachôrra
Pachorra
...130
ALFERES
Podem
saír
sair
.
—
Por
alli
ali
.
(
Aponta
a
porta
por
onde
não
sairam
saíram
as
duas
)
.
CHICO
Eu
tambem
também
,
sr.
senhor
Alferes
?
ALFERES
O
sr.
senhor
é
de
cor
suspeita
.
Marche
.
(
A
escolta
conduz
os
presos
)
.
(
CAE
CAI
O
PANNO
PANO
)
ACTO
ATO
QUINTO
O
Terreiro
do
Paço
,
visto
do
lado
do
mar
,
atravez
através
d’um
dum
d’
um
grande
arco
,
que
no
primeiro
plano
sustenta
a
Torre
d’Illuminação
de Iluminação
d’ Illuminação
d’
Illuminação
;
a
qual
parece
continuar
para
a
parte
superior
.
—
A
architectura
arquitetura
visivel
visível
da
praça
acabada
,
segundo
o
risco
primitivo
.
Janellas
Janelas
ornadas
de
sanefas
,
etc.
,
de
damasco
e
carmezim
carmesim
e
oiro
.
Um
lampeão
lampião
pendente
de
cada
arco
,
bambinellas
bambinelas
de
buxo
e
flores
.
A
estatua
estátua
ao
fundo
occulta
oculta
por
um
cortinado
de
tafetá
carmezim
carmesim
,
com
dois
grandes
cordões
de
seda
,
até
ao
chão
para
se
correr
a
cortina
.
O
arco
fechado
por
um
panno
pano
só
deixa
patente
a
ante-scena
antecena
até
se
dizer
que
sobe
sobe
.
.
N.
Nota
B.
Bene
—
Houve
alguem
alguém
,
que
lendo
a
descripção
descrição
d’esta
desta
scena
cena
a
julgára
julgará
inexequivel
inexequível
.
Não
é
.
O
auctor
autor
já
d’isso
disso
estava
convencido
,
pelo
estudo
,
que
previamente
havia
feito
:
todavia
,
não
confiando
em
si
,
consultou
alguns
artistas
entendidos
,
cuja
opinião
achou
conforme
á
à
sua
;
devendo
citar
,
por
mais
auctorisada
autorizada
,
a
d’esse
desse
eximio
exímio
pintor
d’architectura
de arquitetura
d’ architectura
d’
architectura
e
perspectiva
theatral
teatral
,
cujas
obras
tem
têm
sido
constantemente
admiradas
,
no
palco
de
S.
São
Carlos
e
de
D.
Dona
Maria
II
—
Rambois
SCENA
CENA
I
MARIASINHA
MARIAZINHA
e
HONORATA
(
n’um
num
dos
oculos
óculos
)
MARANHÔA
MARANHOA
(
na
rua
)
(
Infanteria
de
linha
,
fardada
(
conforme
algum
dos
figurinos
das
estampas
1.ª
primeira
,
n.°
número
4
quatro
,
e
2ª
segunda
,
3.ª
terceira
e
4.ª
quarta
)
,
formada
aos
lados
da
Praça
,
a
tres
três
de
fundo
,
segundo
o
uso
.
A
musica
música
da
Casa
Real
(
com
fardas
de
velludo
veludo
carmezim
carmesim
,
agaloadas
de
oiro
)
,
no
logar
lugar
que
melhor
convenha
ao
effeito
efeito
scenico
cênico
.
Varios
Vários
grupos
de
cavalheiros
,
damas132
e
povo
,
os
quaes
quais
deverão
,
ora
cobrir
a
bôca
boca
da
scena
cena
,
ora
desembaraçal-a
desembaraçá-la
desembaraça-la
,
segundo
as
circumstancias
circunstâncias
,
occultando-se
ocultando-se
mais
o
fundo
sempre
que
objectos
objetos
pequenos
,
em
relação
ao
monumento
,
se
approximem
aproximem
d’elle
dele
delle
)
.
MARANHÔA
MARANHOA
Estão
ahi
aí
ás
às
mil
maravilhas
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Excellentemente
Excelentemente
.
MARANHÔA
MARANHOA
A
familia
família
real
diz
que
vem
incólita
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Incognita
Incógnita
,
sim
.
Como
as
honras
são
feitas
a
El-Rei
,
é
da
etiqueta
vir
assim
.
Vem
como
eu
.
MARANHÔA
MARANHOA
O
sr.
senhor
Marquez
Marquês
chegou
agora
.
Diz
que
elle
ele
em
pessoa
,
e
mais
o
filho
,
é
que
puxam
pelos
corões
do
cortinado
.
Que
acompanhamento
!
Nunca
se
viu
!
Já
o
Meirinho
se
apeava
da
carruagem
,
á
à
porta
do
Senado
,
e
ainda
o
senhor
Marquez
Marquês
se
não
tinha
embarcado
no
côche
coche
em
que
veiu
veio
lá
da
calçada
d’Ajuda
da Ajuda
d’ Ajuda
d’
Ajuda
!
MARIAZINHA
Com
effeito
efeito
?!
? !
?
!
MARANHÔA
MARANHOA
Como
quem
viu
.
Ora
vejam
;
desde
a
calçada
d’Ajuda
da Ajuda
d’ Ajuda
d’
Ajuda
que
é
uma
ira
de
Deus
!...
! ...
!
...
E
então
que
riqueza
!
D’alli
Dali
Dalli
não
se
passa
.
Os
vestidos
,
as
séges
seges
,
os
côches
coches
...
e
tudo
feito
pela
benta
mão
da
nossa
gente
!
Sim
senhor
.
O
senhor
Marquez
Marquês
sempre
é
um
grande
homem
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
Isso
é
verdade
.133
MARANHÔA
MARANHOA
Quem
viu
Lisboa
e
a
vê
hoje
é
que
o
pode
dizer
.
Fazer
d’um
dum
d’
um
monte
de
entulho
o
que
se
está
vendo
!
O
homem
sempre
tem
uma
grande
cabeça
!
HONORATA
É
voz
constante
.
(
O
Neto
passeia
acompanhado
pelos
pretos
)
.
MARANHÔA
MARANHOA
(
Vendo
o
Neto
)
Ó
comadre
.
Olhe
o
negregado
do
Neto
,
tambem
também
fazendo
sua
figura
!
Aquillo
Aquilo
!
HONORATA
A
sr.ª
senhora
Maranhôa
Maranhoa
tem-lhe
sêde
sede
.
MARANHÔA
MARANHOA
Pois
qual
ha
há
de
ser
a
collareja
colareja
,
que
olhe
direito
para
o
cão
de
fila
do
Senado
?
E
os
mazombos
dos
negros
,
como
se
empertigam
!
Quando
os
vejo
,
vejo
o
diabo
...
Cruzes
canhôto
canhoto
!
(
fazendo
cruzes
)
Eu
com
o
Neto
e
a
comadre
com
o
seu
mestre
...
SCENA
CENA
II
OS
PRECEDENTES
,
CHICO
e
D.
DOM
BRAZ
(
(
Chico
e
D.
Dom
Braz
apparecem
aparecem
ao
fundo
)
.
HONORATA
Eil-o
Ei-lo
ahi
aí
!
(
Esconde-se
)
.
MARANHÔA
MARANHOA
E
o
sr.
senhor
D.
Dom
Braz
.
HONORATA
(
Zangada
)
Não
pode
andar
o
tacho
sem
o
caldeirão
.134
MARIASINHA
MARIAZINHA
Deixe-os
vir
.
Já
estou
cançada
cansada
.
HONORATA
E
depois
,
como
o
sr.
senhor
Alferes
...
MARANHÔA
MARANHOA
Qual
?
HONORATA
O
sr.
senhor
Alferes
...
(
Baixo
a
Maranhôa
Maranhoa
)
A
menina
toma
estado
.
Segredo
.
MARANHÔA
MARANHOA
Ah
...
Adeus
,
que
tenho
medo
me
não
tomem
o
meu
logar
lugar
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Não
se
esqueça
de
vir
contar
o
que
houver
.
MARANHÔA
MARANHOA
Logo
.
(
Sae
Sai
.
Mariasinha
Mariazinha
e
Honorata
mettem-se
metem-se
para
dentro
.
Apparecem
Aparecem
de
vez
em
quando
)
.
CHICO
A
praça
,
com
effeito
efeito
,
está
vistosa
!...
! ...
!
...
D.
DOM
BRAZ
Não
está
má
.
(
Analyza
Analisa
o
arco
)
Esta
é
a
tal
torre
que
se
ha
há
de
illuminar
iluminar
.
CHICO
Dizem
qui
fará
mutações
di
muito
gosto
.
D.
DOM
BRAZ
A
parte
da
praça
construida
construída
de
madeira
,
não
se
differença135
diferença
da
outra
.
Lá
bons
artifices
artífices
temos
nós
.
São
ainda
restos
de
bom
tempo
.
Ora
pois
,
esperemos
que
elle
ele
volte
.
(
Pensativo
)
Mas
,
com
effeito
efeito
,
appareceu
apareceu
dentro
da
carroagem
carruagem
a
caixa
com
polvora
pólvora
e
o
estopim
?
CHICO
Não
ha
há
duvida
dúvida
.
D.
DOM
BRAZ
Eu
por
mim
tenho
toda
.
Isso
não
foi
senão
invenção
do
Marquez
Marquês
.
CHICO
Creio
qui
não
.
D.
DOM
BRAZ
O
homem
é
capaz
de
tudo
.
Emfim
Enfim
,
como
me
affiança
afiança
que
o
Genovez
genovês
genovez
se
poderá
evadir
da
prisão
...
CHICO
Fiqui
certo
.
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
)
Para
a
forca
.
D.
DOM
BRAZ
A
minha
bolsa
conte
com
ella
ela
.
Peze-se
Pese-se
o
carcereiro
a
oiro
,
se
fôr
for
preciso
,
mas
livre-se
o
homem
que
estou
certissimo
certíssimo
não
tem
culpa
.
Deixe
que
o
dia
não
acaba
em
bem
.
CHICO
Porquê
Por quê
Por
quê
?
Sabe
alguma
coisa
?
D.
DOM
BRAZ
Sei
dos
pasquins
que
appareceram
apareceram
e
que
decerto
são
annuncios
anúncios
de
grande
trovoada
.
CHICO
Estou
por
isso
.
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
)
Qui
louco
!136
SCENA
CENA
III
OS
PRECEDENTES
,
BENEFICIADO
,
LOBO
,
RAPAZES
e
PACHORRA
RAPAZES
(
Cercam
o
Beneficiado
)
Ó
sr.
senhor
Beneficiado
!
Ó
sr.
senhor
Beneficiado
!
BENEFICIADO
Que
querem
vossês
vocês
?
RAPAZES
Vende-me
um
vintem
vintém
de
chocas
?
Dá-me
dez
réis
de
chocas
?
BENEFICIADO
De
que
anno
ano
as
querem
?
digam
Digam
:
de
que
anno
ano
?
(
Finge
que
avança
para
elles
eles
,
batendo
os
pés
)
Richó
passarada
passarada
!
!
Safa
!
(
Batendo
as
palmas
;
os
rapazes
dispersam
rindo
)
.
D.
DOM
BRAZ
(
Que
tem
observado
)
Invejo-te
a
paciência
!
Dá
um
pescoção
n’um
num
,
que
já
os
outros
se
não
atrevem
.
BENEFICIADO
Qual
!
Assim
levam
a
coisa
de
brincadeira
.
E
olha
que
são
minhas
amigas
deveras
...
as
pobres
creanças
crianças
.
Como
quem
o
tem
experimentado
.
Se
os
maltratasse
,
tomavam-me
á
à
sua
conta
e
apupavam-me
pelas
esquinas
.
Lembra-me
de
Esopo
,
que
dava
dinheiro
aos
rapazes
que
o
apedrejavam
.
LOBO
A
praça
está
brilhante
!
Festa
de
dia
,
festins
á
à
noite
,
opera
ópera
no
theatro
teatro
real
,
banquetes
...
É
um
dia
cheio
.
Era
quando
eu
desejava
poder-me
repartir
em
diversos
pedaços
...137
BENEFICIADO
Ou
ser
como
Deus
para
poder
estar
em
toda
a
parte
.
O’
Ó
D.
Dom
Braz
,
onde
passas
a
noite
?
D.
DOM
BRAZ
Eu
,
para
casa
antes
de
Trindades
.
BENEFICIADO
Ainda
que
eu
peça
ao
Alferes
,
que
te
ponha
uma
guarda
á
à
porta
,
não
te
has
hás
de
recolher
hoje
com
as
galinhas
.
D.
DOM
BRAZ
Pois
sim
.
LOBO
Não
digo
,
que
vamos
ao
baile
da
junta
do
Commercio
Comércio
,
que
hão
de
lá
estar
os
eraristas
...
os
taes
tais
francelhos
,
que
em
elles
eles
começando
a
estropiar
o
portuguez
português
,
são
capazes
de
fazer
dores
de
cabeça
a
um
surdo
.
Dá
vontade
de
os
aspar
.
Tambem
Também
não
sou
de
voto
,
que
se
vá
ao
festim
da
Casa
dos
Vinte
e
Quatro
:
para
ouvir
o
Juiz
(
o
Correeiro
)
et
reliqua
,
a
soletrarem
pessimos
péssimos
versos
...
Deus
nos
acuda
!
PACHORRA
Pois
é
o
melhor
.
Tresentas
Trezentas
arrobas
de
doce
,
sei
que
á
a
tem
nas
estufas
.
Eu
cá
já
tenho
bilhete
.
BENEFICIADO
Forte
lambareiro
!
PACHORRA
Tanto
se
me
dá
como
se
me
deu
.138
LOBO
Sério
.
Sou
de
parecer
,
que
vejamos
accender
acender
a
illuminação
iluminação
da
Praça
...
dá-se
Dá-se
depois
uma
vista
de
olhos
ás
às
salas
do
Senado
,
vamos
á
à
casa
do
sello
selo
ver
o
lago
...
D.
DOM
BRAZ
Qual
lago
,
nem
meio
lago
.
LOBO
Sériamente
Seriamente
.
Disse-me
pessoa
de
gosto
,
que
tem
que
ver
.
E’
É
guarnecido
de
arvoredo
,
andam
dentro
varias
várias
embarcações
embandeiradas
...
Ha
Há
um
jardim
,
cascatas
.
Emfim
Enfim
,
merece
a
pena
.
D.
DOM
BRAZ
Veremos
.
D’aqui
Daqui
até
a
noute
,
ainda
o
tal
lago
póde
pode
seccar
secar
.
O
mundo
dá
tanta
volta
...
(
Baixo
)
Já
viram
os
pasquins
fitos
á
à
Memoria
memória
memoria
?
BENEFICIADO
Não
!
D.
DOM
BRAZ
(
Dá
um
a
Lobo
,
outro
ao
Beneficiado
e
fica
com
o
terceiro
)
)
Leiam
de vagar
devagar
.
BENEFICIADO
Não
tem
duvida
dúvida
.
(
Lê
alto
)
Já
fui
sino
famoso
com
badalo
.
Agora
sou
rei
,
e
sou
cavallo
cavalo
.
D.
DOM
BRAZ
(
Lê
)
Eu
já
estou
a
cavallo
cavalo
E
abalo
.
Tu
,
ó
Marquez
Marquês
,
Não
vae
vai
inda
d’esta
desta
vez
.139
Mas
,
como
não
és
eterno
,
Lá
te
esperam
no
inferno
.
E
que
tal
?
LOBO
Nem
por
isso
.
Agora
esta
sim
senhor
.
E’
É
em
latim
.
com
Com
duas
palavras
ninguem
ninguém
diz
mais
—
Statua
statuae
.
D.
DOM
BRAZ
E’
É
boa
!
Juntarem
o
nominativo
com
o
genitivo
!
PACHORRA
Statua
,
statuae
,
vae
vai
por
Hora
horae
,
não
vae
vai
?
LOBO
Mas
que
significa
?
PACHORRA
Estatua
Estátua
da
estatua
estátua
.
Eu
ainda
sei
latim
.
LOBO
Mas
onde
vae
vai
a
satyra
sátira
?
D.
DOM
BRAZ
(
Explicando
)
E’
É
em
dizer
,
que
a
estatua
estátua
d’El-Rei
é
estatua
estátua
d’outra
de outra
d’ outra
d’
outra
estatua
estátua
,
que
é
elle
ele
.
BENEFICIADO
E’
É
chamar
estatua
estátua
a
el-rei
El-rei
,
em
summa
suma
.
D.
DOM
BRAZ
Falla
Fala
baixo
,
que
os
espias
são
como
mosquitos
.
A
proposito
propósito
,
é
necessario
necessário
cautella
cautela
com
o
Alferes
.
Dizem
que
foi
elle
ele
quem
denunciou
o
Genovez
genovês
genovez
.
BENEFICIADO
Isso
é
uma
calumnia
calúnia
!140
D.
DOM
BRAZ
Elle
Ele
é
valido
do
Marquez
Marquês
...
LOBO
Seja
o
que
fôr
for
,
é
um
moço
de
bem
.
BENEFICIADO
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
a
Lobo
)
Será
intriga
do
faceira
!
(
Alto
)
Quem
diz
que
o
Alferes
não
é
um
militar
honrado
e
cavalheiro
...
SCENA
CENA
IV
OS
PRECEDENTES
e
ALFERES
ALFERES
(
Tendo
ouvido
)
Mente
!
CHICO
(
A’parte
A’ parte
A’
parte
À parte
)
Pai
do
céo
céu
!
(
D.
Dom
Braz
esconde
os
pasquins
)
ALFERES
Quem
é
que
se
atreveu
a
...
(
Fitando-os
)
BENEFICIADO
Não
é
nada
.
ALFERES
E’
É
alguma
coisa
.
Tu
,
que
me
defendias
,
é
porque
houve
quem
accusasse
acusasse
.
(
Para
Chico
)
Só
podia
ser
este
...
CHICO
Eu
!...
! ...
!
...
(
Com
medo
)
ALFERES
Só
!...
! ...
!
...
Os
mais
...
(
Correndo-os
com
a
vista
)
nem
Nem
todos
serão
meus
amigos
,
mas
todos
são
cavalheiros
.
(
Agarra-lhe
o
braço
com
força
e
sacode-o
)141
CHICO
Ai
,
ai
,
ai
!
(
Tremendo
)
ALFERES
Contêm-me
Contem-me
,
o
não
querer
perturbar
o
regosijo
regozijo
d’este
deste
dia
...
mas
juro-lhe
que
não
as
perde
seu
boneco
da
China
,
.
(
Sacudindo-o
)
Que
dizia
de
mim
?
CHICO
Nada
,
nadasinha
nadazinha
...
meu
rico
senhor
...
(
Tremendo
)
BENEFICIADO
Não
foi
nada
.
Estavamos
Estávamos
lendo
os
pasquins
.
ALFERES
(
Puchando
Puxando
por
dois
papeis
papéis
)
Aqui
lhes
trazia
uma
copia
cópia
...
BENEFICIADO
E
então
este
nosso
incredulo
incrédulo
(
Designando
D.
Dom
Braz
)
foi
quem
disse
...
não
Não
seria
prudente
...
nem
mesmo
delicado
...
porque
emfim
enfim
...
eras
amigo
do
Marquez
Marquês
.
ALFERES
Receiava
Receava
,
que
eu
lh’o
lho
fosse
contar
!
BENEFICIADO
Não
...
Diz
,
que
lhe
tinham
dito
...
alguem
alguém
...
Ou
,
que
tinha
ouvido
...
ALFERES
Foi
este
cafre
.
CHICO
Eu
!!...
! ! ...
!
!
...
(
Tremendo
)142
ALFERES
Silencio
Silêncio
!
que
Que
está
deante
diante
de
gente
.
Nada
me
admira
d’esse
desse
salto
negro
de
ruim
sapato
;
nado
e
creado
criado
,
para
viver
no
lodo
...
Porém
que
o
fidalgo
,
o
cavalheiro
que
olha
de
mais
alto
,
que
da
honra
e
polidez
das
proprias
próprias
acções
ações
,
deve
fazer
instrumento
para
medir
as
alheias
...
que
esse
não
distinga
o
infame
do
homem
de
bem
!...
! ...
!
...
é
É
...
o
menos
que
posso
é
chamar-lhe
cegueira
!...
! ...
!
...
E
de
feito
não
ha
há
cegueira
maior
,
do
que
a
paixão
de
partido
...
especie
espécie
de
gota
serena
,
que
nos
tolda
os
olhos
d’alma
da alma
d’ alma
d’
alma
á
à
razão
e
ao
bom
juizo
juízo
!
(
Pausa
)
CHICO
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
tremendo
como
varas
verdes
)
Mi
máta
mata
,
pai
da
minh’alma
minha alma
minh’ alma
minh’
alma
!
ALFERES
Firme
!
Typo
Tipo
do
faceira
ridiculo
ridículo
e
despresivel
desprezível
!
Retire-se
,
e
se
me
consta
,
que
fallou
falou
em
mim
,
que
pronunciou
sequer
o
meu
nome
,
conte
que
lhe
arranco
a
lingua
língua
.
Será
menos
um
ramo
de
peste
,
que
deixe
de
infeccionar
as
boas
reputações
.
(
Em
voz
de
commando
comando
)
Espia
e
denunciante
.
A
cem
leguas
léguas
.
Marche
!
(
Chico
retira
apressado
.
Os
tambores
rufam
dentro
)
BENEFICIADO
Foi
a
toque
de
caixa
.
LOBO
Militarmente
.
ALFERES
(
a
D.
Dom
Braz
dando-lhe
um
papel
)
Aqui
tem
.
Conheça-o
.
D.
DOM
BRAZ
Pois
elle
ele
!...
! ...
!
...
(
Depois
de
ter
com
receio
)143
ALFERES
O
seu
amigo
denunciou-o
,
como
implicando
na
conspiração
do
Genovez
Genovez
!
genovês
genovez
!
D.
DOM
BRAZ
Mas
...
(
Assustado
)
E’
É
falso
...
ALFERES
Não
receie
.
Alguem
Alguém
o
afiançou
,
e
a
denuncia
denúncia
está
nulla
nula
.
(
Rasga
a
denuncia
denúncia
)
D.
DOM
BRAZ
E’
É
uma
fineza
...
ALFERES
De
que
já
me
não
lembra
.
D.
DOM
BRAZ
Então
o
patife
não
é
contra
o
Marquez
Marquês
?!
? !
?
!
ALFERES
Não
.
D.
DOM
BRAZ
Ah
!...
! ...
!
...
Então
já
me
não
admiro
de
que
elle
ele
seja
o
que
é
.
ALFERES
Se
não
é
contra
,
tambem
também
não
é
a
favor
.
É
um
espia
:
um
individuo
indivíduo
que
se
vende
como
qualquer
traste
usado
.
Mas
deixemos
isso
...
(
Dentro
rufam
os
tambores
.
Vozes
:
Vae
Vai
começar
!
)
Adeus
,
que
vou
...
ganhar
a
aposta
.
Vae-se
Vai-se
descobrir
a
Memoria
Memória
.
D.
DOM
BRAZ
Veremos
o
que
apparece
aparece
.
BENEFICIADO
Naturalmente
um
homem
a
cavallo
cavalo
.
(
Retiram-se
)
.144
SCENA
CENA
V
MARIASINHA
MARIAZINHA
,
HONORATA
,
MARQUES
,
etc.
(
Sobe
o
panno
pano
do
arco
e
vê-se
a
Praça
.
Ouvem-se
as
vozes
do
commando
comando
:
Armas
armas
ao
hombro
ombro
!
Executam
o
movimento
.
Joaquim
Machado
e
Bartholomeu
pegam
nos
cordões
da
cortina
.
A
musica
música
da
Casa
põe-se
em
ordem
.
Entra
o
Marquez
Marquês
e
seu
filho
o
Conde
de
Oeiras
,
seguidos
da
Junta
do
Commercio
Comércio
e
Casa
dos
24
vinte e quatro
,
todos
vestidos
de
capa
e
volta
e
cocar
de
plumas
brancas
nos
chapeos
chapéus
.
Fato
rico
,
bem
bordado
,
mas
preto
.
O
Marquez
Marquês
e
filho
vem
cobertos
,
os
outros
não
.
Entram
pela
esquerda
,
vem
vêm
proximo
próximo
á
à
bócca
boca
do
theatro
teatro
,
voltam
á
à
esquerda
e
defronte
da
Memoria
Memória
abrem
alas
,
caminhando
direitos
á
à
mesma
.
A
certa
distancia
distância
param
e
ahi
aí
Joaquim
Machado
e
Bartholomeu
entregam
os
cordões
ao
Marquez
Marquês
e
filho
.
Estes
puxam
;
cae
cai
o
cortinado
e
apparece
aparece
a
Estatua
Estátua
.
Immediatamente
Imediatamente
o
Marquez
Marquês
e
filho
saúdam
com
trez
três
cortezias
cortesias
de
chapeo
chapéu
e
inclinação
de
corpo
,
e
o
mais
de
joelho
em
terra
.
A
tropa
apresenta
armas
e
soam
as
musicas
músicas
.
O
Marquez
Marquês
dá
o
primeiro
viva
:
Viva
viva
D.
Dom
José
I
,
Rei
de
Portugal
!
Todos
Correspondem
correspondem
.
Chovem
sobre
a
Praça
flôres
flores
e
papeis
papéis
impressos
,
entre
estes
a
estampa
da
Memoria
memória
memoria
.
O
Marquez
Marquês
e
seu
sequito
séquito
saem
,
indo
a
ala
direita
pela
esquerda
e
a
esquerda
pela
direita
.
Os
reis
d’armas
de armas
d’ armas
d’
armas
continuam
os
vivas
.
A
tropa
descança
armas
.
O
povo
olha
com
admiração
para
a
Estatua
Estátua
.
Bartholomeu
e
Machado
recebem
parabens
parabéns
.
Enche-se
a
scena
cena
com
varios
vários
grupos
)
.
SCENA
CENA
VI
TODOS
,
menos
MARQUEZ
MARQUÊS
,
o
seu
sequito
séquito
e
CHICO
(
Uns
contemplando
a
Estatua
Estátua
,
outros
conversando
entre
si
,
mais
ou
menos
distantes
e
ora
apparecendo
aparecendo
,
ora
não
,
segundo
convier
ao
movimento
da
scena
cena
e
seguintes
dialogos
diálogos
.
Fecha
o
arco
e
desapparece
desaparece
a
Praça
)
.
MARANHÔA
MARANHOA
(
Debaixo
da
janella
janela
)
Que
suspensão
,
comadre
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
Está
nobre
!
HONORATA
É
quanto
os
olhos
podem
vêr
ver
!145
MARANHÔA
MARANHOA
E
então
tudo
pegado
!
cavallo
Cavalo
Cavallo
e
cavalleiro
cavaleiro
!
Agora
é
que
hão
de
vir
os
carros
trumfantes
trunfantes
.
Primeiro
vem
o
da
America
América
,
depois
o
da
Europia
...
Ámanhã
Amanhã
é
que
vem
vêm
os
outros
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Venha
agora
para
aqui
.
MARANHÔA
MARANHOA
Pois
vou
.
(
Entra
pela
portinha
do
arco
)
.
BENEFICIADO
(
Com
a
estampa
da
memoria
memória
na
mão
)
Está
muito
natural
.
(
Mostra
)
.
LOBO
Bom
desenho
e
bem
gravado
.
MACHADO
E
obra
do
nosso
Joaquim
Carneiro
,
professor
de
desenho
do
Collegio
Colégio
dos
Nobres
.
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
a
Lobo
)
Cavalleiro
Cavaleiro
sem
luvas
...
MACHADO
(
Que
tem
ouvido
)
Alguem
Alguém
nota
que
o
cavalleiro
cavaleiro
não
tenha
luvas
.
Coitados
!
Para
esses
,
que
só
pasmam
diante
de
qualquer
punho
de
renda
mesquinhamente
recortado
,
ou
das
molduras
de
uma
fivelinha
amaneirada
,
fôra
fora
melhor
não
só
occultar
ocultar
as
mãos
do
cavalleiro
cavaleiro
em
pesadas
manoplas
,
mas
calar-lhe
a
viseira
do
elmo
,
para
que
não
vissem
uma
só
d’essas
dessas
fórmas
formas
naturaes
naturais
,
rasgadas
e
sublimes
...
—
sublimes
Sublimes
demais
para
olhos
de
ignorancia
ignorância
,
as
unicas
únicas
por
onde
se
manifesta
o
imperio
império
da
arte
e
o
genio
gênio
do
artista
!
Pena
tive
...
e
tenho146
ainda
,
de
o
não
vestir
á
à
romana
...
(
Com
pesar
)
Não
m’o
mo
consentiram
!...
! ...
!
...
Paciencia
Paciência
...
Além
do
rosto
só
me
deixaram
as
mãos
,
e
essas
,
por
favor
favor
!
!
...
Foi
pouco
,
é
verdade
,
mas
fiz
por
tirar
d’elle
dele
delle
todo
o
partido
.
Se
o
consegui
não
sei
...
LOBO
Os
vindouros
lhe
farão
a
justiça
que
merece
,
sr.
senhor
Joaquim
Machado
.
MACHADO
Negando
talvez
o
pão
a
meus
filhos
!...
! ...
!
...
BENEFICIADO
Coitados
d’elles
deles
delles
se
tiverem
de
o
pedir
!
Ficarão
com
a
vergonha
da
recusa
,
que
é
quasi
quase
sempre
a
esmola
com
que
aqui
se
pagam
as
obras
do
artista
!
MACHADO
É
verdade
.
BENEFICIADO
(
A
D.
Dom
Braz
)
E
tu
que
dizes
?
D.
DOM
BRAZ
Que
não
percebi
bem
.
Com
o
sol
...
BENEFICIADO
Não
distinguiste
o
cavallo
cavalo
do
cavalleiro
cavaleiro
,
hein
?
D.
DOM
BRAZ
É
verdade
.
(
Sorrindo
)
.
LOBO
A
postura
do
cavallo
cavalo
é
soberba
.
BENEFICIADO
Parece
andar
.147
MACHADO
Está
em
piaffer
,
que
é
aquelle
aquele
movimento
do
cavalo
em
que
não
avança
terreno
.
É
o
manejo
em
que
o
animal
mostra
mais
fogo
,
brio
e
nobreza
:
fica
o
corpo
mais
agrupado
,
menos
esgalgado
do
que
a
passo
.
Julgo
ser
essa
uma
das
bellezas
belezas
em
que
o
monumento
de
Lisboa
excede
os
estrangeiros
.
BENEFICIADO
Acho-lhe
um
defeito
.
MACHADO
Como
?
BENEFICIADO
Não
é
seu
.
Acho-lhe
uma
coisa
ás
às
avéssas
avessas
.
MACHADO
O
quê
?
BENEFICIADO
O
busto
do
Marquez
Marquês
devia
estar
por
cima
e
a
estatua
estátua
por
baixo
.
(
Rindo
)
.
MACHADO
(
Rindo
)
Percebo
.
D.
DOM
BRAZ
É
o
que
faltava
.
BENEFICIADO
Se
fosse
o
busto
de
Santo
Ignacio
Ignácio
...
D.
DOM
BRAZ
Não
confundas
o
sagrado
com
o
profano
:
um
põe-se
na
igreja
e
o
outro
na
rua
.
(
Ouve-se
musica
música
.
Vozes
Vozes
:
:
Ahi
Aí
vem
os
carros
!
Corre
o
panno
pano
do
arco
e
vê-se
a
Praça
.
Apparece
Aparece
o
carro
da
America
América
,
construido
construído
segundo
o
desenho
n.°
número
6
seis
,
seguido
dos
seus
comparsas
a
pé
,
vestidos
segundo
os
figurinos
da
estampa
7.ª
sétima
e
da
dança148
das
Curraleiras
(
fig.
figura
n.°
número
4
quatro
,
estampa
5.ª
quinta
)
.
O
carro
é
seguido
de
um
piquete
de
infanteria
.
Entra
pela
esquerda
e
volta
defronte
da
Estatua
Estátua
,
onde
pára
para
.
A
musica
música
,
logo
que
o
carro
,
entrado
em
scena
cena
,
vae
vai
a
dar
a
volta
,
pára
para
.
Emquanto
Enquanto
as
dançarinas
,
etc.
,
se
põe
a
postos
,
ha
há
o
seguinte
curto
dialogo
diálogo
)
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Este
é
o
carro
da
America
América
?
ALFERES
(
Tem
vindo
collocar-se
colocar-se
debaixo
da
janela
do
arco
)
É
.
A
America
América
symbolisa-se
simboliza-se
na
grande
figura
que
vem
sentada
sobre
um
jacaré
,
por
ser
animal
oriundo
d’aquellas
daquelas
daquellas
regiões
.
(
Apontando
)
O
primeiro
guia
representa
a
generosidade
e
o
outro
a
riqueza
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
E
o
pretinho
que
vem
adiante
?
ALFERES
É
um
cabôclo
caboclo
vestido
ao
uso
do
paiz
país
,
cercado
de
varios
vários
animaes
animais
,
etc.
,
que
aquelle
aquele
finge
vir
offertar
ofertar
á
à
real
estatua
estátua
.
(
Segue
o
hymno
hino
cantado
em
côro
coro
,
mencionado
no
terceiro
acto
,
e
depois
a
dança
.
Finda
ella
ela
retira
o
carro
ao
som
do
hymno
hino
.
O
povo
,
etc.
,
enchem
a
praça
e
contemplam
a
estatua
estátua
,
etc
.
Desce
o
panno
pano
do
arco
e
o
espectador
deixa
de
vêr
ver
a
Praça
)
.
ALFERES
Agora
seria
talvez
mais
recreativo
um
passeio
pelo
terreiro
,
não
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
É
...
(
Desce
)
.
(
Honorata
e
Mariasinha
Mariazinha
sáem
saem
)
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Se
encontrarmos
o
tio
...149
ALFERES
Pedimos-lhe
a
benção
.
Ambos
somos
sobrinhos
...
MARIASINHA
MARIAZINHA
Cuida
?
ALFERES
Affirmo
Afirmo
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
A
Honorata
)
Vamos
.
(
Volta
e
encara
com
o
tio
)
Ah
!...
! ...
!
...
(
Retira-se
)
.
HONORATA
(
Volta
e
encara
com
D.
Dom
Braz
)
Jesus
!
(
Retirando-se
)
.
(
D.
Dom
Braz
e
o
Beneficiado
tem-se
approximado
aproximado
conversando
,
e
dão
com
Mariasinha
Mariazinha
,
Honorata
e
o
Alferes
)
.
ALFERES
Não
fujam
.
D.
DOM
BRAZ
Parecem-se
,
mas
não
são
ellas
elas
.
(
Ao
Beneficiado
)
.
ALFERES
São
,
são
...
D.
DOM
BRAZ
Como
?
se
Se
as
deixei
fechadas
á
à
chave
!...
! ...
!
...
BENEFICIADO
É
porque
houve
quem
abrisse
.
ALFERES
Bem
sabe
que
a
prohibição
proibição
augmenta
aumenta
o
desejo
.150
BENEFICIADO
É
verdade
.
(
A’parte
A’ parte
A’
parte
À parte
a
D.
Dom
Braz
)
Isto
quer-se
guardado
,
mas
fechado
não
.
É
como
os
estofos
:
em
não
lhe
dando
o
ar
estragam-se
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
E
depois
...
o
exemplo
do
tio
...
D.
DOM
BRAZ
Quem
lh’o
lho
disse
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
Vi
...
D.
DOM
BRAZ
Pois
viu
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
Sim
,
meu
tio
.
No
ensaio
...
no
largo
da
Fundição
...
na
...
D.
DOM
BRAZ
Que
horror
!
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
)
Ah
Marquez
Marquês
,
Marquez
Marquês
!
MARIASINHA
MARIAZINHA
Mas
não
andei
só
.
Honorata
acompanhou-me
sempre
.
HONORATA
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
a
Mariasinha
Mariazinha
)
Menina
!
D.
DOM
BRAZ
Tambem
Também
tu
?!
? !
?
!
Fiem-se
lá
em
beatas
!
Heide
Hei-de
ficar
só
,
só
!
Totus
,
solus
,
et
unus
unus
!
!
Mulheres
em
minha
casa
,
nem
pintadas
as
quero
mais
.
BENEFICIADO
Pintadas
,
não
:
é
bem
feito
.151
ALFERES
Emfim
Enfim
,
a
Memoria
Memória
está
inaugurada
.
Ganhei
a
aposta
.
D.
DOM
BRAZ
Veremos
.
ALFERES
Pois
não
vê
?!
? !
?
!
D.
DOM
BRAZ
Não
vejo
não
senhor
.
Á
À
noite
é
que
se
hade
há-de
ha-de
vêr
ver
.
ALFERES
De
dia
,
não
?!...
? ! ...
?
!
...
Pois
bem
,
não
ganhei
a
aposta
,
ganhei
a
noiva
.
Concorda
?
D.
DOM
BRAZ
Concordo
em
tudo
,
menos
em
que
ganhasse
a
aposta
.
(
Zangado
)
.
ALFERES
Então
,
a
senhora
D.
Dona
Mariasinha
Mariazinha
...
se
ella
ela
consentir
...
D.
DOM
BRAZ
Ella
Ela
não
sabe
o
que
quer
...
ALFERES
Mas
se
souber
?
D.
DOM
BRAZ
Tu
sabes
?
MARIASINHA
MARIAZINHA
Sei
...
D.
DOM
BRAZ
Pois
sabes
?!...152
? ! ...
?
!
...
BENEFICIADO
Pareces-me
pateta
!
Qual
é
a
que
não
sabe
?!
? !
?
!
D.
DOM
BRAZ
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
ao
Beneficiado
)
Se
elle
ele
não
fosse
pelo
Marquez
Marquês
...
BENEFICIADO
(
Áparte
Á
parte
Á parte
À parte
a
D.
Dom
Braz
)
Por
isso
mesmo
.
É
provavel
provável
que
os
encantos
da
noiva
o
façam
mudar
.
D.
DOM
BRAZ
É
verdade
!
(
Alto
)
Pois
bem
,
bem
...
ALFERES
Consente
?
D.
DOM
BRAZ
Consinto
.
O
Beneficiado
approva
aprova
...
diz
que
...
(
Ouve-se
musica
música
)
.
MARANHÔA
MARANHOA
(
Á
À
janella
janela
)
É
o
carro
da
Iropia
Iropia
!
!
Agora
é
que
vem
a
afilhada
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
Com
licença
.
(
Entra
e
sobe
para
a
janella
janela
.
Honorata
tambem
também
)
.
(
Sobe
o
panno
pano
do
arco
e
apparece
aparece
a
Praça
.
O
carro
entra
,
seguindo
uma
marcha
igual
à
que
trouxe
o
carro
da
America
América
.
É
construido
construído
conforme
o
modelo
,
estampa
8.ª
oitava
Os
comparsas
vestidos
segundo
os
figurinos
das
estampas
9.ª
nona
e
10.ª
décima
Segue-se
o
carro
,
com
os
seus
dois
guias
,
depois
os
comparsas
e
respectiva
dança
das
collarejas
colarejas
,
vestidas
conforme
o
figurino
n.°
número
2
dois
,
estampa
5.ª
quinta
Atraz
Atrás
varias
várias
figuras
de
homem
e
mulher
,
vestidos
representando
diversas
allegorias
alegorias
:
por
exemplo
Lysia
,
Tejo
,
Douro
,
etc.
,
e
depois
os
comparsas
a
cavallo
cavalo
.
O
carro
entra
ao
som
do
hymno
hino
e
depois
das
primeiras
cortezias
cortesias
do
acompanhamento
cessa
a
musica
música
e
a
figura
allegorica
alegórica
do
Tejo
recita
o
seguinte
)
.153
TEJO
As
nuvens
opacas
,
que
o
solido
sólido
circundam
Vês
hoje
trocadas
em
vivo
clarão
.
Escutas
mil
vozes
,
que
os
ares
inundam
,
Do
povo
singelas
;
mentidas
,
oh
não
.
Eguaes
Iguais
se
tributam
as
honras
,
os
preitos
,
A
reis
e
tyranos
tiranos
,
em
regio
régio
salão
;
Em
aulicas
áulicas
linguas
línguas
,
são
Neros
perfeitos
,
Sesostris
Sesóstris
val
vale
menos
que
um
Pymalião
Pigmaleão
.
Mas
,
quando
na
praça
,
liberrimas
libérrimas
soam
,
Mil
vozes
diversas
,
que
unisonas
uníssonas
são
,
Por
bocca
boca
do
Eterno
,
verdades
resoam
ressoam
,
De
reprobos
réprobos
penas
,
do
justo
ovação
!
Nos
tectos
tetos
,
que
abrigam
real
aposento
,
Reflecte
Reflete
a
lisonja
do
vil
cortezão
cortesão
;
Aqui
,
nas
estrellas
estrelas
d’azul
de azul
d’ azul
d’
azul
firmamento
,
Celestes
effluvios
eflúvios
d’eterna
de eterna
d’ eterna
d’
eterna
mansão
!
Se
tinhas
um
throno
trono
,
de
reis
foi
legado
:
Herança
,
que
herdamos
,
virtudes
não
são
:
Mas
esse
que
os
povos
agora
te
hão
dado
,
É
premio
prêmio
mais
alto
,
distincto
distinto
brasão
.
Nos
eccos
ecos
sentidos
do
bronze
funereo
funéreo
Esvae-se
Esvai-se
da
vida
mimoso
condão
:
Consagra-te
o
bronze
da
fama
o
imperio
império
,
Alli
Ali
,
sôa
soa
morte
;
diz
cá
,
duração
!
(
Agora
ou
segue
o
dialogo
diálogo
ou
o
côro
coro
,
ficando
n’esse
nesse
caso
aquelle
aquele
para
a
entrada
do
carro
)
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
(
Á
À
janella
janela
)
Bem
se
vê
que
é
o
carro
da
Europa
.
Pelo
cavallo
cavalo
...154
ALFERES
Decerto
.
O
primeiro
guia
figura
a
gloria
glória
dos
principes
príncipes
,
merecida
sómente
somente
quando
fazem
a
ventura
do
seu
povo
.
O
segundo
symbolisa
simboliza
a
honra
,
que
deve
ser
o
primeiro
movel
móvel
das
acções
ações
dos
reis
.
MARIASINHA
MARIAZINHA
A
dama
vem
rica
.
vestido
Vestido
talar
...
corôa
Coroa
Corôa
...
ALFERES
Corôa
Coroa
de
rainha
...
Rainha
do
mundo
só
a
Europa
.
(
Segue
o
segundo
côro
coro
,
cantado
pelos
comparsas
e
figuras
allegoricas
alegóricas
,
depois
a
pequena
canção
de
Lysia
,
côro
coro
e
finalmente
a
dança
.
O
carro
retira
)
.
SEGUNDO
CORO
Lá
distante
,
distante
,
distante
,
Os
eccos
ecos
da
fama
bem
idos
resôem
ressoem
Portugal
,
Portugal
triumphante
triunfante
Teus
fastos
de
gloria
glória
o
mundo
povôem
povoem
.
HOMENS
Sus
!
Avante
!
Que
a
patria
pátria
dos
Gamas
,
Ardentes
no
peito
Seus
brios
são
chammas
chamas
MULHERES
Sus
!
Avante
!
Que
o
solio
sólio
das
artes
Brilhante
ora
ostentas
,
Com
o
mundo
repartes
.155
LYSIA
I
Como
alva
cecêm
cessem
Que
na
sesta
ardente
Murcha
de
repente
,
Ja
Já
se
não
sustem
;
II
Igneo
Ígneo
meteoro
Lysia
desfallece
desfalece
;
Estala-lhe
o
chôro
choro
,
Gemendo
estremece
III
E
vêl-a
vê-la
pendida
Hirta
,
semi-morta
semimorta
,
Que
a
Parca
lhe
corta
Os
fios
da
vida
.
IV
Eis
tuba
celeste
Resôa
Ressoa
,
annuncia
anuncia
,
Lysia
reviveste
Mil
annos
anos
n’um
num
dia
!
CÔRO
CORO
Portugal
!
tu
Tu
que
a
face
da
terra
Por
sec’los
séculos
cobrirás
de
sombra
infinita
Eis
surge
!
Teu
somno
sono
desterra
,
Que
o
sol
de
taes
tais
dias
heroes
heróis
resuscita
ressuscita
!156
SCENA
CENA
ULTIMA
ÚLTIMA
A
Scena
cena
scena
enche-se
novamente
.
BENEFICIADO
,
SEUS
AMIGOS
JOAQUIM
MACHADO
,
BARTHOLOMEU
,
ETC.
,
e
logo
O
MARQUEZ
MARQUÊS
,
de
casaca
,
JUIZ
DO
POVO
,
FIDALGOS
,
GENERAES
GENERAIS
,
CASACA
,
ENSAIADOR
,
ETC
.
Começa
a
anoutecer
.
CASACA
(
Ao
ensaiador
.
—
aponta
Aponta
)
A
cara
do
meu
compadre
é
aquillo
aquilo
.
Exactissimo
Exatíssimo
.
ENSAIADOR
Nem
pintado
.
E
El-rei
tambem
também
.
CASACA
Mas
ainda
acho
mais
perfeita
a
de
meu
compadre
.
ALFERES
(
A
D.
Dom
Braz
)
E’
É
noite
.
Agora
,
já
não
ha
há
que
duvidar
.
D.
DOM
BRAZ
Tudo
!
ALFERES
Pois
ainda
!
D.
DOM
BRAZ
Ainda
!
ALFERES
Ainda
não
vê
?
D.
DOM
BRAZ
Vejo
.
ALFERES
Então
?
D.
DOM
BRAZ
Nem
todos
podem
ser
como
S.
São
Thomé
.
Vejo
mas
não
creio
.157
MARQUEZ
MARQUÊS
(
A
Machado
e
Bartholomeu
)
Parabens
Parabéns
.
Felicito-os
pelos
seus
despachos
.
(
A
Machado
)
Mercê
do
habito
hábito
de
Christo
Cristo
,
com
sua
tença
...
(
A
Bartholomeu
)
Carta
patente
de
tenente-geral
.
Se
ha
há
grande
honra
em
merecer
o
premio
prêmio
,
ha
há
maior
injustiça
em
o
negar
.
Ambos
são
dignos
da
patria
pátria
,
o
vassalo
que
a
illustra
ilustra
com
suas
obras
e
o
rei
que
devidamente
as
galardôa
galardoa
.
Se
mau
fructo
fruto
tem
dado
,
ás
às
vezes
,
esta
nossa
boa
terra
portugueza
portuguesa
,
não
foi
do
solo
que
é
fertil
fértil
,
só
do
cultivador
devia
ser
.
A
indole
índole
d’um
dum
d’
um
povo
inteiro
é
constante
como
a
eternidade
;
a
d’um
dum
d’
um
rei
variavel
variável
,
porque
é
homem
.
(
Ouve-se
uma
girandola
de
foguetes
.
Cae
Cai
o
panno
pano
do
arco
.
Todos
se
retiram
,
excepto
exceto
o
Marquez
Marquês
que
fica
,
como
que
esperando
,
e
depois
vem
mais
á
à
frente
e
com
orgulhoso
enthusiasmo
entusiasmo
)
Oh
!...
! ...
!
...
Ide
agora
senhores
embaixadores
,
ide
dizer
aos
vossos
soberanos
,
o
que
acabaes
acabais
de
presenciar
.
Ahi
Aí
tendes
em
breve
quadro
,
o
que
são
hoje
a
industria
indústria
e
artes
em
Portugal
.
Desenhos
,
modelos
,
fundições
,
aparelhos
e
gallas
galas
de
toda
a
especie
espécie
...
houve
Houve
braços
e
intelligencia
inteligência
para
tudo
!...
! ...
!
...
Ainda
ha
há
vinte
annos
anos
,
sorrieis
sorríeis
com
desprezo
,
ao
contemplar
o
leão
moribundo
,
e
já
hoje
vos
faz
inveja
e
receio
!
Ainda
ha
há
vinte
annos
anos
só
nos
viamos
víamos
em
espelhos
de
Veneza
,
e
já
hoje
Portugal
é
espelho
,
onde
não
só
Veneza
mas
a
Europa
inteira
se
está
mirando
!
(
Comovido
)
Terra
...
minha
terra
abençoada
!
Consente
,
n’este
neste
dia
de
todos
os
meus
dias
,
o
nobre
orgulho
,
de
quem
ha
há
tanto
se
disvella
desvela
por
te
ver
engrandecida
!
(
Pausa
.
—
Com
orgulho
nobre
e
como
em
extasi
êxtase
.
—
Começam
as
salvas
ao
longe
)
Oh
!...
! ...
!
...
Agora
que
venham
.
—
Deponham-me
,
expulsem-me
,
arranquem-me
aquelle
aquele
busto
para
apagar
a
ultima
última
prova
do
que
fui
...
nem
assim
o
conseguirão
.
Nunca
!
E’
É
o
grito
da
consciencia
consciência
,
que
n’este
neste
momento
solemne
solene
me
parece
ouvir
,
similhando
semelhando
voz
de
Profeta
inspirado
pela
divindade
!...
! ...
!
...
A
memoria
memória
do
Marquez
Marquês
de
Pombal
,
como
ministro
,
como
portuguez
português
...
mesmo
depois
de
submergida
a
ultima
última
pedra
das
ruinas
ruínas
de
Portugal
viverá
ainda
na
Historia
História
do
Mundo
!
(
Fica
em
profunda
e
solemne158
solene
meditação
.
—
A
musica
música
rompe
.
—
Ouvem-se
mais
perto
as
salvas
das
embarcações
—
Sobe
o
panno
pano
do
arco
apparece
aparece
a
praça
illuminada
iluminada
e
pouco
depois
cae
cai
o
panno
pano
de
bocca
boca
bocca
.
.
)
)
(
FIM
DO
QUINTO
E
ULTIMO
ÚLTIMO
ACTO
ATO
)